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A Primeira Chaga

A CHAGA na MÃO ESQUERDA DA SANTA IGREJA: A DIVISÃO ENTRE O POVO E O CLERO no culto público

“TODOS OS FIEIS, clero e povo, representam e formam na Igreja a maravilhosa unidade indicada por Cristo quando diz: "quando dois ou três estão reunidos em meu nome, [de acordo com tudo o que solicitarem][3], EU ESTOU NO MEIO DELES".

Rosmini tinha uma opinião muito elevada sobre a dignidade dos leigos. Os "fieis", para Rosmini, são o clero e os leigos juntos, representando e formando na Igreja a maravilhosa unidade indicada por Cristo quando diz: "quando dois ou três estão reunidos em meu nome, [de acordo com tudo o que pedirem], eu estou no meio deles". Cristo pede a unidade de espíritos e corações, o clero e o povo agindo "como um só homem", assim como a Escritura diz a respeito dos antigos israelitas.

Rosmini escreve sobre a dignidade dos leigos: "HÁ SEMPRE ENTRE ELES HOMENS E MULHERES PRUDENTES E SANTOS, TENDO O SENSO DE CRISTO. O POVO FAZ PARTE DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO; UNIDOS A SEUS PASTORES E INCORPORADOS À CABEÇA, FORMAM UM SÓ CORPO. NO SEU BATISMO E NA SUA CONFIRMAÇÃO, ELES RECEBERAM A MARCA DE UM CARÁTER INDELÉVEL E SACERDOTAL... O/ A CRISTÃO(Ã) ORDINÁRIO POSSUI UM SACERDÓCIO QUE LHE DÁ UMA DIGNIDADE, PODERES ESPECIAIS E UM SENTIDO DE ESPIRITUALIDADE. O CLERO TEM SEUS DIREITOS, MAS OS CRISTÃOS TAMBÉM. POR EXEMPLO, O CRISTÃO PODE E DEVE OPOR-SE A UM BISPO QUE PROFESSE ABERTAMENTE A HERESIA. SEU SENTIDO DO SOBRENATURAL LHE ENSINA ISSO E LHE DÁ O DIREITO DE O FAZER. OS PARES DA IGREJA ENSINARAM QUE A PARTICIPAÇÃO DO POVO NA ESCOLHA DE SEUS PASTORES VEM DA LEI DIVINA...".  Rosmini escreveu isso em 1832, sozinho entre todos os escritores cristãos da época.

Os primeiros Cristãos, Apóstolos e fiéis, estavam "unidos de coração e espírito", agiam como se fossem um só Corpo. Por quê? Eles acreditavam nas mesmas verdades, participavam totalmente, corpo e alma, de suas liturgias, da Eucaristia e dos Sacramentos. Cada um compreendia o que devia ser dito e feito.

JESUS veio para salvar a pessoa em sua totalidade, corpo e alma. O Evangelho apela a ambos os elementos da natureza humana, o espírito e o coração. Os Apóstolos foram verdadeiramente enviados para "pregar", para instruir o povo. Mas eles não fundaram uma escola de filosofia, nem realizaram milagres apenas para provar que o que diziam era a Verdade, nem deram exemplos de grande virtude para convencer seus ouvintes. Se tivessem apresentado o Cristianismo simplesmente como testemunho, como verdades a crer, não teriam tido tanto êxito. Seu apelo teria sido grandemente diminuído.

O que fizeram os Apóstolos para salvar a totalidade da pessoa, inteligência e sentimento, espírito e coração, e submeter o mundo inteiro a uma cruz?

O mandamento de Jesus foi: "Vão pelo mundo e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Seu mandamento era "falar" à inteligência através da pregação, regenerar a vontade, tocar o coração, falar aos sentimentos "batizando", pelos Sacramentos, pelos atos de culto do Novo Testamento. Os Sacramentos eram os ritos misteriosos e as obras poderosas pelos quais os Apóstolos reformaram o mundo inteiro. "Os Sacramentos eram as palavras e sinais de Deus, criando uma nova alma, uma nova vida, novos céus e uma nova terra. Os Apóstolos acrescentaram à sua pregação o culto Católico, que consiste principalmente no Sacrifício da Missa, nos Sacramentos e nas orações que os expressam".

Os Apóstolos acrescentaram orações, cerimônias e ritos nobres, mas não trouxeram nada que fosse desprovido de significado.

O culto não era um espetáculo, o povo não estava lá para ver, mas para constituir um elemento importante do culto no templo de Deus. O culto sublime da Santa Igreja é assim um ato comum do clero e do povo juntos.

“O Povo – escreve Rosmini – deveria ser atuante assim como ouvinte, enquanto que, na verdade, ele é, na maioria das vezes, presente à Missa como as colunas e as estátuas do edifício”. Eles deveriam ter uma compreensão profunda dos mistérios, orações, símbolos e ritos que constituem o culto Católico. “A separação dos leigos da Igreja durante o culto, devido à falta de compreensão, é a primeira dessas chagas sangrentas que escorrem do Corpo Místico de Jesus Cristo”.

Rosmini rapidamente tranquiliza aqueles que, sem que haja culpa de sua parte, simplesmente não compreendem o que se passa na Igreja, dizendo ao Espírito "AJUDE-NOS NA NOSSA FRAQUEZA. PORQUE NÃO SABEMOS ORAR COMO DEVE SER. MAS O PRÓPRIO ESPÍRITO INTERCEDE POR NÓS COM GEMIDOS INEXPRIMÍVEIS". A voz do povo simples, sem educação, se for impulsionada pelo Espírito, penetra até o céu. Mas o culto é um ato comum do clero e do povo, e juntos nos aproximamos do trono da graça, é com a mesma compreensão de nossa parte que o fervor, a veneração e a devoção aumentam. O amor cresce entre o clero e o povo, e dentro do povo.

