As Flutuações da Batalha
Adquirimos uma dupla certeza: a existência sobre esta terra das duas cidades antagônicas e da guerra entre essas duas cidades. Não se trata de uma oposição imóvel; há batalha. No confronto desses dois exércitos, constataremos flutuações, ou seja, alternâncias de avanços e recuos. Quando o estandarte de Belial progride, o de Cristo recua. A cristandade recuou diante dos estandartes do Profeta Maomé. Depois a situação se inverteu e os cruzados, retomando a ofensiva, fundaram o reino Franco de Jerusalém e o mantiveram por um século. Em seguida, novamente um grande ímpio, Lutero, infligiu uma grande derrota à cidade de Deus.
Por que Jesus Cristo aceita essas flutuações e esses recuos periódicos? Pareceria mais lógico que Seu avanço fosse constante, já que Ele é incomparavelmente mais forte que Seu adversário. Por que Ele modera Suas forças até dar-lhes essa equivalência com as de Belial? Aqueles que estão envolvidos na batalha buscarão responder a essa questão que lhes diz respeito de perto.
Sabemos que "o Pai entregou ao Filho todo o julgamento". (João, V, 22). Mas o Filho é o Justo Juiz. Ele é justo com toda criatura, mesmo com o demônio. Ele lhe dá, como a toda criatura, o que lhe é devido. Ora, quando o demônio faz um homem tropeçar e o leva a transgredir a lei, ele obtém direitos sobre esse homem e faz dele seu escravo. O pecado nos torna escravos de Satanás, ensina o pequeno catecismo. O "Justo Juiz" respeita os direitos que Satanás adquiriu sobre seus escravos. E quando quer libertá-los de sua escravidão, o Salvador paga um resgate; ele paga o preço da redenção: tal é o sentido da palavra redenção. O resgate pelos pecados do mundo é o Precioso Sangue. O Sangue do Cordeiro imolado é dito "precioso" porque é uma moeda insubstituível.
Quando a massa dos pecados aumenta, a massa dos direitos adquiridos pelo demônio também aumenta e Cristo, que é justo, permite que o estandarte do demônio avance em território cristão. A atual vitória de Satanás sobre a Igreja tem como causa primeira a irreligião do homem moderno. Mas então o Salvador responde com misericórdia: onde o pecado abunda, a Graça superabunda e novamente Vexilla Régis prodeunt, os estandartes do Rei avançam. As flutuações da batalha provêm dessa luta entre os esforços de Satanás para fazer os homens caírem e as larguezas da misericórdia divina: "mirifica nos misericordias tuas qui salvos facis sperantes in te". Maravilhai-nos com Vossas misericórdias, Vós que salvais aqueles que esperam em Vós.
Após cada vitória de Jesus, o diabo redobra sua energia para se vingar. Foi assim que ele declarou um dia a São Martinho que estaria sempre em seus passos e que se vingaria de todas as derrotas que "o apóstolo das Gálias" lhe teria infligido. E de fato, pode-se notar que os dois grandes ímpios que o inferno suscitou contra a Igreja, Maomé e Lutero, são ambos "anti-martins". Maomé nasceu em 11 de novembro, na festa de São Martinho. Quanto a Lutero, ele tinha o nome de Martinho. O diabo assinou a vingança que havia prometido exercer.
Mas se é assim, pareceria que Jesus deixa a Belial a iniciativa das operações e que pratica uma estratégia de simples resposta. Na realidade, não é nada disso. Durante o período que vai da queda à Encarnação, pode-se dizer que Belial reinava pacificamente sobre o mundo. Este reino pacífico estava destinado a durar até o Advento glorioso do Ungido do Senhor, hora em que seria necessário retornar ao abismo. Mas eis que Cristo desce à terra humildemente e de improviso, como um bom general que ataca de surpresa: "Vieste para nos atormentar antes do tempo", dizia um possesso a Jesus. Ele vinha, de fato, como conquistador, pois Ele é "Rei por direito de nascimento", mas também o é por direito de conquista. É bem evidente que esta conquista necessita de uma batalha. É nisso que J.C. é sinal de contradição (Lucas II, 34) e que Ele veio trazer não a paz, mas a espada (Mateus X, 34).
Após a Encarnação, a batalha se tornará encarniçada. Satanás, compreendendo que o fim de seu principado terrestre está próximo e que lhe resta pouco tempo, vai decuplicar sua energia. O confronto vai se intensificar. Os recuos e avanços se tornarão mais profundos. E o mundo será, cada vez mais, ou todo bom ou todo mau até a separação final dos dois corpos místicos, um na Jerusalém celeste, outro no lago de fogo.
Hoje não podemos nos dissimular que estamos mergulhados em uma fase de debacle dos exércitos de Cristo. A aparição do Anticristo é, portanto, iminente? Muitos cristãos se fazem com razão esta pergunta. Veremos mais adiante que resposta se pode dar a ela.