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A Cidadela de Sião

Entre as forças de reação, deveríamos poder citar a Igreja Católica. Infelizmente, ela está hoje neutralizada por uma poderosa rede de prelados progressistas que, agindo em ligação com as lojas maçônicas e com certos meios soviéticos, a alistou no campo da contra-igreja, reduzindo-a ao papel de correia de transmissão. Eles tomaram o poder, por ocasião do último concílio ecumênico, graças a um verdadeiro golpe de Estado eclesiástico que os observadores imediatamente compararam à "revolução de outubro" na Rússia. É bem evidente que as forças de revolução assim instaladas no topo da Igreja não se deixarão desalojar. Elas pretendem, e têm os meios para isso, permanecer daqui em diante senhoras da Sede apostólica.

Sob a denominação de "Religião Católica", os sociólogos, os jornalistas, os historiadores, os filósofos encontram agora duas religiões distintas: a religião pré-conciliar que se perpetua entre os tradicionalistas e a religião pós-conciliar que modifica seus estatutos, mas que os poderes públicos reconhecem como o único catolicismo verdadeiro. Essas duas religiões fazem guerra entre si; elas se declaram incompatíveis e se excomungam mutuamente. O catolicismo pós-conciliar abandonou o antigo espírito, tornou-se um corpo vazio de alma; apresenta todas as aparências da morte.

Trata-se, sem dúvida alguma, da crise sem precedentes que as profecias nos anunciam que deve cair sobre a Igreja à aproximação do fim dos tempos. Crise que os textos sagrados descrevem como

a abominação da desolação instalada no lugar santo (Mat XXIV, 15).

Deve haver então sobre a terra uma "grande tribulação",

como não houve desde o começo do mundo (Mat XXIV, 21).

Chegamos a esta fase terminal?

As profecias da Sagrada Escritura não nos permitem responder a essa questão porque, observando a História de muito alto e de muito longe, elas não entram nos detalhes de cada época. Para responder, é preciso recorrer às profecias da revelação privada, que são de menor amplitude, mas que entram em mais detalhes. Ora, elas são unânimes em afirmar que antes das tribulações finais, a terra atravessará uma crise premonitória, idêntica em sua natureza à crise final, mas atenuada quanto à sua intensidade. É essa crise premonitória que sacode hoje a Igreja. Não é, portanto, surpreendente que ela se apresente como um corpo que perdeu sua alma. Ela se encontra em um estado semelhante ao de Nosso Senhor Jesus Cristo quando Ele foi depositado no túmulo; seu corpo estava ao mesmo tempo morto e divino, o que parece incompatível; a Redenção é um mistério.

O mesmo acontece hoje com a Igreja, que é o corpo místico de Jesus Cristo. Ela parece morta, pois perdeu o antigo espírito, mas permanece divina; daí o respeito que devemos conservar por essa estrutura vazia, não obstante a indignação que provocam em nós os discursos e os atos de seus grandes prelados e mesmo de seus pontífices.

Não é preciso que esse estado de coisas nos escandalize. Os textos sagrados nos advertem do que deve acontecer precisamente para que não fiquemos nem surpresos nem perturbados. É preciso que os escândalos aconteçam, infelizmente apenas para aqueles por quem eles chegam. Conservemos toda a nossa serenidade.

Nosso Senhor fez à Igreja promessas de perenidade. Se essas promessas tivessem sido destinadas a proteger a Igreja de toda ferida e de toda divisão, pode-se dizer que elas não teriam sido cumpridas pois, de fato, a Igreja foi muito frequentemente ferida e dividida; ela perdeu grandes pedaços que nunca recuperou (o cisma grego, a heresia protestante, a morte aparente de hoje). As promessas de perenidade asseguram apenas à Igreja que sempre haverá nela um núcleo vivo para oferecer resistência ao inimigo. Sempre haverá uma cidadela que não se renderá. O navio da Igreja nunca afundará; mas poderá sofrer graves avarias; seu comandante poderá até ser morto. A perenidade reside na torre de menagem; é por isso que a morte de hoje é apenas aparente. Um núcleo vivo subsiste, que é precisamente a minoria anti-conciliar. Ela é a fortaleza de SIÃO, a cidadela de Jerusalém.

A sinagoga dos Judeus já havia sofrido eclipses semelhantes. A perda da Arca da Aliança, depois o cativeiro da Babilônia eram também "mortes aparentes".

Tal é o regime do Corpo Místico. Ele não é melhor tratado que o Mestre. As feridas profundas que a Igreja não podia evitar são figuradas, na Missa, pela Fração da Hóstia. A Missa é uma profecia que contém em resumo as fases da vida da Igreja. A Fração da Hóstia representa as lacerações que a dilaceraram.

Mas Deus salva o que vai perecer e que não dispõe mais de nenhum recurso natural. É nisso que Ele é Salvador. Ele estenderá Suas mãos sobre o mar, Ele acalmará a tempestade, e se fará uma grande calmaria.