Iniciação aos Mistérios de Baixo
O funcionamento interno da maçonaria é comandado pela dupla natureza dessa associação. Ela é, de fato, ao mesmo tempo uma sociedade de pensamento e uma congregação iniciática.
Como funciona uma SOCIEDADE DE PENSAMENTO (também chamada "sociedade filosófica")?
Ela elabora uma opinião comum e, consequentemente, também uma vontade coletiva. O pensamento e as intenções são, pelo menos em princípio, gerados pela base. Colocam-se em comum elementos dos quais se forma um feixe. Por exemplo, o "comitê de leitura" de uma editora é uma pequena sociedade de pensamento, pois define uma orientação intelectual. Da mesma forma, o "escritório de estudos" de uma empresa industrial. Da mesma forma, o "conselho diretor" de um partido político. Algumas dessas sociedades são efêmeras e constituem apenas combinações instáveis. Outras têm uma longa duração, como uma academia.
Por muitos de seus mecanismos, a maçonaria é uma sociedade de pensamento. Nela se realiza um trabalho de elaboração de uma certa filosofia e de uma vontade coletiva. Como tal, pode ser considerada democrática. Juridicamente, é assim que ela funciona. As lojas elegem deputados que se reúnem em convenção. As "reuniões", ou seja, as sessões, são organizadas em muitos aspectos como as assembleias parlamentares, com um presidente, uma mesa diretora, oradores, uma ordem do dia, moções... A Assembleia Nacional trabalha à maneira de uma loja.
Uma CONGREGAÇÃO INICIÁTICA (também chamada "irmandade iniciática") se caracteriza pela iniciação, é a própria evidência. E a iniciação é uma cerimônia com duplo efeito.
-- Em seguida, ela projeta sobre ele uma INFLUÊNCIA ESPIRITUAL. E essa influência espiritual produz no iniciado certo número de efeitos psicológicos mais ou menos nitidamente percebidos por ele. Esses efeitos psicológicos constituem o que os próprios maçons chamam de iluminação iniciática.
Quais são, mais precisamente, os efeitos psicológicos dessa iluminação? Os maçons que, em suas obras, descreveram os mecanismos da iniciação, dão essa "influência espiritual" como produzindo neles uma impressão luminosa e benéfica. É por essa razão que eles falam de uma "iluminação".
Após a iniciação, o pensamento do iniciado é alterado, sua compreensão das coisas não é mais a mesma. Ocorreu nele uma mutação espiritual; ele adotou definitivamente um novo ponto de vista, uma nova perspectiva, um novo espírito, para ele o espetáculo do mundo não é mais iluminado pela mesma luz.
Mas então, que explicação os maçons dão sobre a natureza da influência espiritual que operou neles uma tal mudança?
É preciso reconhecer que eles não se fazem muitas perguntas e, quando se fazem, é para responder que a influência espiritual iniciática é, ou de natureza gregária, ou de natureza cósmica, ou as duas simultaneamente.
O cristão, para julgar todos esses fenômenos psicológicos e místicos, não pode fazer melhor do que consultar os mestres da vida espiritual, em particular São Francisco de Sales, Santa Teresa d'Ávila e, sobretudo, São João da Cruz, que recebeu o título de "Doutor Místico". Eles descreveram as condições da verdadeira mística divina e, ao contrário, detectaram a influência do demônio nos caminhos contemplativos que se afastam das saudáveis disciplinas do espírito.
Portanto, se compararmos a mística cristã e a mística maçônica, tal como se manifesta na iniciação, somos obrigados a constatar que a influência espiritual exercida durante a iluminação é simplesmente a do demônio. Certamente, ela parece luminosa e benéfica, porque o demônio opera ali, como faz tão frequentemente, disfarçado de anjo de luz. Nada de surpreendente, portanto, que a aglutinação ao seu "corpo místico" produza uma impressão de luz e seja sentida como uma iluminação. Mas trata-se de uma falsa luz cuja verdadeira natureza é a das trevas.
Claro, o maçom iniciado jamais admitirá que foi "iluminado" por um demônio, portanto "entenebrecido" e iniciado nos mistérios de baixo. Mas o cristão, a quem sua doutrina permite "discernir os espíritos", reconhecerá, nos relatos de iniciação que se tornam cada vez mais difundidos, a verdadeira natureza dessa iluminação às avessas.
O maçom, assim iniciado nos mistérios de baixo, desenvolverá ideias, intenções, uma vontade que serão o fruto de sua colaboração com a influência espiritual que o acompanha a partir de então. Seus movimentos mentais se combinarão aos do demônio ao cujo corpo místico ele foi incorporado. Ele se comportará, da maneira mais natural do mundo, como um semi-demônio. Ele cogitará espontaneamente de acordo com sua nova perspectiva e com a mutação espiritual da qual foi objeto.
É inútil imaginar diabruras nas lojas. O simples mecanismo da falsa mística iniciática basta para proporcionar a todo o conjunto da instituição maçônica uma impregnação permanente, difusa e lenta dos espíritos infernais. Aliás, o resultado de sua ação multissecular sobre a sociedade cristã está aí para provar que ela foi um instrumento muito eficaz de dominação da Igreja e de demolição da cristandade.
Nós apenas resumimos em linhas gerais o funcionamento da maçonaria. Outras disposições orgânicas completam o sistema; fornecemos uma breve enumeração sem entrar em detalhes: o juramento de segredo, a obediência a superiores desconhecidos, o pacto de fraternidade, o simbolismo auto-significante que impregna toda a filosofia, finalmente o esoterismo da doutrina. Todas essas disposições permitem conduzir o maçom a opiniões e decisões que ele jamais teria aceitado se lhe fossem propostas antes de sua entrada na loja.
O conjunto da instituição é percorrido por uma dupla corrente:
--um fluxo descendente que transmite as sugestões dos altos iniciados aos que ainda se encontram na base da escada iniciática.-e um fluxo ascendente que reenvia para cima motions de aparência democrática. Graças a esse processo, os iniciados dos altos graus conhecem a cada momento o limite de elasticidade da base dos irmãos; eles conhecem aquelas de suas sugestões que "passam" e aquelas para as quais é preciso esperar, antes de fazê-las adotar.
"O demônio aparecia a Marie-Julie sob a forma habitual, seja sob a de alguma besta hedionda, seja sob a aparência de um jovem de grande beleza, fazendo sempre promessas de cura e de riqueza..." (La Franquerie: "Marie-Julie Jahenny" p. 14).