O Governo pela Sugestão
A maçonaria, sociedade de pensamento e congregação iniciática ao mesmo tempo, é muito bem equipada para provocar, na massa do povo, mudanças, mesmo muito profundas, desde que seja a longo prazo. Ela sabe como proceder para mudar a forma comum de pensar, como diziam os maçons do século XVIII, contanto que tenha tempo à sua frente. No exterior de si mesma, como em seu interior, ela trabalha "por influências pessoais cuidadosamente encobertas", o que exige prazos prolongados.
Mas ela é inapta ao governo direto, precisamente por causa da lentidão de seus mecanismos. Entre ela e o grande público, ela suscita toda uma rede de organismos intermediários, de associações e de PARTIDOS POLÍTICOS, que ela controla evidentemente, e que têm ambições muito menos vastas e muito mais imediatas. Os programas dos partidos são feitos de parcelas retiradas da abundante reserva da enciclopédia maçônica. Todos os partidos políticos são inspirados, à direita como à esquerda, pelo grande desígnio das lojas.
E qual é esse "grande desígnio"?
É difícil de conhecer porque nunca é expresso clara e simplesmente. É preciso extraí-lo de toda uma fraseologia pomposa. Aqui estão, no entanto, seus principais elementos:
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A República (depois a Realeza) universal.
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A Religião Universal, da qual a gnose universal, a mística universal e a Tradição universal formarão a teologia.
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A Miscigenação universal, da qual o eugenismo universal será o pretexto e fornecerá os meios.
Sobre o conjunto desse "grande desígnio", serão retirados fragmentos que serão incluídos nos programas dos partidos, das sociedades científicas e das diversas associações que ocupam o espaço entre a maçonaria e o povo.
Mas então poderíamos supor que a maçonaria é um grande laboratório de ideias, totalmente olímpico, onde poderosos filósofos ocultos e especificamente maçons elaboram doutrinas reservadas inicialmente para uso interno e que depois se difundem, do topo à base da escala iniciática, para finalmente chegar às instituições públicas. Na realidade, as coisas não acontecem assim. Não há filósofos ocultos estritamente maçônicos. O caso de Louis-Claude de Saint Martin, que foi chamado de "filósofo desconhecido", é muito especial e resulta apenas de seu comportamento pessoal; não é o caso geral.
As ideias que são debatidas na loja são extraídas do próprio grande público; elas têm uma origem exterior (diz-se "profana"). O papel da maçonaria é apenas escolher, entre as tendências de fato de uma determinada época, aquelas que devem ser estimuladas e aquelas cuja propagação é importante interromper. Ela funciona como uma bomba seletiva que extrai seu fluido do público e o devolve após tê-lo expurgado e dinamizado.
A maçonaria é, portanto, um órgão de ensino. É um magistério, ou se preferir, um "governo pela sugestão", sem autoridade oficial. Ela é inapta ao governo direto. Ela não pratica uma política única, mas apenas uma orientação polivalente. Ela mantém em andamento várias políticas ao mesmo tempo. Ela implementa uma estratégia essencialmente pluralista. Várias variantes são colocadas em marcha simultaneamente. Por exemplo, o Grande Oriente conduz uma política mais de esquerda e a Grande Loja Nacional Francesa, uma política mais de direita. Na praça pública, essas duas obediências disputarão e até mesmo se comportarão como adversárias. Mas, nos conventos, elas comungarão na meditação do "grande desígnio" comum, cujas linhas gerais apresentamos.