Das Cumplicidades Mundiais
Nosso raciocínio será de ordem estratégica. Não faremos obra de erudição e presumiremos conhecidas e aceitas as análises históricas e políticas dos escritores tradicionalistas contemporâneos [1]. É a dinâmica e as linhas de força de nossa sociedade que nos interessarão. Mas nossa estratégia não se limitará à ordem natural. Ela incluirá parâmetros e até mesmo postulados de ordem sobrenatural.
Nosso ponto de partida será a constatação, que não é posta em dúvida por ninguém, da irresistível expansão do sovietismo em todo o mundo. A mancha vermelha se estende no mapa e nunca se retrai; mais cedo ou mais tarde, ela englobará a Europa. Este avanço metódico só é retardado por sua própria prudência; ele só se depara com uma inércia passiva, sem convicção e, no final das contas, impotente. Nossas reflexões se concentrarão na natureza das forças em jogo e na evolução previsível de seu confronto.
Aqueles que se opõem à expansão comunista mundial, em qualquer nível que pertençam, têm diante de si energias que são de dois tipos:
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- forças diretamente soviéticas;
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- todo um conjunto de cumplicidades que são exteriores à disciplina soviética.
Enumeremos rapidamente os principais componentes das forças diretamente soviéticas:
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O partido comunista internacional que mantém a fachada e assegura o contato com o que se convencionou chamar de "massas proletárias". Ele tem seus congressos mundiais, seus escritórios permanentes (III Internacional - Komintern - Kominform - dependendo da época). O partido não está equipado para a preparação técnica da insurreição; sua vocação é principalmente eleitoral; destina-se a fornecer o "partido único" do futuro parlamento soviético: o "Soviete Supremo".
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O aparato ilegal e todas as filiais culturais, sindicais e econômicas a ele relacionadas; é a ele que pertencem os agentes que antes eram chamados de cripto-comunistas e aos quais hoje se dá o nome de toupeiras.
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A diplomacia soviética cujos diferentes serviços se dedicam a uma verdadeira espionagem.
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As finanças soviéticas que atraem cada vez mais banqueiros "capitalistas" ávidos por gerir o dinheiro do coletivismo.
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O Exército Vermelho cujo papel psicológico é fazer pesar uma ameaça sobre os países recalcitrantes, enquanto se aguarda passar à "guerra revolucionária" propriamente dita.
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O Serviço de Inteligência do Exército que tem vários nomes dependendo do período.
Essas forças obedecem à direção monolítica da intelligentsia comunista, que se impôs uma missão de mutação planetária. Elas formam, por si só, um conjunto de extraordinário poder.
Mas essas forças diretamente soviéticas são ainda secundadas por toda uma rede de cumplicidades externas que não dependem da direção comunista e que, no entanto, lhe dão apoio. Esta rede de cumplicidades tem o efeito de neutralizar a cada momento as reações que a expansão soviética inevitavelmente gera onde quer que ameace se expandir.
A estrutura desta rede de cumplicidades é a maçonaria racionalista. A Revolução Francesa já foi sua obra. Os historiadores republicanos tentaram contestar essa evidência porque ela é incompatível com sua tese de espontaneidade revolucionária. Mas incontestávelmente, a gestação maçônica da Revolução de 1789 se impõe. Fiel à mesma lógica, a maçonaria também gerou a Comuna de 1871 e o comunismo que é sua continuação. Ela o incubou primeiro como doutrina, depois como partido, finalmente como Estado. Este regime infernal nunca teria se instalado na Rússia, nem se incrustado por 70 anos neste infeliz país, nem se espalhado por um mundo ao qual instintivamente aterroriza, já que é o regime da expropriação, sem o apoio de poderosas forças secretas de revolução. A atividade dos agentes soviéticos sozinhos, cujos organismos acabamos de enumerar, não explica a neutralidade, e em alguns casos a verdadeira conivência das grandes Potências, ditas capitalistas, das quais o comunismo em expansão sempre se beneficiou.
Se a maçonaria forma a estrutura dessa conivência geral, ela não é o único elemento. Não querendo nos sobrecarregar com um volumoso aparato de erudição, não enumeraremos aqui todos os pontos de apoio da coletivização planetária. Basta-nos citar os dois mais conhecidos; os eruditos não terão dificuldade em preencher as lacunas de nossa enumeração.
