Skip to main content

A Reencarnação

Quase todas as doutrinas esotéricas modernas envolvem a crença na reencarnação das almas. Quando não se referem explicitamente a essa crença, geralmente é porque a subscrevem implicitamente.

A reencarnação é o novo nome da metempsicose. Também é chamada de teoria da migração ou da transmigração das almas. Encontra-se ainda, para designá-la, a palavra palingênese, que, segundo a etimologia, significa a mesma coisa: "palin" quer dizer "de novo" e "gênese" sugere a ideia de geração e, portanto, de encarnação. Diz-se também, embora mais raramente, revivescência. Todas essas denominações, que diferem apenas por pequenas nuances, são praticamente sinônimas. É possível, portanto, dar-lhes uma definição comum: é a doutrina segundo a qual as almas humanas passam de um corpo a outro. As almas sobrevivem aos corpos (o que ninguém duvida); e, após aguardarem por um tempo mais ou menos longo e em situações diversas, segundo as escolas, elas retornariam à terra para animar novos corpos no momento de seu nascimento.

Sabe-se que se trata de uma doutrina muito arcaica. Contudo, é preciso notar que ela não é absolutamente primitiva. Assim, por exemplo, nem os textos, mesmo os mais antigos, da Bíblia, nem os primeiros escritos védicos (aqueles que foram trazidos à Índia pelos arianos) fazem menção à transmigração das almas. É provável que essa concepção tenha surgido na época em que o politeísmo empírico começou a se sistematizar e a ser objeto de teogonias mais ou menos coerentes.

No entanto, é difícil atribuir uma origem precisa à doutrina da reencarnação. Alguns dizem: ela vem do orfismo. Outros, não sem algumas razões, a consideram uma teoria egípcia. Sabe-se também que o budismo contribuiu amplamente para difundi-la no Extremo Oriente. De qualquer forma, sua área de difusão cobre o mundo inteiro, apesar da hostilidade de alguns filósofos como, por exemplo, Aristóteles (que a criticava) e da resistência que o Cristianismo lhe opõe desde o início.

Os gnósticos dos três primeiros séculos ensinaram a metempsicose de diversas formas. No entanto, o Cristianismo, com o qual ela não é compatível, conseguiu eliminá-la completamente do Ocidente. Essa crença só sobreviveu em terras cristãs ao se marginalizar. Ela foi professada, discretamente, apenas pelos ocultistas de todas as épocas. No século XIX, foram os espíritas e os teosofistas que voltaram a ensiná-la publicamente e até a fazer dela uma das peças principais de seus sistemas.

Precisamos agora examinar quais são as diferentes fases do raciocínio reencarnacionista.

Façamos uma primeira constatação. A reencarnação supõe a crença na sobrevivência da alma após a morte. Ora, um exame, mesmo rápido, nos ensina que os partidários da reencarnação são quase sempre também partidários da dualidade da alma. Eles pensam todos, ou quase todos, que o homem possui duas almas: um "princípio vital" (animus ou psique) que é gerado pelos pais e um "princípio pensante" (spiritus ou pneuma) que vem do além. Para eles, o princípio vital, com vocação vegetativa, morre ao mesmo tempo que o corpo, ou sobrevive a ele por pouco tempo. Enquanto o princípio pensante é dotado de uma sobrevivência a longo prazo. As coisas se complicam ainda mais nas escolas que admitem o "duplo astral". Mas, enfim, quaisquer que sejam as escolas, há sempre, entre os reencarnacionistas, um princípio espiritual que sobrevive ao corpo.

Numa segunda constatação, observamos que a reencarnação é invocada, como base de raciocínio, por todos aqueles que pretendem desdramatizar a morte. Temos ouvido muito falar dessa "desdramatização" atualmente por aqueles que militam a favor do aborto e da eutanásia. Manobras inofensivas, dizem eles, já que a morte não é um drama. A morte constitui apenas uma mudança de estado. É a aquisição de um novo estado que apresenta suas vantagens e desvantagens, assim como o estado terrestre.

