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AS RECONSTITUIÇÕES EVANGÉLICAS

Vejamos agora a clarividência em ação. Ela vai reconstituir, em uma tela interior, as cenas evangélicas das quais quer descobrir o sentido profundo. Peçamos alguns exemplos à obra de Steiner "O Evangelho de São João em suas Relações com os outros Evangelhos" (Éditions Triades).

O clarividente é

"aquele que pode realmente mergulhar tão profundamente nos eventos que ocorreram outrora na Palestina pelo mistério do Gólgota, que se confunde com eles, vê esses eventos como tangíveis diante de si, vivendo de uma vida que se comunica à própria circulação de seu sangue". (p. 13)

"Vedes por aí com que profundidade os evangelhos nos devolvem as verdades espirituais que se pode reencontrar também independentemente dos textos".

"O INVESTIGADOR ESPIRITUAL deve saber que tudo o que se encontra nos evangelhos pode ser assim reencontrado por ele". (p. 117)

"Este relato repousa inteiramente sobre uma observação clarividente, e é falso dizer que seria apenas uma alegoria ou um símbolo. É um FATO ESPIRITUAL que se desenrola na realidade no plano astral." (página 155)

"Se durante semanas e meses, talvez anos, estamos mergulhados em um sentimento de humildade universal, compreendemos o que significa o lava-pés. E todo o sentido deste evento se revela então ao discípulo como em uma VISÃO que lhe ensina que este evento realmente aconteceu. O fio do CONHECIMENTO o leva até o ponto onde toda outra prova é supérflua. Pois ele VÊ DIRETAMENTE, no mundo espiritual, a cena do Cristo no lava-pés". (p. 213)

Se agora explorarmos a obra "O Cristo e o Mundo Espiritual", encontramos as mesmas descrições da clarividência em exercício. Ela estende seu campo de aplicação às manifestações espirituais de um certo PROTO-CRISTIANISMO que teriam ocorrido na antiguidade pagã, tanto no Oriente quanto no Ocidente:

"Consideremos primeiramente os GRANDES INSTRUTORES da Índia antiga. Se, com a ajuda da clarividência, o investigador espiritual se transporta para a alma de um desses grandes instrutores..." (p. 37)

"Se, prosseguindo nossa pesquisa, nos transportarmos para as almas que viveram no tempo da civilização de Zoroastro, veríamos..." (p. 38)

O olhar interior de Rudolf Steiner é, portanto, especialmente dirigido ao estado das almas, mais especificamente às FORÇAS ESPIRITUAIS que são postas em jogo nas cenas históricas que ele se esforça por reviver. Se ele chega a falar das Sibilas, essas profetisas do antigo paganismo, ele se expressa assim:

"Quando, pelos meios da ciência espiritual, se reconstitui o que aconteceu, vê-se cada uma dessas mulheres como possuída por seu fanatismo, surgir diante da multidão que ela força a escutar... "Enfim, o próprio cristianismo foi tocado por essa influência... "Assim, mesmo na época em que o cristianismo se espalhava, alguns, com o olhar ainda voltado para as Sibilas, levam em conta o que elas profetizam: a destruição da ordem estabelecida e a vinda de uma nova ordem no mundo. Seria preciso estar cego pelas concepções do racionalismo moderno para não ver que influência penetrante as Sibilas exerceram no mundo onde nascia o cristianismo". (p. 40-41)

Os Éons das mitologias gnósticas, eles mesmos, tornam-se visíveis ao olhar interior:

" ... os trinta Éons que a clarividência permite ver escalonarem-se de grau em grau em direção a uma perfeição cada vez maior". (p. 29)

"As almas dotadas hoje de clarividência poderiam experimentar uma impressão muito grande se, remontando pelo pensamento puro à época em que esta se aprofundou, e fazendo abstração de qualquer outra coisa, elas refletissem sobre a maneira como nasceram, no mundo greco-romano, as IDEIAS das quais nos nutrimos ainda hoje". (p. 27)