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Neutralizar a Reação

As forças secretas da revolução se deparam com uma inércia muito poderosa e constante. As reformas dos utopistas só se realizam com dificuldade e lentidão. A sociedade humana opõe a elas uma surda mas obstinada resistência. De onde vêm essa inércia, essa lentidão e essa resistência?

Elas têm primeiramente causas naturais. A primeira reside no fato de que o homem terrestre aspira prolongar seu estado terrestre ao qual está invencivelmente apegado. Nas origens, sua tendência espontânea foi de consumir também o fruto da árvore da vida que lhe teria proporcionado a eternidade no estado de natureza. É para evitar essa catástrofe que Deus afastou o homem do paraíso:

"Agora, que ele não estenda as mãos, que não tome também da árvore da vida, para comer e viver eternamente. E Yahweh os fez sair do jardim do Éden" (Gên. III, 22-23).

A tendência espontânea do homem é prolongar seu estado presente. Ele tem medo das grandes mudanças, portanto da revolução.

A segunda razão natural é mais sutil e mais difícil de entender. Não obstante certos direitos ao império, direitos que anteriormente destacamos, o Príncipe deste mundo não é essencialmente mais que um usurpador, pois trabalha para suplantar o verdadeiro titular do poder absoluto que é Cristo. Além disso, ele progride pela astúcia e pela violência, que não são amáveis nem uma nem outra. O homem é, portanto, forçado a temer, ainda que confusamente, essa usurpação e essas manobras dolosas. E ele resiste a isso, por medo instintivo "daquele que é homicida".

Mas a inércia e as lentidões que o poder revolucionário mundial deve vencer também têm causas sobrenaturais. Sabemos que o demônio não é na terra senão o ministro dos castigos de Deus. Jesus Cristo conserva sempre o alto domínio e Ele só dá, a Seu adversário, a permissão de agir nos tempos marcados. A atividade do demônio atravessa, portanto, às vezes longos períodos de impotência.

Essas razões explicam que a humanidade, perpetuamente trabalhada pela fermentação utópica e revolucionária, lhe opõe perpetuamente suas forças de inércia. Quando ela é objeto de pressões exageradas, quando é maltratada, essa inércia, de passiva que é em geral, se transforma em explosão reacionária. Assim, já observamos que todos os órgãos da revolução (congregações iniciáticas, sociedades de pensamento, partidos políticos...) são muito atentos em respeitar o limite de passividade e de maleabilidade das massas populares que querem manobrar. Mas nem sempre conseguem evitar os acidentes reacionários.

Qual será a atitude dos poderes ocultos nesses casos explosivos? Eles vão implementar um certo número de procedimentos que provaram seu valor e até se tornaram bastante clássicos.

Se o movimento reacionário nascente se anuncia de fraca amplitude, as forças da revolução se contentarão em tomar discretamente sua direção e conduzi-lo para um beco sem saída onde ele se desintegrará.

Qual é esse procedimento? Eis um exemplo. Conta-se que, pouco tempo antes da revolta histórica de 6 de fevereiro de 1934, um grupo de agricultores de Cantal tinha subido a Paris para manifestar diante do ministério da agricultura. Eles tinham vindo de trem e se reunido na saída da estação de Austerlitz. Como os "curiosos" eram numerosos, o cortejo era bastante volumoso. Colocaram na frente aqueles que conheciam bem Paris e partiram para vaiar o ministro, com a bolsa a tiracolo. Caminharam interminavelmente... para se encontrar na Place Balard no outro extremo de Paris: um grupo de policiais "à paisana" tinha tomado a frente do cortejo para desviá-lo em sentido oposto.

Transposto em grande escala, esse procedimento foi utilizado muito frequentemente. É assim, por exemplo, que após a guerra de 14-18 as associações de Ex-Combatentes, que estavam dispostas, quando de sua fundação, a tratar de "problemas nacionais" de ordem geral, segundo a fórmula do momento "para que nossos filhos nunca mais vejam isso", foram desviadas para preocupações secundárias de aposentadorias e condecorações, sem perigo para as instituições republicanas e para a orientação maçônica da opinião. Poderíamos citar, desse procedimento do "Beco sem Saída", exemplos em número infinito. Os maçons, esses valentes guardiões das instituições, passam a maior parte do seu tempo torpedeando movimentos reacionários.

Quando a explosão é inesperada e violenta, falta tempo para penetrá-la pela base; é preciso então "encabeçá-la" rapidamente, ou seja, impor-lhe um líder que lhe proporcionará uma exaltação aparente, mas a impedirá de prejudicar fundamentalmente o sistema. É o procedimento do Deus ex Machina. Nas representações dramáticas romanas, uma divindade, parecendo descer do céu, era trazida ao palco por uma maquinaria invisível e sua intervenção inesperada resolvia uma situação inextricável. Esse procedimento é incorporado, por nossos manipuladores, às técnicas do governo oculto. Um dos exemplos mais típicos de Deus ex Machina é a chegada ao poder de Gaston Doumergue, que foi buscado em seu retiro para deter a revolta de 6 de fevereiro de 1934 conduzida pelas ligas nacionais. Apaziguador e sorridente, Doumergue recolocou a república parlamentar nos trilhos. É na sequência de uma manobra análoga que o general de Gaulle foi sondado para organizar em Londres um comitê e depois um governo francês, a fim de neutralizar o governo do Marechal Pétain.

O procedimento é de uso tão corrente que as forças da revolução são obrigadas, permanentemente, a manter pronto um Deus ex Machina para enfrentar qualquer eventualidade. É assim que se mantém sempre em reserva pretendentes ao trono para "encabeçar" uma reação que se tornou muito violenta. Os pretendentes assim preparados são doutrinados para não prejudicar as forças secretas e até para protegê-las.

As elites nacionais sinceras não ignoram nada desses preparativos. Elas estão ao mesmo tempo sem ilusão e sem meios de ação. Quanto à massa popular, escravizada pelos poderosos meios modernos de condicionamento coletivo, ela aplaudirá assim que lhe for dado o sinal.

Tais são as causas profundas, de natureza religiosa como vimos, da inércia que a sociedade humana opõe instintiva e desajeitadamente à propagação revolucionária. E tais são alguns dos procedimentos mais empregados em nossos dias pelo adversário para vencer essa inércia e neutralizar as explosões às quais ela às vezes dá origem.