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A manifestação

Os escritores esotéricos não chamam o universo de "criação". Eles o chamam de manifestação. Eles consideram o universo como uma emanção existencial do Princípio supremo. Para eles, o universo não foi criado da maneira como entendemos; é a concretização de uma das potencialidades contidas no Princípio supremo. Esses autores explicam que na "manifestação" existem vários níveis que são emanações uns dos outros.

Segundo eles, o universo atual teria sido precedido por outras manifestações em número ilimitado. E no futuro, será seguido por uma infinidade de outras. Cada uma dessas manifestações sucessivas descreve uma trajetória entre um polo espiritual positivo, através do qual ela surge à existência, e um polo material negativo ao qual ela chega após um lento processo de degradação. Emergindo do Princípio sob uma forma espiritual, cada manifestação é o campo de um lento processo de materialização.

Quando a materialização universal está em seu máximo, ocorre uma espécie de explosão, de aniquilamento, e o ciclo recomeça. Cada universo é comparável a uma imensa pulsão elementar, indefinidamente precedida e seguida por outras pulsões. Assim, o universo vive através de uma sucessão de sístoles e diástoles.

A doutrina da Igreja está muito distante desta gnose. E isso essencialmente por duas razões:

  1. O universo não é "emanado de Deus". Ele não é um fluxo exterior da substância divina, pois, nesse caso, seria ele mesmo divino, o que equivaleria a um panteísmo. O universo foi criado ex nihilo; mais precisamente, Deus o fez aparecer onde não havia nada. De modo que existe, entre o Criador e a criação, um abismo que apenas o Criador pode atravessar. A cosmologia cristã não é "emanatista"; ela é criacionista.
  2. Os universos não se sucedem indefinidamente uns aos outros. O mundo, no estado em que o vemos hoje, chamado de "estado de natureza", é precário, provisório e preparatório. Ele será erigido em um estado definitivo chamado estado de glória, muito diferente do estado atual. A natureza, embora seja apta a essa mudança, não possui em si mesma a força de se glorificar espontaneamente. A glorificação exige um novo decreto divino e um novo desdobramento do poder divino que virão aperfeiçoar o ato criador inicial que suscitou a saída do nada.

Em resumo, a teoria da manifestação é incompatível com o cristianismo e se assemelha, queiramos ou não, ao panteísmo emanatista. Quando vemos aparecer a palavra "manifestação" para designar o universo, devemos ficar vigilantes e não tardaremos a ver surgir, um após o outro, todos os grandes temas gnósticos.