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O mundo intermediário

Quase todos os esoteristas contemporâneos adotam um dos postulados mais importantes do ocultismo, a saber, a existência de um "mundo intermediário", que estaria situado entre o mundo físico e o mundo espiritual. Vamos primeiro tentar descrever o sistema. Então, faremos a crítica.

O conjunto dos três mundos forma uma esfera. O mundo espiritual ocupa o hemisfério superior e o mundo físico ocupa o hemisfério inferior. Entre os dois hemisférios, no nível do equador, o mundo intermediário adota a forma de um disco plano do mesmo raio que a esfera global. Este disco separador, mas também intermediário, empresta suas características, em sua face superior, ao mundo espiritual e, em sua face inferior, ao mundo físico. Essa é, em linhas gerais, a teoria do mundo intermediário.

Nesta construção ideal, que tem a aparência da lógica, o mundo intermediário seria o das vibrações sutis que estão no limite extremo da percepção de nossos aparelhos e às quais os ocultistas atribuem a dupla qualidade de semi-espirituais e semi-físicas. Quais são, para os gnósticos, as vantagens deste mundo intermediário? Há duas.

Primeiro, este mundo misto lhes fornece um ponto de passagem, uma etapa, entre o espírito e a matéria, etapa que constitui uma grande vantagem para os adeptos das doutrinas emanatistas, sempre inimigos de qualquer ideia de limites, gêneros e espécies.

Mas eles encontram aí uma segunda vantagem. Eles vão fazer deste mundo intermediário a residência dos demônios. Os gênios elementares da natureza física são os habitantes deste mundo intermediário. Nesta teoria, os demônios são, portanto, entidades vibratórias, meio espírito meio corpo, que atraem os homens para baixo. Eles têm uma tendência "natural" a materializar o homem, não por causa de sua maldade (eles não a têm), mas por causa de seu lugar na escala da natureza.

Toda a demonologia da gnose moderna é construída sobre este esquema, ou sobre esquemas análogos. Para ela, os demônios são forças naturais que têm sobre o homem um poder materializante. E se nos fazem notar que eles são particularmente influentes em nossa era sombria do Kali-yuga.

Esta doutrina está muito distante daquela da Igreja. As primeiras palavras do Credo de Niceia são precisamente dedicadas a esta questão dos dois universos espirituais e materiais: «Credo in unum Deum... factorem caeli et terre, visibilium om- nium et invisibilium». Um só Deus, criador do céu e da terra, de todo o mundo visível e de todo o invisível. O "visível" é o mundo dos corpos; o "invisível" é o mundo dos espíritos. Nunca se trata do mundo intermediário na doutrina católica.

Sem dúvida, a substância física, e especialmente a substância biológica, apresenta eflorescências tênues, radiações, energias impondéráveis que dela emanam. Mas por serem sutis e impondéráveis, elas não deixam de ser físicas e é um erro apresentá-las como intermediárias entre o espírito e a matéria. As vibrações sutis que rodeiam a matéria compacta são comparáveis a uma cabeleira leve, certamente, mas autenticamente material.

Quanto aos demônios, eles são de natureza plenamente espiritual e não mista. São espíritos reprovados. Eles não procuram nos materializar, mas nos condenar. Claro, eles entram em nós pelos sentidos corporais. Mas quando estão em nós, eles dialogam com nosso espírito e nos sugerem pensamentos desordenados. Ora, há os desregramentos do corpo, mas também os desregramentos do espírito. E as doutrinas falsas estão entre os desregramentos do espírito. Desconfiemos dessas referências gnósticas a um mundo intermediário que não existe.