COSMOLOGIA GNÓSTICA
É tempo de examinar enfim a que resultados chegaram todos esses processos psicológicos de gestação, que construção doutrinária e, mais particularmente, que cristologia eles permitiram elaborar.
Steiner estima que foram os gnósticos que viram corretamente quanto às origens do universo:
"Experimenta-se hoje um verdadeiro alívio quando se pode imaginar que existia na origem uma substância muito sutil de onde saíram tanto o espiritual quanto o físico". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 28)
Tocamos aqui um dos elementos essenciais da cosmogonia steineriana, a qual se molda assim na cosmogonia gnóstica: na origem de tudo encontra-se uma SUBSTÂNCIA ÚNICA, semi-espiritual e semi-física, de onde saíram posteriormente tanto o mundo dos corpos quanto o mundo dos espíritos. Tendo uma origem comum, o espírito e a matéria não se distinguem essencialmente, ontologicamente diriam os metafísicos. Pode-se reencontrar traços de espírito na matéria e inversamente.
Qual é a origem dessa substância primitiva e única, desse constituinte universal, virtualmente material e espiritual ao mesmo tempo?
Aqui também Steiner segue a lição dos gnósticos:
"Pois a Gnose, no ponto de partida de sua cosmogonia, não coloca nada que se possa chamar de matéria. Para ela, a origem do mundo se encontra em Deus-Pai. Emanando de alguma forma dele, reina o que a alma pode alcançar quando, rejeitando toda representação material, ela desce em si mesma: o silêncio, o silêncio infinito, anterior ao tempo e ao espaço. É este casal, formado pelo PAI do universo e pelo SILÊNCIO preexistente ao espaço, que os gnósticos contemplavam". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 99)
Steiner adota, portanto, essencialmente o EMANATISMO GNÓSTICO. Contudo, ele o submete ao controle da clarividência, a qual permite corrigi-lo para modernizá-lo:
"A ciência espiritual do século XX deverá naturalmente ir mais longe que a Gnose. Procuramos apenas nos colocar em seu ponto de vista". (ib. p. 30).
O que ele entende pela expressão "a ciência espiritual do século XX"?
É o nome que ele dá anonimamente à sua própria técnica de clarividência. E se ele a declara científica é porque, segundo ele, ela constitui uma prática experimental que não tem nada de subjetivo e que é, ao contrário, perfeitamente objetiva. Ora, vimos que essa pretensão é verdadeira em parte, mas apenas em parte.
A cosmogonia steineriana se desenvolve na lógica do emanatismo gnóstico:
"Da união do Pai e do Silêncio, o gnóstico via nascer o que se poderia igualmente chamar tanto de MUNDOS quanto de SERES. Destes desciam outros ainda, isso através de trinta graus. E após o trigésimo grau, a partir do trigésimo primeiro, encontrava-se o que se oferece agora aos nossos olhos". (ib. p. 29)
Em outros termos, o universo que habitamos ocupa o 31º grau abaixo do EMANANTE, do qual ele é oriundo e com o qual não apresenta, em última análise, nenhuma solução de continuidade. Uma substância primordial, físico-espiritual, repartiu-se entre dois polos, o polo material e o polo espiritual. A parte da substância primordial que se materializou deu origem a toda sorte de corpos físicos. Da mesma forma, a parte da substância primordial que se espiritualizou deu origem a uma infinidade de seres espirituais. Em particular, as almas humanas pertencem inicialmente a uma única e mesma "substância de alma":
"Esta SUBSTÂNCIA DE ALMA que devia descer dos mundos espirituais sobre a terra para ser partilhada entre as individualidades humanas". (ib. p. 54 em nota).
Tal é a cosmogonia, inspirada na Gnose, que é ensinada na Sociedade Antroposófica. Era preciso passar por ela antes de abordar a cristologia propriamente dita.