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SALVAGUARDA

Uma tal ginástica de espírito é eminentemente traumatizante. O exercício permanente dessa singular mística leva a fazer o mundo ambiente sofrer uma perpétua INVERSÃO. O que o homem comum considera o lado certo, o iniciado considera O AVESSO. Para ele, ater-se ao testemunho dos sentidos é ver apenas o avesso da cena. Não se vê o mundo em sua verdadeira essência, pensa ele, a não ser que se observe sua radiografia profunda na tela do "olho espiritual" ou órgão da clarividência. O antroposofista encontra-se, portanto, colocado entre duas visões do mundo: a visão sensorial, que ele acredita ser ilusória, e a visão dita "espiritual", que ele acredita ser essencial e superior. Há verdadeiramente motivos para ter vertigem e até mesmo para enlouquecer; aliás, é o que acontece com bastante frequência. Steiner é o primeiro a ter plena consciência disso. E, no entanto, é um perigo ao qual ele submete deliberadamente seu discípulo.

Por que correr tal risco?

Colocamos a questão, mas não a responderemos, pelo menos por enquanto. Rudolf Steiner pensa, é certo, que vale a pena correr esse risco, dada a excelência do mundo "espiritual e superior" com o qual o iniciado é posto em contato. Não queremos aqui iniciar a discussão sobre a verdadeira natureza desse mundo pretensamente "espiritual e superior".

Lembremos aqui que ele é, na realidade, constituído apenas pela franja vibratória última da matéria. E acrescentemos a isso o agravante de que verdadeiros espíritos, mas espíritos decaídos, vêm na maioria das vezes se misturar a essa franja ondulatória material, da maneira como os morcegos se agarram aos nossos cabelos.

Os maus espíritos vêm parasitar essas vibrações sutis, o que explica, de fato, a impressão de espiritualidade que elas produzem. Mas só poderemos aprofundar o problema durante um exame discriminativo aprofundado da mística verdadeira em comparação com a falsa. É o que faremos um dia.

Resta que Steiner está consciente do perigo de vertigem e de loucura, e que ele corre o risco mesmo assim. Mas para diminuir ao máximo esse risco, ele vai erguer uma SALVAGUARDA em torno de seu discípulo em exercício. Ele estabelece toda uma série de precauções psicológicas nas quais se mostrou um PEDAGOGO GENIAL.

O estabelecimento de sua salvaguarda baseia-se na distinção entre a imaginação e o olho espiritual. A imaginação produz fantasmas irreais e diferentes de um sujeito para outro, enquanto o órgão da clarividência percebe entidades que são as mesmas para todos os observadores. Mantendo firme a objetividade dos dados do olho espiritual, ele repelirá os da imaginação. É ela, diz ele, a grande culpada, a grande responsável pelos acidentes. É ela que faz todo o sistema descarrilar. A precaução primeira é, portanto, calar a imaginação: "Não se deve cessar um instante de reforçar o BOM SENSO que distingue a verdade da ilusão. Durante todos esses exercícios, não se deve perder um único minuto o domínio consciente de si mesmo. Deve-se pensar com tanta segurança como se se tratasse das coisas e dos acontecimentos da vida cotidiana. Seria lamentável cair em um estado próximo da alucinação. As ideias devem permanecer claras, para não dizer frias, e isso sem falhas. Se esses exercícios fizessem perder o EQUILÍBRIO INTERIOR, e se impedissem de julgar tão sãmente as coisas da vida comum como se fazia antes, uma falta muito grave teria sido cometida". (p. 82)

A salvaguarda de Steiner é, portanto, uma desconfiança sistemática da imaginação aliada, é claro, em contrapartida, a uma confiança absoluta na objetividade do olho espiritual. Mas ele não se contenta com isso; acrescenta outra precaução: a LENTIDÃO e a PROGRESSIVIDADE do treinamento. Ele retorna a essa precaução ainda mais frequentemente do que à primeira. É preciso, insiste ele, proceder por pequenas etapas e refazer incansavelmente os mesmos exercícios para que "tudo corra sobre rodas", como se diz hoje em dia. Ora, é no estabelecimento desses exercícios progressivos que Steiner deu provas de um verdadeiro gênio didático. Ele copiou certos procedimentos das outras escolas de ocultismo, é claro, mas o que acrescentou de sua própria lavra faz dele um "mestre".

Um MESTRE DA FALSA MÍSTICA.