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As Sociedades Fabianas formam uma rede de "sociedade de pensamento" que se estende por todo o mundo anglo-saxão. Elas foram, não fundadas, mas animadas, nos últimos anos do século XIX, pelos cônjuges Sidney e Beatrice Webb, que nelas desenvolveram uma atividade prodigiosa e muito inteligente. Elas se colocaram sob a denominação de Fabius Cunctator (Fábio, o Contemporizador), que simboliza bem a prudência e a lentidão de seus métodos. Essas sociedades, eminentemente elitistas, preconizam microrreformas imperceptíveis, indolores, passando despercebidas, mas todas direcionadas no sentido de uma maior coletivização da economia e das instituições sociais. Elas têm uma influência preponderante na transformação da sociedade inglesa, americana e australiana. Também é conhecido que elas contribuíram muito para o reconhecimento da U.R.S.S. pelas Potências ocidentais, nos anos 1920-1930. Eis, portanto, todo um sistema de círculos político-financeiros que trabalha para apoiar a U.R.S.S. e preparar suas novas extensões, e isso sem depender da disciplina soviética. Trata-se, portanto, de uma conivência totalmente externa.
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A Trilateral é ainda mais conhecida, graças a excelentes trabalhos; faremos apenas uma simples menção. Sob o pretexto de promover uma aproximação entre os dois regimes capitalista e comunista, visando uma unificação pacificadora, a Trilateral serve primeiro para reerguer a economia soviética perpetuamente deficitária devido ao seu colossal esforço militar e proselitista, mas também serve para desmobilizar mundialmente os espíritos e abolir as desconfianças instintivas dos meios de negócios em relação ao coletivismo marxista. E ela consegue isso muito eficazmente.
Citamos apenas dois exemplos: as sociedades fabianas e a trilateral. Mas é notório que existe uma quantidade de organismos filocomunistas, ou sovietófilos, que não pertencem ao sistema comunista. Toda uma rede mundial de apoio psicológico e logístico foi estabelecida, da qual muitas malhas não dependem da disciplina moscovita. Esses organismos ao mesmo tempo cúmplices e independentes constituem um fenômeno ao qual não se presta atenção suficiente. Eles supõem a existência de uma coordenação entre, por um lado, o sovietismo centrado em Moscou e, por outro lado, seus apoios voluntários e internacionais.
Onde devemos situar o super-estado-maior que coordena o conjunto dessas duas forças? Obviamente, só podemos situar em Moscou o estado-maior das forças moscovitas. Dele dependem as técnicas sindicais, parlamentares e revolucionárias, a infiltração e a paralisia dos poderes burgueses, a preparação da guerra revolucionária, tudo o que regula a atividade dos militantes do partido e dos sujeitos soviéticos.
Mas a cronologia estratégica geral, as grandes oportunidades gerais, por exemplo, a desestabilização e a "passagem para o Leste" da República Sul-Africana, a coletivização da economia sul-americana e todas as campanhas absolutamente artificiais que não correspondem a nenhuma necessidade real e profunda, por quem são decididas e levadas a bom termo? Os trabalhos publicados até agora constituem abordagens certamente muito interessantes, mas não dão inteira satisfação. É preciso reconhecer que eles se deparam com um problema de informação quase insolúvel. O organismo central se aloja em alguma sinarquia ou alguma maçonaria? Os pesquisadores acabarão por descobri-lo.
Tudo se passa como se a Rússia Soviética fosse o braço secular de uma super-igreja que se serve dele para realizar certa tarefa. Pode-se, portanto, no organograma da revolução mundial, reservar, em pontilhado, um lugar para um super-estado-maior que escapa até agora à observação direta, mas que constitui uma necessidade orgânica. É ele que estimula, ou eventualmente freia, a guerra de classes, também chamada às vezes de guerra vertical, que se tornou universal e que se sobrepõe às guerras horizontais entre Estados.
[1] Ler em particular: "O tratado do Espírito Santo" de Monsenhor Gaume e "A Conspiração anticristã, O Templo Maçônico querendo se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica" de Monsenhor Delassus.