A PROVA DO FOGO
Trata-se aqui muito mais de uma experiência do que de uma prova propriamente dita. Notemos que não é uma experiência no sentido científico da palavra, mas uma "experiência mística". Steiner tem perfeita consciência disso e o especifica nestes termos: "A primeira consiste em adquirir, sobre as propriedades materiais dos corpos inanimados, depois das plantas, dos animais e enfim do homem, visões MAIS exatas do que as visões habituais. Não entendemos por isso o que hoje se chama conhecimento científico. Não se trata de ciência, mas de VISÕES." (p. 99)
Vejamos, então, o que essas visões ensinam ao candidato: "O candidato à iniciação aprende a reconhecer de que maneira as coisas da natureza e os seres vivos se manifestam ao olho e ao ouvido espirituais, de sorte que, em certa medida, esses fenômenos aparecem ao observador como desvelados e nus". (p. 99)
Já notamos que, durante a etapa preparatória, o estudante se exercitava em perceber SIMULTANEAMENTE a visão física e a visão oculta e colorida. Ele cultivou por muito tempo essa dupla visão. Desta vez, durante a prova que lhe é proposta, ele deve se esforçar para suprimir a visão física para deixar aparecer apenas a visão oculta. Ele deve chegar a ver apenas as imagens que lhe são fornecidas pelo olho espiritual (ou pelo ouvido espiritual para os sons).
"O que ele vê e o que ouve se subtrai ao olho e ao ouvido físicos. Para a visão sensorial, eles estão cobertos por um véu. Esse véu cai, diante do candidato, seguindo um processo que se pode chamar de fenômeno espiritual de CONSUMAÇÃO. É por isso que se nomeia esta primeira provação A PROVA DO FOGO." (p. 99)
A casca física e sensorial dos seres desapareceu. Foi queimada. Resta a visão daquilo que o discípulo toma pela essência profunda das coisas e que não é, na realidade, senão sua franja vibratória última. Seu órgão de clarividência está povoado por essas entidades iridescentes cujas cores características ele já conhece bem.
É então que se produz um novo fenômeno psicológico muito curioso, sob o efeito, aliás, da vontade do estudante: essas entidades se tornarão para ele como as letras e as palavras de uma nova língua, que não se deixará de declarar "espiritual", é claro, "na alma onde cresce o conhecimento clarividente, objetivo, uma faculdade se desenvolve, uma força a impele a decifrar os fenômenos e os seres espirituais como os caracteres de uma escrita (p. 101).
Essa faculdade e essa força são ainda melhor descritas na passagem seguinte: "Os signos da escrita oculta não são arbitrariamente compostos, mas conformes às forças que agem no universo. Aprende-se por eles a linguagem das coisas. O candidato constata logo que os signos que descobre correspondem às figuras, às cores, aos sons... que aprendeu durante a preparação e a iluminação. Ele se dá conta de que ainda só fez soletrar o alfabeto. Somente agora ele vai começar a ler nos mundos superiores". (p. 102)
Assim, pela consumação de seu "véu sensorial", as coisas e os seres do mundo aparecem como as sílabas e as palavras de uma nova linguagem.