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O BATISMO-ENCARNAÇÃO

Jesus de Nazaré agora completou sua preparação. Mas é preciso saber que ele será apenas o portador (poder-se-ia dizer também o vetor) de uma personalidade superior a ele, esta "Entidade crística" que também terminou sua marcha de aproximação em direção à terra.Terra. Esses dois seres, um terrestre, o outro celeste, estão prontos agora para entrar em contato. Este contato ocorrerá sob a forma de uma "TOMADA" de Jesus de Nazaré pela Entidade crística. E esta tomada se realizará no momento do Batismo no Jordão:

"No momento em que o ser humano Jesus de Nazaré atinge o ponto culminante de seu desenvolvimento, de modo que seu corpo humano é a expressão de seu espírito, nesse momento ele atinge a maturidade necessária para receber o Cristo no Batismo de São João". ("O Evangelho de São João em suas Relações com os outros Evangelhos", p. 32)

"A época em que, por assim dizer, o Cristo se encarna em uma personalidade terrestre é marcada distintamente nos quatro Evangelhos: é o Batismo no Jordão. No momento caracterizado, no Evangelho de São João, pela descida do Espírito sobre Jesus sob a forma de uma pomba, o Cristo nasce na alma de Jesus de Nazaré como um novo EU SUPERIOR". (p. 42-43).

"A Entidade do Cristo desceu das alturas espirituais no momento do Batismo, ela permaneceu no corpo de Jesus de Nazaré." (p. 131).

Para dar lugar a este "Eu superior" que o "tomou" e do qual se tornou o portador, foi preciso que Jesus de Nazaré fizesse o vazio em si. Foi preciso que ele fizesse o sacrifício de seu próprio Eu; pois houve ali, assegura-nos Steiner, um verdadeiro SACRIFÍCIO, anunciador daquele da Cruz:

"Se o Cristo pôde vir habitar um corpo, é porque este corpo lhe foi oferecido em sacrifício". (ib. p. 138)

"Este sacrifício consiste no fato de que, por volta dos trinta anos, o Eu de Jesus de Nazaré pode deixar o corpo físico, o corpo etérico e o corpo astral que ele purificou e enobreceu. Nada é melhor nem mais puro que este triplo receptáculo humano. No momento do Batismo, neste receptáculo abandonado pelo Eu de Jesus de Nazaré, desce a ENTIDADE que ainda não passou por nenhuma encarnação anterior, a Entidade crística". (ib. p. 151)

Ora, não há dúvida de que, no espírito de Steiner, a entidade crística se identifica com o Logos, como vimos. Pode-se dizer, portanto, que, segundo ele, a encarnação só ocorreu realmente no Jordão. O personagem de Jesus Cristo que se afasta do Jordão após este evento memorável é TOTALMENTE OUTRO que o Jesus de Nazaré que dele se aproximara algumas horas antes. Houve ali duas personalidades diferentes.

Estamos aqui na presença de uma noção gnóstica muito antiga e muito conhecida, contra a qual Santo Irineu já se indignava. Em seu "Tratado das Heresias"Heresias" (Livro III, Iª parte, cap. 2), falando do Batismo de Jesus, ele se expressa assim:

"Pois não houve então uma descida de um pretenso Cristo sobre Jesus, e não se pode pretender que um tenha sido o Cristo e outro Jesus. Mas o Verbo de Deus, o Salvador de todos e o Senhor do céu e da terra, este Verbo que não é outro senão Jesus, assim como já mostramos por ter revestido uma carne e ter sido UNGIDO do Espírito pelo Pai, tornou-se Jesus Cristo".

Portanto, no Jordão, segundo a sã doutrina (aqui expressa por Santo Irineu), não houve "tomada", nem "substituição de Eu", nem "encarnação". O que foi manifestado publicamente foi uma "unção", aquela que Isaías havia profetizado.

Mas então, se a noção que encontramos em Steiner já é uma noção gnóstica, como se explica que ele nos a apresente como oriunda da clarividência?

De duas, uma:

  • ou bem suas leituras gnósticas influenciaram, sem que ele soubesse, suas observações clarividentes (as quais não são, portanto, tão objetivas quanto ele declara);
  • ou bem o inspirador místico de Steiner é o mesmo espírito que já inspirava os gnósticos e que repete no século XIX o que ensinava no século III.

Que julgamento fazer sobre tudo isso? Não falemos desta acumulação de inverossimilhanças históricas; elas bastam, por si sós, para desacreditar o "visionário" que pretende tê-las observado com seu olho interior.

Restam algumas enormidades teológicas ainda mais inverossímeis. Primeiro, não se trata de uma verdadeira encarnação; é, no máximo, uma espécie de incorporação por troca de "Eu" (operação singular, aliás). E depois, o corolário obrigatório desta pseudo-encarnação é o desaparecimento da "Maternidade divina" de Maria; tal é talvez até o objetivo secreto de todas essas invenções. Notemos também que, segundo esta contagem, o personagem de "Jesus Cristo", sob sua forma completa, teria vivido sobre a terra apenas três anos, entre o Batismo e a Crucificação.

A terminologia cristã pode subsistir nas obras cristológicas de Steiner, ela designará doravante apenas noções bizarras, totalmente estranhas ao cristianismo, mas que, em contrapartida, se aparentam diretamente à mitologia gnóstica.