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A Alquimia

O tema da alquimia é muito sintomático da pertença à escola gnóstica moderna. Existem, em princípio, duas alquimias: a alquimia operativa e a alquimia especulativa ou espiritual.

A alquimia operativa tem por objetivo a transmutação dos metais e mais particularmente a transformação do "vil chumbo" em ouro. Esta transformação complicada, longa e aleatória é uma das formas da magia. É indubitável que ela envolve, ao mesmo tempo que certas forças naturais pouco manuseáveis, forças diabólicas.

A alquimia especulativa visa um objetivo espiritual. Não se trata mais de transformar o metal, mas o homem. É uma escola de vida interior que tem por objetivo espiritualizar o "eu" individual e elevá-lo à altura do "si" metafísico. Em outras palavras, a alquimia espiritual trabalha para fazer eclodir o germe de absoluto que cada homem é suposto abrigar no fundo de si mesmo. Este método de germinação é rodeado, entre os alquimistas, de um folclore muito especial. A "via contemplativa" da alquimia se apresenta em termos de ciência natural, astronomia e laboratório. Fala-se de dessecação, solução, destilação, sublimação, quintessência, mas também de zodíaco. O fundo do método é uma mística naturalista.

A alquimia operativa e a alquimia especulativa têm em comum uma mesma mentalidade: a da transmutação. A mentalidade alquímica tende a sublimar a natureza (física ou humana) utilizando as forças de sublimação incluídas na própria natureza. É por isso que a literatura esotérica moderna, que adota largamente este estado de espírito alquímico, está repleta de alusões à transfiguração e à assunção. É o homem e o mundo inteiro que devem ser "assuntos" e transfigurados. Apresentam-nos a operação como iminente e como já começada.

Notemos bem que a mutação alquímica do universo não recorre à intervenção divina. É uma auto-sublimação que permanece na ordem da natureza e que o alquimista deve apenas ajudar e acelerar, por meios de ordem mágica, como vimos. Se acontece que se faz referência a Deus, é a um Deus que opera fora da Igreja. Podemos, portanto, perguntar-nos se se trata realmente do verdadeiro Deus.

Analisemos agora essa mística e essa mentalidade alquímica à luz da fé. Não há dúvida de que o Criador destinou a criação a ser transformada. A Escritura nos ensina que, no final dos tempos, por um decreto que completará e mesmo superará em poder o da criação ex nihilo, Deus fará todas as coisas novas _(Ecce nova facio omnia, Apoc., XXI, 5). Já Isaías havia dito, no mesmo sentido: "Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, nem considereis as coisas antigas. Eis que faço coisas novas (Ecce ego facio nova) e agora elas brotam" (Is 43,18-19). Esse novo estado do universo é o estado de glória.

Certamente, a natureza comporta uma aptidão para a glorificação, pois as obras de Deus se preparam umas às outras. A natureza aspira a essa transformação. Ela aspira a isso, mas é incapaz de realizá-lo por suas próprias forças. O decreto divino e o poder que Ele colocará em ação são indispensáveis para realizar a passagem ao estado de glória. É Deus quem o realizará (Eis que Eu).

É essa necessária operação divina que os alquimistas não querem admitir. Eles querem "assumptar" e "transfigurar" o mundo sem a fé, sem a graça, sem Deus. Eles querem antecipar seus decretos. É uma atitude tipicamente luciferina.

Estaremos atentos para não nos deixarmos enganar por essas palavras de "transfiguração" e "assunção" que a literatura gnóstica emprega de forma errada e indiscriminada. Elas pertencem à terminologia cristã, mas ao aplicá-las a um suposto florescimento espontâneo da natureza, os alquimistas lhes dão um significado que não é cristão e as incorporam a raciocínios totalmente distorcidos.