Ora, para "desdramatizar a morte", nada melhor que a reencarnação. Nesses sistemas, de fato, a alma não deixa definitivamente a terra e a natureza. Ela está destinada a voltar para seguir um processo automático de purificações sucessivas. Não há nem julgamento particular da alma, nem sentença imediata de recompensa ou de castigo. Fora com essas superstições medievais! A ciência moderna da psicologia humana nos reensinou noções antigas que o cristianismo havia lançado no esquecimento. Daí os inúmeros livros tratando da sobrevivência, da transmigração das almas e das supostas lembranças de nossas vidas anteriores.

A "desdramatização" da morte nos dá o exemplo de um caso de aplicação da teoria da reencarnação. Mas é hora de ver como essa teoria é estruturada em seu conjunto.

A versão mais completa da metempsicose é a professada no hinduísmo. Para o hinduísta, a existência terrestre é um mal. É um exílio e uma decadência. É uma decadência porque, na existência terrestre, as almas individuais são separadas da alma universal, tornando-se, assim, frações excêntricas. Elas se encontram temporariamente "fora de seu caminho". Pois é somente na alma universal que se realiza o ser perfeito, a totalidade da essência, a unidade absoluta e, portanto, a felicidade inefável.

As almas em estado individual, separadas do centro cósmico, são arrastadas no turbilhão exterior chamado samsara, que constitui a imensa "roda cósmica". E a lei que incorpora as almas individuais à roda do "samsara" é chamada de lei do karma.

Segundo a lei do "karma", toda ação realizada pelo homem gera consequências terrestres infinitamente, como os círculos que uma pedra provoca ao cair na água. As boas ações provocam consequências libertadoras, e as más ações, ao contrário, consolidam os vínculos que aprisionam a alma ao samsara.

Mas a alma humana é habitada pela "sede de existência" que se chama trishna. É dessa sede de existência que vem todo o mal, pois é ela que arrasta a alma na cadeia de consequências de suas ações terrestres, ou karma.

Como, então, acabar com essa cadeia de consequências que prende a alma à roda cósmica? Há dois meios:

O primeiro consiste em deixar fluir a sequência de reencarnações até que a soma dos atos reprováveis cometidos ao longo das vidas sucessivas seja compensada pela soma das boas ações libertadoras.

O segundo meio pode ser utilizado já nesta vida. Ele consiste em abolir em sua alma a sede de existência por meio de uma inação total e da evacuação de todo pensamento e de toda volição. Assim, o homem interrompe a cadeia das consequências kármicas e sua alma deixa o samsara, e portanto, a necessidade eterna de reviver.

Em ambos os casos, a alma, ou mais exatamente sua parte espiritual, se une à alma universal da qual era apenas um fragmento excêntrico. Ela perde sua individualidade distinta, que causou seu infortúnio na terra, e se funde no nirvana onde reina a unidade absoluta sem qualquer distinção individual.

Vê-se que, no hinduísmo, a reencarnação faz parte de um vasto mecanismo através do qual é a própria alma que opera sua própria libertação. O hinduísmo ignora a Redenção e não sente necessidade dela, pois as reencarnações operam uma espécie de redenção automática. Entende-se a impermeabilidade do Extremo Oriente à pregação cristã.

Vimos que a metempsicose também se encontra no Ocidente mediterrâneo, embora englobada em sistemas um pouco diferentes. Mas esses sistemas apresentam em comum os seguintes traços.

  1. A metempsicose é mais comumente fundamentada no princípio da preexistência das almas. Todos os espíritos teriam sido criados ao mesmo tempo, tanto as almas quanto os anjos ou outros gênios. O número de almas seria, portanto, fixo. Não poderia aumentar.

  2. Em seguida, as almas humanas foram submetidas a uma projeção brusca sobre a terra, em corpos carnais, devido a um processo e por razões que diferem de acordo com as escolas. Ora é o seu próprio apetite que as leva a isso. Ora, como entre os gnósticos, é devido a uma incompetência do "Demiurgo". Em todos os casos, essa encarnação da alma é uma coisa nefasta para a própria alma.

