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CAPÍTULO IV: Suplícios particulares a sete espécies de pecadores

1° Tormentos dos ladrões.

A serva de Deus viu homens que estavam amarrados com cordas negras, por meio das quais os demônios os puxavam para cima; depois disso, os deixavam cair no fogo. Em seguida, os desciam em um poço de água gelada; de lá os faziam passar para um lago de chumbo derretido, onde os forçavam a beber uma horrível mistura de fel, piche e enxofre; finalmente, os jogavam em um covil de bestas ferozes. Ora, foi dito à santa que essas tristes vítimas eram os ladrões.

2° Tormentos dos filhos desnaturados.

Sempre houve na terra filhos detestáveis que, em vez de honrar seus pais, só tiveram por eles afastamento e desprezo, tornando-os excessivamente infelizes por sua insubordinação, seu mau caráter e suas violências. Ora, Francisca os viu em um imenso tonel, guarnecido de navalhas, e onde se encontravam serpentes ferozes. Os demônios rolavam essa terrível máquina, e as pobres vítimas que ela continha eram mordidas pelas serpentes e dilaceradas pelas navalhas. Foi observado à bem-aventurada que esses culpados e os outros não permaneciam sempre no inferno que lhes era designado. Do inferno inferior eles passavam às vezes para o inferno superior ou para o intermediário, ou destes para o mais baixo. Tendo desejado saber a razão, foi-lhe dito que era para sofrer o suplemento de penas devido às circunstâncias mais ou menos agravantes de seus pecados.

3° Tormentos daqueles que foram infiéis ao seu voto de castidade.

A posição desses infelizes era terrível. Os demônios os mergulhavam ora em um fogo ardente, onde corriam em fusão o piche e o enxofre, ora em um banho de água gelada; outras vezes os apertavam entre duas pranchas de ferro, armadas de pregos afiados, e perfuravam seus flancos com forcados. Enfim, para adicionar o insulto aos seus suplícios, não cessavam de lhes reprovar os crimes que haviam cometido.

"Lembrem-se", diziam-lhes, "de suas impurezas sacrílegas: esses prazeres, tão logo passados, lhes custam caro agora. Lembrem-se de tantos sacramentos que profanaram, e que só serviram para tornar sua condenação mais terrível".

4° Tormentos dos perjuros.

Eles tinham bonés de fogo na cabeça; suas línguas eram arrancadas, e suas mãos cortadas.

5° Tormentos dos detratores.

Cada um deles era entregue a uma víbora de sete cabeças. Falo da forma que havia tomado o demônio especialmente encarregado de atormentá-lo. Ora, eis para que lhe serviam suas sete bocas. Com a primeira, ele arrancava a língua do paciente; com a segunda, ele a comia; com a terceira, ele a cuspia no fogo; com a quarta, ele a retomava e a devolvia ao culpado; com a quinta, ele lhe furava os olhos; com a sexta, ele lhe arrancava o cérebro por uma orelha, e com a sétima, enfim, ele devorava suas narinas. Além disso, com as unhas de suas mãos, ele lhe dilacerava o corpo.

6° Tormentos das virgens loucas.

Francisca viu essas almas que, muito ciosas de conservar sua virgindade corporal, pouco cuidado tinham com a pureza de seu coração. Os demônios as flagelavam cruelmente com correntes de ferro em brasa.

7° Tormentos das viúvas viciosas.

Elas estavam amarradas aos galhos de uma enorme macieira, com a cabeça jogada para trás, e os demônios as faziam comer maçãs cheias de vermes. Além disso, dragões terríveis, enlaçando-se a elas, lhes dilaceravam o coração e as entranhas, enquanto a multidão de demônios não cessava de lhes reprovar sua má vida.

8° Tormentos das mulheres idólatras de sua beleza.

Elas tinham como cabeleira serpentes que lhes mordiam cruelmente o rosto, enquanto outros demônios enfiavam alfinetes em brasa em todas as partes de seu corpo; e, para aguçar os remorsos da consciência, não cessavam de lhes dizer:

"Vocês fizeram nosso ofício na terra, é justo que sejam associadas a nós durante a eternidade. Façam agora sua toalete nessas chamas".

Essas almas respondiam com blasfêmias horríveis a esses insultos de seus inimigos.