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O Andrógino

O tema do andrógino é um dos mais frequentemente tratados pelos autores esotéricos. De acordo com eles, o homem, tal como figura no projeto divino antes de sua vinda à existência, seria ao mesmo tempo homem e mulher. O arquétipo do homem seria andrógino. Esse andrógino arquetípico recebe também, por vezes, o nome de "homem universal".

Na literatura gnóstica atual, os desenvolvimentos sobre este assunto são muito frequentes, muito abundantes, mas também muito confusos. Consegue-se distinguir neles três tipos ou, antes, três níveis de androginia.

  1. Há primeiro a androginia arquetípica de que acabamos de falar. O homem ideal, no pensamento de Deus, seria andrógino. Mas então, por que não o teria permanecido?
  2. Distingue-se, em seguida, uma androginia primordial ou ancestral. Adão teria sido andrógino antes da criação de Eva; a distinção dos sexos dataria da formação de Eva.
  3. Finalmente, vislumbra-se também uma androginia que chamaremos escatológica: quando ocorrer a "reconstituição de todas as coisas", o homem revestirá novamente a forma andrógina, pois ela lhe é, aparentemente, essencial.

Essas considerações, apresentadas, aliás, com mais lirismo do que bom senso (sem contar uma infatigável volubilidade), são típicas da literatura gnóstica moderna. Mas a própria noção é muito antiga; ela data dos primórdios da gnose histórica. Encontra-se mesmo no paganismo antigo.

Qual é a doutrina da Igreja sobre tal assunto? Na verdade, o magistério nunca se ocupou muito disso, pois essa hipótese é tão estúpida. Pode-se, no entanto, recordar um certo número de verdades inquestionáveis que se opõem a essa monstruosidade.

O homem não tem senão um único arquétipo, que é o Verbo encarnado. Não há outro. Ele é "o primogênito de toda a criação". Cristo é o modelo sobre o qual toda a espécie humana foi constituída. A própria Virgem Maria, que é a segunda Eva, foi formada segundo o modelo de Cristo; Ela é a "ajuda semelhante a Ele" de que fala a Escritura. Ora, Nosso Senhor não era andrógino, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem: "Um menino nos nasceu. Um Filho nos foi dado".

Na distinção dos sexos, que é uma das grandes leis da natureza viva, Deus quer, evidentemente, nos fazer meditar sobre um mistério de dualidade. No quarto dia da criação, vemos aparecer simultaneamente os dois grandes luminares. O sol é a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo, que será chamado de "sol da justiça". E a lua é a figura da Virgem Maria, que será chamada "espelho da justiça" porque reflete a luz do sol, não tendo luz própria.

Nunca foi escrito em lugar algum que o sol e a lua proviriam de um astro anterior que os teria contido a ambos e que se teria desdobrado posteriormente. O que vemos de imediato são dois astros, dos quais um, menor, tira sua luz do outro. É esse mistério de dualidade, expresso nos fatos, que temos de meditar, sem ir inventar outro que nem a Escritura, nem a natureza nos fornecem. Nem a Escritura, nem a Tradição, nem os Padres (salvo algumas exceções que se contam nos dedos de uma mão), nem o magistério jamais falaram de um ser simultaneamente homem e mulher que teria constituído a etapa preparatória da humanidade.

Ao contrário, encontramos abundantemente o andrógino entre as divindades pagãs, as quais são entidades satânicas segundo os salmos: "Todos os deuses dos pagãos são demônios (Sl 96,5)". No mundo do politeísmo, temos a escolha entre os ancestrais do andrógino.

Por que Deus recorreu a dois sexos diferentes para realizar a procriação? Esse é o mistério que Ele nos dá para meditar. Podemos encontrar alguns começos de explicação. Não podemos elucidá-lo totalmente. O que é certo é que o andrógino, sob o pretexto de esclarecer esse mistério, o obscurece singularmente e cria mais problemas do que resolve.

O andrógino é o tipo mesmo da monstruosidade demoníaca. É uma maneira, para Lúcifer, de tomar, na religião mundial, o lugar de Jesus Cristo. Pois, nessa concepção, seria o monstro andrógino, isto é, Satanás, que geraria, por desdobramento, o Cristo e Sua Mãe, os quais teriam, portanto, um ancestral comum que não seria outro senão Lúcifer. Que cristão digno desse nome aceitará uma doutrina assim?