V Seção: Do muito augusto mistério da santa Trindade
25. O mistério da Trindade... depois que foi revelado, permanece, porém, incompreensível em sua própria natureza... mas... pode-se conhecer a (existência) de uma Trindade em Deus de uma maneira, pelo menos, conjectural, com razões positivas e diretas, e demonstrativamente com razões negativas e indiretas; e que, por meio dessas provas puramente especulativas da existência de uma augusta Trindade, esta doutrina misteriosa retorna ao campo da filosofia. — Essa existência (da Santíssima Trindade) se torna uma proposição científica como as outras. — Se se negasse, viriam de todos os lados consequências absurdas abertamente... Ou convém admitir a divina Trindade, ou deixar a doutrina teosófica de pura razão incompleta não só, mas lutando de todo lado consigo mesma e dilacerada por absurdos inevitáveis, sendo, portanto, totalmente anulada.
Revelato mysterio sanctissimæ Trinitatis, potest ipsius existentia demonstrari argumentis mere speculativis, negativis quidem et indirectis, hujusmodi tamen ut per ipsa, veritas illa ad philosophicas disciplinas revocetur, atque fiat propositio scientifica sicut ceteræ: si enim ipsa negaretur, doctrina theosophica puræ rationis non modo incompleta maneret, sed etiam omni ex parte absurditatibus scatens annihilaretur.
Uma vez revelado o mistério da Santíssima Trindade, sua própria existência pode ser demonstrada por argumentos puramente especulativos, negativos, sem dúvida, e indiretos, mas, de qualquer forma, tais que, por meio deles, essa verdade é reintegrada nas conhecidas filosóficas e que dela, como de outras conhecidas desse tipo, pode-se fazer uma proposição científica. De tal forma que, se se negar, a doutrina teosófica da pura razão não apenas permanece incompleta, mas é destruída pelos próprios absurdos que dela surgiriam de todos os lados.
26. O ser nas três formas (subjetividade, objetividade, santidade, ou, de outra forma: realidade, idealidade, moralidade) é idêntico. — As três formas do ser, ao serem transferidas ao Ser absoluto, não podem ser concebidas de outra maneira senão como pessoas subsistentes e viventes (Teosofia, t. i, n. 190, 196, p. 154, 159). - A Palavra, na medida em que é objeto amado, e não na medida em que é Palavra, ou seja, objeto subsistente por si e conhecido, é a pessoa do Espírito Santo (Introdução do Evangelho segundo João, lez. 65, p. 200).
Tres supremæ formæ esse nempe subjectivitas, objectivitas, sanctitas, seu realitas, idealitas, moralitas, si transferantur ad esse absolutum, non possunt aliter concipi nisi ut persanæ subsistentes et viventes. - Verbum, quatenus objectum amatum, et non quatenus Verbum, id est objectum in se subsistens per se cognitum, est persona Spiritus Sancti.
As três formas supremas do ser, a saber, a subjetividade, a objetividade, a santidade, ou, em outras palavras, a realidade, a idealidade, a moralidade, ao serem transferidas ao ser absoluto, não podem ser entendidas de outra maneira a não ser como pessoas subsistentes e viventes. — A Palavra, na medida em que é objeto amado e não na medida em que é Palavra, isto é, objeto subsistente em si e por si conhecido, é a pessoa do Espírito Santo.
Reunimos as duas proposições referentes à Trindade, sendo a segunda uma complementação da primeira e esboçando a demonstração filosófica do mistério. A primeira contém afirmações notavelmente contrárias à doutrina católica, repetidamente proclamada, sobre a impossibilidade radical de demonstrar, de qualquer forma que seja, a existência dos mistérios propriamente ditos. Na melhor das hipóteses, uma vez revelados, pode-se afirmar apenas sua conveniência. O papel da razão em relação a eles é muito mais resolver as dificuldades que surgem sobre eles, mostrando que não implicam contradição. Veja aqui MISTÉRIO, t. x, col. 2594 e seguintes. Os documentos aos quais a proposição 25 se opõe são: concílio do Vaticano, sess. III, c. IV, De fide et ratione, e can. I, Denz.-Bannw., n. 1795, 1796, 1816; Syllabus, prop. 9, ibid., n. 1709; veja MISTÉRIO, col. 2587, 2598; Pio IX, Alocução Singulari quadam, Denz.-Bannw., n. 1642; cartas Gravissimas inter, ibid., n. 1668, 1669, 1670, 1671, 1673. Veja SEMIRACIONALISMO.
Nós não precisamos seguir Rosmini na tentativa de demonstração racional do mistério da Trindade, que ele institui na proposição 26. Essa demonstração é um esforço para adaptar as fórmulas do idealismo kantiano à doutrina católica, resumida brevemente e com precisão por diferentes documentos do magistério: In Deo omnia sunt unum, ubi non obviat relationis oppositio. Veja aqui RELAÇÕES DIVINAS, t. xiii, col. 2140. Rosmini não ignora essa doutrina; ele a professa mesmo no trecho da Teosofia de onde o Santo Ofício extraiu a proposição 26: essendo dunque quelle tre forme inconfusibili, perchè hanno UNA COTALE RELAZIONE D'OPPOSIZIONE TRA LORO. p. 159.
Mas o que está sendo criticado aqui são duas assertivas inaceitáveis. A primeira é que as formas supremas do ser, realidade, objetividade, moralidade, transferidas para o Ser absoluto, NÃO podem ser concebidas SENÃO como pessoas subsistentes. Isso renova o erro da demonstração filosófica do mistério. A segunda é que o Verbo, sob certo aspecto, não é mais o Verbo, mas o Espírito. Fórmula ininteligível, perigosa, senão formalmente herética.