  3. As almas entram, assim, na roda das reencarnações, que, em seu conjunto, têm um valor expiatório. A metempsicose constitui um sistema de auto-retribuição. Ela dilui a noção de "julgamento" até fazê-la desaparecer.

  4. É necessário constatar que os sistemas reencarnacionistas supõem que a alma humana é polivalente, no sentido de que ela é capaz de se adaptar a todo tipo de corpo. Em alguns desses sistemas, elas se reencarnaram tanto em corpos de animais quanto em corpos humanos, em plantas quanto em pedras.

Os autores esotéricos observam que a Igreja nunca condenou explicitamente a doutrina da reencarnação. É verdade, de fato, mas há uma razão evidente para isso. A metempsicose é considerada por todos os escritores da Igreja e pelo magistério como incompatível com o ensino comum sobre o "composto humano". Essa incompatibilidade aparece em dois pontos de doutrina particularmente incontestáveis.

Primeira incompatibilidade. A reencarnação pressupõe a preexistência da alma. Na hipótese reencarnacionista, toda alma humana já animou outro corpo em um passado mais ou menos remoto. Ora, a Igreja Católica ensina a não- preexistência da alma. O sínodo de Constantinopla declara em 543:

> "Se alguém diz ou pensa que as almas dos homens preexistem, no sentido de que elas eram anteriormente espíritos e santas potências que, cansadas da contemplação de Deus, teriam se voltado para um estado inferior; que, por esse motivo, o amor de Deus teria esfriado nelas, o que as teria feito chamar em grego 'almas' e que elas teriam sido enviadas para os corpos como punição, que seja anátema" (Dumeige, A fé católica, 1961, p. 169).

A alma é a forma substancial do composto humano. Ela é criada no momento da concepção.

Mas então é preciso esclarecer que Deus, ao criar as almas sucessivamente (e não todas juntas no início do mundo), apenas multiplica a espécie humana em conformidade com a lei que Ele mesmo impôs no final do Sexto dia: "Crescei e multiplicai-vos".

Segunda incompatibilidade. Ela aparece não mais no momento do nascimento, mas no momento da morte. A sentença proferida no momento do julgamento particular ao qual cada alma é submetida após a morte é executada imediatamente. De acordo com o segundo concílio de Lyon (1274), as almas dos justos "são imediatamente recebidas no céu". E de acordo com o concílio de Florença (1439), "as almas dos condenados descem imediatamente ao inferno para lá sofrerem o castigo de penas desiguais".

Quanto às almas que não são imediatamente eleitas, nem imediatamente condenadas no momento do julgamento particular, elas entram no purgatório. No entanto, nem o magistério nem nenhum doutor jamais ensinaram que o purgatório consistia em uma migração das almas de corpo em corpo.

Vê-se, portanto, que o sistema da reencarnação é duplamente incompatível com a ortodoxia católica.

Nota

É bom responder a uma objeção que os gnósticos levantam com frequência. Eles afirmam que o profeta Elias se reencarnou na pessoa de São João Batista, oferecendo assim, dizem eles, o exemplo de uma reencarnação registrada e certificada pela Sagrada Escritura.

Na realidade, trata-se de uma interpretação equivocada. Eis o texto de São Mateus. Imediatamente após a Transfiguração e enquanto descem da montanha, os três discípulos que lá estiveram interrogam Nosso Senhor, dizendo:

"Por que, então, os escribas dizem que é necessário que Elias venha primeiro? Mas Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias deve vir e restaurar todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e eles não o reconheceram... Então os discípulos compreenderam que ele lhes havia falado de São João Batista" (Mt 17, 10-13).

Comentário do Padre Fillion:

"Em sua resposta, Jesus distingue duas aparições sucessivas de Elias. Uma real e pessoal, no final dos tempos, a outra figurativa e já cumprida na pessoa de São João Batista".

João Batista, portanto, não é uma reencarnação de Elias. Ele apenas desempenhou um papel precursor análogo ao de Elias. O Batista é o precursor de Jesus sofredor. Elias, em sua aparição no final dos tempos, será o precursor de Jesus triunfante. É por causa de seu papel de "precursor" que se pode chamar João Batista de "um Elias".