Skip to main content

Os três inimigos

O homem tem três inimigos a temer: o demônio, o mundo e ele mesmo. Eles são figurados, no Antigo Testamento, pelos três inimigos de Davi: Golias, Saul e Absalão.

  • GOLIAS, o gigante armado, representa o demônio; para enfrentá-lo, Davi se muniu de cinco pedras que representam as cinco Chagas de Jesus Cristo, e ele matou Golias com a primeira; ele precisou, portanto, de uma arma sobrenatural.

  • SAUL, o "rei como os outros das nações", representa o mundo.

  • ABSALÃO, o próprio filho de Davi, que o perseguiu, representa a carne, pela qual o homem não deve se deixar dominar.

Não trataremos aqui das lutas do homem contra si mesmo, não porque as consideremos negligenciáveis, mas porque elas colocam um problema do foro interno e nosso trabalho é mais orientado para o foro externo. No entanto, estamos perfeitamente conscientes de que as derrotas individuais pesam enormemente sobre o destino das sociedades humanas. As provações que Deus envia às nações, e que formam a trama de sua história, têm sua origem primeiramente nas transgressões do foro interno. Quando remontamos a cadeia de causas de nossos males, não devemos esquecer de continuar até essa causa inicial: as derrotas dos combates interiores.

Nossa atenção será mais especialmente atraída, no foro externo, pelos outros dois inimigos: o demônio e o mundo. Existe entre esses dois inimigos uma espécie de conjuração, pois o demônio é o príncipe deste mundo. Uma das revelações mais importantes das Sagradas Escrituras, e do Novo Testamento em particular, é a revelação do Anticristo. As Escrituras nos revelam o Cristo, o Verbo Encarnado, mas também nos revelam o adversário de Cristo, especificando que o império do mundo lhe foi virtualmente entregue e que, consequentemente, ele desempenha um papel primordial na terra. Não se compreende a história da humanidade se não se entende que o império do mundo é o ponto central da competição entre esses dois personagens principais, o Cristo e o Anticristo.

_"E, levando-o para um lugar mais alto, mostrou-lhe todos os reinos da terra, em um instante. E o diabo lhe disse: a Ti darei todo esse poder e a glória destes reinos (hanc protestatem universam), porque a mim foi entregue, e a quem eu quiser eu a dou" (Lucas, IV, 5-6).

Ao falar assim, o diabo não diz nada além da verdade: todo o poder dos reinos da terra lhe foi de fato entregue, desde sua vitória sobre Adão. Tendo destronado o primeiro homem, ele virtualmente subiu ao trono que ficou vago, como acontece na ordem natural. Mas, como ele é um anjo, portanto um ser invisível, não pode reinar sobre os homens. Ele precisa delegar um representante visível e humano. É por isso que ele diz: "A quem eu quiser eu a dou". Esse representante é o possuído chamado Anticristo, que exercerá sobre a humanidade os direitos adquiridos por Satanás graças ao pecado original de Adão, mas também pelos inumeráveis "pecados atuais" dos homens.

E o diabo acrescenta:

"Portanto, se Tu te prostrares e me adorares, tudo será Teu" (Lucas, IV, 7).

O Escritor sagrado distingue o poder dos reinos e o culto a ser prestado ao diabo. É necessário manter essa distinção, sabendo que as duas coisas estão ligadas. O diabo nutre uma dupla ambição: ele quer o poder como um rei e o culto como um Deus. Por isso, Jesus, respeitando a distinção, responde dizendo que Ele não quer nem servir ao diabo como um rei, nem adorá-lo como um Deus: _

"Dominum Deum tuum adorabis, et illi soli servies."_ Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás (Lucas, IV, 8).