Ajudar o Céu
Muitos tradicionalistas, porque ainda não aprofundaram bem a lógica de sua posição, raciocinam mais ou menos assim: "Formemos projetos, lancemo-nos na ação, e depois peçamos a Deus, pela oração, para nos conceder o sucesso". Tal raciocínio é bastante comum, e no entanto é defeituoso porque inverte a ordem normal e resulta em nada menos do que colocar o próprio espírito antes do Espírito Santo. Portanto, não pode inspirar uma ação correta. Na realidade, a Graça sempre nos precede e nós só temos a escolha entre corresponder a ela ou recusá-la. Vamos rever isso partindo dos princípios.
No que diz respeito à filosofia da História, os não-cristãos estão divididos em duas escolas.
Alguns fazem coincidir o sentido da História com o das revoluções; está-se no sentido da História quando se tem um espírito revolucionário.
Os outros pensam que a História não tem sentido; para eles, ela é forjada, de idade em idade, pelos homens fortes que marcam os eventos graças à sua vontade de poder; em sua opinião, a História é radicalmente imprevisível; ela é o que os homens a fazem.
O Cristianismo contém uma filosofia histórica totalmente diferente. Vamos rever aqui as suas linhas gerais. Durante o curso do Antigo Testamento, vimos que todos os eventos do mundo convergiam para a Encarnação. Durante o curso do Novo Testamento, os eventos do mundo convergem para a Vinda da Majestade. Esse é o verdadeiro sentido da História. O Reino está preparado para o Rei. Esse é o plano providencial.
O que resta ao cristão fazer, senão contribuir com seu auxílio para a realização deste plano providencial?
Como o plano não depende dele, ele só pode se submeter docilmente. Devemos corresponder à Graça que nos precede em tudo. Devemos ajudar o Céu e não sermos auxiliados pelo Céu. Vê-se quanto é falso o provérbio infindavelmente repetido: "Ajude-se e o Céu te ajudará". Esta expressão não é tirada da Sagrada Escritura como geralmente se acredita. Foi Rabelais, o homem da "divina garrafa", quem a introduziu na literatura francesa, sob uma forma ligeiramente diferente: "Ajude-se e Deus te ajudará".
É sintomático que a associação liberal e maçônica que preparou a Revolução de 1830, lutou contra o ministério Villèle e finalmente depôs Carlos X, o último rei ungido, chamava-se precisamente Associação Ajude-se o Céu te ajudará. Os revolucionários não se enganaram; colocaram sua sociedade de pensamento sob esse lema porque estimula o próprio espírito: justifica a vontade própria, a atividade desordenada, insubordinada e revolucionária. O lema "ajude-se, o Céu te ajudará" deve ser completamente banido do argumento tradicionalista; só pode levar a sérios erros de manobra, é uma máxima revolucionária.
Para substituir este mau provérbio, nosso legado nos oferece outros dois. O primeiro:
"Aja como se tudo dependesse do homem e ore como se tudo dependesse de Deus".
O segundo, que é atribuído a Joana D'Arc:
"EM NOME DE DEUS, os homens de armas lutarão, mas é Deus quem dará a vitória".
Especialmente neste, a hierarquia entre a vontade divina e a vontade humana é bem respeitada.
Os militantes tradicionalistas, precisamente porque serão convocados mais cedo ou mais tarde para a ação, devem se convencer de que devemos seguir a Graça e não a preceder. Por essa correspondência nós auxiliamos Deus a realizar Seus desígnios sobre nós, já que Deus não nos salva sem nós; Ele deseja ser auxiliado, fazer de nós Seus "servos", isto é, Seus ministros.
Para auxiliar a vontade de Deus, é preciso conhecê-la. Mas como conhecê-la? Será realmente tão difícil? Quando se quer sinceramente fazer a vontade de Deus, consegue-se sem grande esforço conhecê-la. Para que uma ação seja conforme à vontade de Deus, ela precisa cumprir duas condições: uma interna, a outra externa. A condição interna é que nos sintamos inclinados a ela; não deve nos repugnar, nos deixar desconfortáveis, nem natural nem sobrenaturalmente, deve corresponder às nossas competências normais; não deve constituir para nós uma extravagância. A condição externa é que as circunstâncias ambientais também sejam favoráveis; devemos ser levados por eventos; a ação planejada não deve ter nada de forçado, artificial, complicado, maquiavélico.
Quando essas duas condições internas e externas estão reunidas, significa que o Espírito Santo nos guia para esta empresa. Mas se elas não estiverem presentes, estamos no ativismo, agitação e espírito próprio. Nos casos de crise, quando tudo está fervilhando ao nosso redor, o ativismo nos vigia e devemos ter muito cuidado para não nos deixar arrastar por ele. Para isso, recorramos regularmente às ajudas que Deus nos rodeia: nossos santos padroeiros e nossos anjos da guarda; se trabalharmos em união constante com eles, eles nos farão produzir os frutos de seu espírito.