Exoterismo e Esoterismo
Vemos em toda parte aparecer, sob a influência dos escritores neognósticos, as duas noções gêmeas de exoterismo e esoterismo. Esses escritores pretendem distinguir, em todas as religiões, dois níveis de doutrinas e práticas, em suma, duas religiões sobrepostas.
O nível superficial e visível é chamado exotérico. É o do povo, que é muito sumariamente instruído sobre as coisas da religião. O exoterismo é a forma pública e oficial da religião; com suas formulações dogmáticas, suas práticas cultuais, suas circunscrições territoriais, sua disciplina...
O nível inferior, que é reservado aos iniciados, é chamado esotérico. É o das explicações mais sutis, que não seriam compreendidas pelo grande público, mas que fornecem a uma elite religiosa uma compreensão mais aprofundada, menos formalista, mais universal das instituições oficiais. O nível esotérico formaria a infraestrutura tradicional de cada religião, ligando-a assim, sem que ela saiba, à tradição primordial.
Tal é a distinção que é atualmente aceita em todas as escolas gnósticas. E em toda parte se especifica enfaticamente que ela também se aplica à religião cristã, que teria assim, sem saber, a mesma infraestrutura esotérica que todas as outras religiões.
Examinemos a validade dessa dupla noção. A distinção entre o ensino esotérico e o ensino exotérico é real apenas nas religiões que se ligam aos mistérios inferiores, que são mistérios de trevas e, portanto, precisam de uma zona de trevas para se perpetuar. Essas religiões realmente possuem um nível inferior que deve permanecer oculto, reservado que está aos iniciados, aos "iluminados" que passaram por uma afiliação a esses mistérios inferiores. Há um esoterismo islâmico, assim como há um esoterismo nas religiões iranianas e orientais. E é assim porque essas religiões são alimentadas por uma mística de ordem luciferiana.
Mas a distinção desses dois níveis não se aplica à religião cristã porque ela se liga aos mistérios do alto, que são mistérios de luz: «Foi publicamente que falei ao mundo. Não ensinei em segredo». A luz que Jesus Cristo trouxe não deve ser colocada debaixo do alqueire, mas sim no candelabro, para iluminar toda a casa. A Igreja Católica não possui ensinamento secreto. Os sacramentos iniciam nos mistérios do alto; eles não são práticas de ocultismo; são administrados publicamente.
Quando vemos um escritor se referir ao par "esoterismo-exoterismo" e fazer disso a base de seus desenvolvimentos, já temos uma sólida presunção de pertencimento à gnose moderna. Tal posição lhe permite expor as verdades cristãs em termos nebulosos, ambíguos e estranhos, sob o pretexto de lhes dar uma formulação menos rígida, menos contingente, menos "dogmática". Nessas ambiguidades e estranhezas, ele introduzirá conceitos gnósticos como os que vamos analisar. Desconfiemos daqueles que falam de um esoterismo cristão.