UMA OBRA DE VISIONÁRIO
Quando deixou a Sociedade Teosófica de Madame Blavatsky e Annie Besant para fundar o movimento antroposófico, Rudolf Steiner não abandonou completamente as noções orientais das quais estava impregnado. Foi assim, por exemplo, que ele conservou, em seu novo sistema, a lei do KARMA (lei do encadeamento das consequências), a da MAIA (lei da ilusão universal) e a da REENCARNAÇÃO das almas. Ele se contentou em adicionar alguns elementos "crísticos" que empreendeu harmonizar com suas bases orientais. E começou a falar de Jesus de Nazaré com uma vibrante admiração. Seu lirismo é particularmente intenso quando chega a se expressar sobre o Gólgota:
"Assim, quando a cruz se ergueu sobre o Gólgota e o sangue jorrou das chagas do Cristo, um evento cósmico aconteceu, um novo centro foi criado no universo. E nós, outros homens, assistimos a esse evento, seja em nosso corpo físico ou fora dele, entre duas existências terrestres. Mas agora trata-se de compreendermos que, ao contemplar o Cristo em agonia, é ao nascimento de um novo SOL que assistimos". ("O Evangelho de São João", Éditions Triades p. 195)
A doutrina antroposófica de Steiner contém, portanto, um componente cristológico. E é esta CRISTOLOGIA STEINERIANA que gostaríamos de examinar aqui. O ardente proselitismo que demonstrou dirigiu-se aos cristãos, não para confirmá-los em sua fé, mas, ao contrário, para desviá-los da Igreja e fazê-los adotar sua mistura de cristianismo, hinduísmo e também ocultismo. A Igreja, repete ele, traiu sua missão; ela deformou a mensagem de seu fundador; está em plena decomposição; seu tempo acabou e agora é preciso substituí-la. Pois Steiner também participa da disputa. E é justamente a vocação da Sociedade Antroposófica renovar o cristianismo moribundo.
Basta ler alguns capítulos das obras cristológicas de Rudolf Steiner para perceber que não se trata de um trabalho de crítica histórica ou de discussão doutrinária. As noções novas que ele traz, não as deve à sua erudição, mas à sua mística. Ele fez uma obra de visionário. É em sua CLARIVIDÊNCIA que ele vai buscar. Pois, como vimos em nossos dois capítulos anteriores, ele pacientemente educou em si uma faculdade mental que lhe permite ver, a partir de seu "olhar interior", as forças espirituais (ou que ele crê serem espirituais) que estão em jogo na História. Ele evoca na tela de sua "clarividência" as cenas evangélicas das quais deseja obter uma compreensão profunda. E é baseando-se nessas espécies de visões que ele estabelece seu novo evangelho e sua nova doutrina.
Em suma, ele se comporta como o fazem os místicos cristãos, como São Vicente Ferrer, Santa Hildegarda, Maria de Ágreda ou Catarina Emmerich... (para citar apenas um pequeno número), com a diferença de que os visionários católicos, iluminados por uma luz divina, apenas confirmam ou completam os textos canônicos, "na analogia da fé", enquanto Steiner acumula as inovações e invenções mais extravagantes. Aliás, saberemos a origem de sua clarividência quando tivermos examinado seus frutos.