Quais são as razões para tantas divisões dolorosas e tristes na Igreja?

  1. A causa primeira do muro de divisão é a falta de instrução viva entre os Cristãos. Cristo diz para "pregar" primeiro: o povo deve receber as verdades dos Evangelhos, ser educado na fé, nas Escrituras, nas tradições e na moral. Em seguida, Ele diz: “batizem-nos”, os Sacramentos são simplesmente as realidades poderosas do que foi ensinado. O ensino deve ser complementado e ganhar vida na participação no culto Católico. Rosmini é defensor de catecismos mais longos, pois eles são mais do que meras repetições de fórmulas ou resumos abstratos. A Fé é uma coisa viva, e a transmissão da verdade deve andar de mãos dadas com a experiência do poder sobrenatural que emana do culto. Não pode haver plena participação na Liturgia sem um sólido conhecimento das verdades da fé. Essa profunda penetração, que Rosmini deriva da Igreja de tempos primitivos, foi perdida há muitos séculos; os cursos de RCIA (Rito de Iniciação Cristã para Adultos) e todas as abordagens modernas do catecumenato reforçam o vínculo íntimo entre catequese e culto.

  2. A segunda razão para a divisão é que o latim, usado no culto, não é mais a língua do povo. A compreensão das palavras é essencial para apreender o poder dos Sacramentos; povo e clero não podem orar de um só coração e de um só espírito se as palavras usadas na oração não são compreendidas. O fim do latim como língua viva é devido às invasões bárbaras e a outros fatores, mas é um fato.

Rosmini foi expressamente convidado pelo Papa a rejeitar a ideia que lhe era atribuída, de ser a favor da introdução do vernáculo na liturgia. Rosmini apresentou várias razões para manter o latim e não introduzir o vernáculo:

Interesse em manter a língua latina no culto:

  • O latim reflete a imutabilidade da fé.

  • O latim une muitos povos cristãos em um único rito.

  • O latim significa a unidade e a grandeza da Igreja, bem como uma fraternidade comum.

  • O latim produz uma atmosfera sobrenatural, além das palavras.

  • O latim traz a alegria de saber que povos e santos do passado oraram com as mesmas palavras e expressões que usamos.

Desvantagens do vernáculo:

  • As línguas modernas são numerosas demais e trazem divisões na Igreja.

  • As línguas modernas são variáveis e instáveis, provocando mudanças constantes nas palavras da liturgia e perturbando a assistência ao culto.

  • As línguas modernas carecem de termos precisos para conceitos teológicos elevados.

Rosmini acreditava que os sacerdotes deveriam fazer um maior esforço para fazer o povo entender a liturgia e as palavras utilizadas. Ele não era a favor da utilização do vernáculo, mas não teria objeções a sua introdução. Ele pedia uma educação aprofundada dos sacerdotes para que, sendo considerados o sal e a luz da comunidade cristã, pudessem promover incansavelmente a maior participação dos leigos na Missa e nos Sacramentos. Infelizmente, acrescentava Rosmini, a formação insuficiente do clero é a segunda chaga da Igreja.

É claro que Rosmini estaria longe de aprovar o tipo de inovações litúrgicas que, infelizmente, são muito frequentes em algumas de nossas paróquias. Ele achava que pequenas mudanças eram necessárias, apreciando imensamente a liturgia da Missa que chamamos de "tridentina". A chaga não estava na liturgia como ela era, mas no fato de que tanto os sacerdotes quanto o povo não compreendiam o que deveria ser feito e dito. Ele desejava uma liturgia "viva", uma liturgia celebrada pelos fiéis, clérigos e povo, formando "um espírito, um coração".

Rosmini foi ordenado sacerdote em 1821. Ele notou em seu diário: "A PARTIR DE AGORA EU DEVO SER UM HOMEM NOVO, VIVER NO CÉU PELO CORAÇÃO E PELO ESPÍRITO, FALAR SEMPRE COM CRISTO, DESPREZAR E FUGIR DAS COISAS DA TERRA. EU DEVO VOLTAR DO ALTAR COMO SANTO, APÓSTOLO, HOMEM DE DEUS". Santo João Bosco, a quem Rosmini ajudou em várias ocasiões, dizia dele: "EU NUNCA VI UM SACERDOTE CELEBRAR A MISSA COM MAIS DEDICAÇÃO DO QUE O PADRE ROSMINI".

Trecho da Constituição sobre a Liturgia Sagrada do Vaticano II:

“Dia após dia, a liturgia fortalece aqueles da Igreja no santo Templo do Senhor.”
“Aqueles que receberam a palavra foram batizados. Eles continuam com constância a receber o ensinamento dos Apóstolos e na comunhão da partilha do pão.”
“Essa participação pelo povo Cristão como uma 'raça escolhida, sacerdócio real, nação santa' é seu direito e seu dever em razão de seu batismo.”
“Seria vã a esperança de uma participação ativa sem que os próprios sacerdotes se tornem profundamente penetrados do espírito e do poder da liturgia.”
“Deve-se ajudar os sacerdotes a entender ainda mais profundamente do que se trata quando celebram os ritos sagrados; deve-se ajudá-los a viver a vida litúrgica e a compartilhá-la com os fiéis.”


[3] Acrescentado às próprias palavras de Cristo [Mat. 18, 20] (N. do T.)