O Desejado das Colinas Eternas
Irmã Catarina Labouré, durante a Aparição na Rue du Bac, na noite de 18 a 19 de julho de 1830, observou um detalhe que lhe pareceu importante: entre os raios de luz que saíam das mãos abertas da Santíssima Virgem, alguns atingiam o chão, onde provocavam faíscas, enquanto outros terminavam sua curta trajetória sem alcançar o solo ou produzir faísca. Ela teve a ideia de perguntar à Santíssima Virgem as razões dessa diferença entre os dois tipos de raios. "Os raios curtos", respondeu a Rainha do Céu, "representam as graças que não são pedidas a Mim".
Assim é a economia da Graça. Os tesouros estão acumulados e os cofres estão abertos; porém, é necessário vir buscar. Deus gosta de ser suplicado. O Verbo Encarnado, que é o Desejado das colinas eternas, isto é, dos anjos, deve ele mesmo desejar a herança que o Pai deseja dar-lhe:
"Pede-me e te darei as nações por herança e os confins da terra por tua possessão" (Sl 2, 8).
A restauração da monarquia e da Igreja está pronta. Resta-nos obtê-las. A crise mundial que os futurólogos preveem e que as profecias anunciam está destinada a terminar com uma intervenção miraculosa de Deus. Mas se esperarmos passivamente, o raio que sai da mão de Deus não alcançará a terra nem produzirá faísca. Mais uma vez, a oportunidade será perdida, como tantas vezes foi (em 1870, em 1918, em 1945). Deus não mede o tempo como nós. A maturidade que Ele exige para intervir não é maturidade política, mas maturidade sobrenatural.
Assim, estamos em nossa vez, responsáveis por grandes eventos. Precisamos arrancar um milagre do Céu, mas um milagre que o Céu está ansioso para nos conceder. Para obtê-lo, a soma dos desejos deve atingir o auge. É necessário obter, no plano sobrenatural, um milagre da fé que supere os prodígios da ciência moderna. A religião da ciência hoje pretende substituir a religião da fé. Agora, é necessário que a fé prevaleça sobre a ciência. É pela oração de nossa fé que este milagre deve ser obtido. É preciso suplicar incessantemente ao Espírito Santo para que desça novamente sobre a França, como nos dias de São Remígio e Clóvis. É preciso suplicar através de Maria, Sua esposa.
De tais ideias provocarão um tumulto entre os militantes dos agrupamentos contra-revolucionários. Já os ouvimos nos dizer: "Quem vocês pensam que são? Estamos na ação. Vão contar isso aos monges". A esses homens de ação, responderemos que há um tempo para tudo:
"Há um tempo determinado para tudo, um tempo para cada coisa debaixo do céu:
- um tempo para nascer e um tempo para morrer;
- um tempo para plantar e um tempo para arrancar o que foi plantado;
- um tempo para matar e um tempo para curar;
- um tempo para chorar e um tempo para rir;
- um tempo para gemer e um tempo para dançar;
- um tempo para atirar pedras e um tempo para recolher pedras;
- um tempo para abraçar e um tempo para se abster de abraçar;
- um tempo para procurar e um tempo para perder;
- um tempo para guardar e um tempo para lançar fora;
- um tempo para rasgar e um tempo para coser;
- um tempo para estar calado e um tempo para falar;
- um tempo para amar e um tempo para odiar;
- um tempo para a guerra e um tempo para a paz." (Eclesiastes III, 1-8).
Quando estamos imersos na ação temporal, é necessário começar por "respeitar os tempos". É agitação e ativismo fazer as coisas fora de hora. A proporção perfeita entre recolhimento e ação é aquela que o Divino Mestre mesmo respeitou: 30 anos de vida oculta e 3 anos de vida pública. Antes de empreender sua campanha militar, Santa Joana d'Arc ouviu suas vozes em recolhimento e oração. A ação dos cavaleiros era precedida pela "vigília das armas".
Ainda estamos em uma fase preparatória, mas é de importância crucial. Devemos fazer tudo para que seja bem-sucedida. Existe uma espiritualidade, ou seja, uma forma de piedade, correspondente a esta fase? Se deve existir, ela se desenvolverá por meio de sua própria prática. Aqui podemos apenas recomendar algumas devoções que parecem particularmente apropriadas.
Primeiramente, a Hora Santa, na noite da primeira quinta-feira para a primeira sexta-feira de cada mês. É uma devoção de "vigilância". O anjo da Igreja de Sardes (na qual ainda estamos) deve ser vigilante:
"Sê vigilante... Se, portanto, não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que hora virei a ti" (Apocalipse III, 2-3).
A Hora Santa é a meditação dos mistérios da agonia de Nosso Senhor e, por extensão, da agonia presente da Igreja; seu fruto é a contrição: Getsêmani significa "prensa".
Em seguida, vem a devoção ao Santíssimo Sacramento exposto. A Eucaristia na Missa é o "Sacrifício de Redenção". Na Comunhão, é o "Sacramento de Santificação". Mas no Santíssimo Sacramento exposto, é a "Revelação da Glorificação". Nossa alma, hoje encharcada de humilhações e indignações, mergulhada como que na sombra da morte, aspira ver o triunfo de Jesus. O servo, repetimos, precisa ter o orgulho de seu mestre. É próprio da verdade triunfar. O Santíssimo Sacramento exposto, cercado por seus raios de ouro, chama à glorificação do Rei. Certamente, não devemos pregar outra coisa além da Cruz, mas devemos pregar outra coisa com a Cruz: isso é o que o Rosário faz. Lembremo-nos também deste maravilhoso trecho:
"Oriens splendor, lucis æternæ et sol justitiæ, leva et illumina sedentes in tenebris et umbra mortis". Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol da justiça, vinde e iluminai os que estão sentados nas trevas e à sombra da morte.
A devoção à Santa Face também é altamente recomendada para aqueles que buscam um milagre esplêndido.
"Mostrai-nos Vossa Face e seremos salvos".
Resta a invocação dos intercessores. A ajuda da "Medianeira de todas as Graças" é evidentemente indispensável. Os grandes santos que moldaram a França real serão invocados com proveito, especialmente São Martinho, São Denis e São Remígio. Como se trata de uma ressurreição, São Lázaro certamente é poderoso. Cada um se dirigirá aos intercessores aos quais se sente inclinado.
Duas práticas estão diretamente relacionadas com o milagre que desejamos arrancar do Céu: a do "Primeiro Sexta-feira do Mês", solicitada pelo Sagrado Coração a Santa Margarida Maria, e a Comunhão reparadora dos "Cinco Primeiros Sábados do Mês", pedida por Nossa Senhora de Fátima.
E então um último esforço, o mais penoso, mas de longe o mais eficaz. Para concluir, é preciso dar asas à oração. Para que a oração alcance o Céu, deve ser acompanhada de mortificações.
"Exsurgat Deus et dissipentur inimici eius et fugiant qui oderunt eum a facie eius. Ecce Crucem Domini, fugite partes adversae. Vicit leo de tribu Iuda, radix David. Domine, salvum fac Regem et exaudi nos in die qua invocaverimus te". Que Deus se levante e que sejam dispersos os Seus inimigos, e fujam os que O odeiam de diante de Sua face. Eis a Cruz do Senhor, fujam as partes adversárias. O leão da tribo de Judá, raiz de Davi, venceu. Senhor, salvai o Rei e ouvi-nos no dia em que Vos invocarmos. (Salmo LXVII, Apocalipse V).