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A tripartição

A tripartição é a aplicação da teoria do mundo intermediário à constituição elementar do homem. Assim como o macrocosmo, ou seja, o universo, é composto de três mundos, o microcosmo, ou seja, o homem, é composto de três substâncias. Ele também possuirá seus dois hemisférios e seu disco intercalar. Daí o nome de tripartição; diz-se também tricotomia.

O corpo do homem é o equivalente ao hemisfério inferior do globo cósmico; ele pertence ao mundo físico, ninguém discorda disso. O espírito, ao qual os gnósticos dão o nome de Pneuma em grego e de Spiritus em latim, pertence ao hemisfério superior, ou seja, espiritual; aí também todos concordam. Quanto à alma, que eles chamam de psyché em grego e anima (ou às vezes "animus") em latim, ela é representada pelo disco intercalar; ela é, portanto, de natureza mista, pois tem uma face espiritual e uma face corporal.

Os partidários desta teoria invocam a seu favor todas as passagens da Sagrada Escritura onde se fala de "anima" e "spiritus"; e essas passagens são numerosas. Sem entrar nos problemas de interpretação dessas passagens, constatemos por ora que a teoria da tripartição acarreta graves erros de doutrina.

Se a alma humana (então chamada animus ou psyché), por sua pertença ao mundo intermediário, é ao mesmo tempo semi-material e semi-espiritual, ela oferece um ponto de passagem privilegiado para a ascensão da matéria em direção ao espírito e depois em direção a Deus, sem solução de continuidade. É precisamente nesta ascensão que trabalham os alquimistas. Eles querem colocar em movimento a Transmutação do universo, e a do homem em particular, como veremos mais adiante. É por isso que os alquimistas se apoiam solidamente na teoria da tripartição.

Esta mesma teoria é igualmente preciosa para todos os doutrinários que afirmam que o homem possui, em sua natureza essencial, um germe divino acidentalmente enterrado na ganga corporal. O corpo é material. A psyché é mista. O pneuma é espiritual, portanto divino. O conceito de tripartição constitui, portanto, para os gnósticos que querem fazer de todo homem um fragmento da "deidade", uma excelente base teórica.

Não é este o ensinamento da Igreja sobre o homem. O magistério sempre estipulou que o homem é composto apenas de dois elementos, um corpo físico e uma alma espiritual. O concílio de Vienne (5º ecumênico) o definiu assim:

"Além disso, com a aprovação do santo Concílio, reprovamos como errônea e oposta à fé católica toda doutrina ou toda tese que afirme temerariamente que a substância da alma racional e intelectual não é verdadeiramente e por si mesma a forma do corpo humano ou que a coloque em dúvida; e definimos, para que todos conheçam a verdade da fé pura e para fechar a porta à entrada sub-reptícia de todo erro, que qualquer um que ousar doravante afirmar, defender ou sustentar obstinadamente que a alma racional ou intelectual não é por si mesma e essencialmente a forma do corpo, seja considerado como herético" (G. Dumeige, A fé católica, § 265).

Quando vemos um autor se engajar nesta teoria da tripartição, podemos estar certos de que, algumas páginas adiante, encontraremos em seus escritos outras proposições gnósticas.