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XII - Se vós quiserdes, vós vos salvareis

Barônio lembra que Juliano, o apóstata, depois de sua infame apostasia, concebeu um ódio tão grande contra o Batismo, que ele procurava dia e noite os meios de cancelá-lo. Ele preparou, para isso, um banho com sangue de cabras e se colocou nele, querendo, com esse sangue impuro de uma vítima consagrada a Vênus, retirar de sua alma o carácter sagrado do Batismo. Essa conduta vos parece abominável: mas se Juliano tivesse atingido seu desejo, é certo que ele sofreria muito menos no inferno.

Pecadores, o conselho que eu quero vos dar vos parecerá sem dúvida, estranho; e, no entanto, para conseguir o bem, é (esse conselho), pelo contrário, inspirado por uma tenra compaixão por vós. Eu vos conjuro pois de joelhos, pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Coração de Maria, que mudem de vida, que vos recoloqueis no caminho que conduz ao Céu, e de fazer tudo o que vocês puderem para pertencerem ao pequeno número dos eleitos. Se, ao invés disso, vós quereis continuar a caminhar na via que conduz aos infernos, achai ao menos o meio de cancelar de vós o Batismo. Infelizes de vós, se vos transportais ao inferno tendo gravado em vossa alma o nome Sagrado de Jesus Cristo e o carácter sagrado de cristão. Vossa confusão, por causa disso, será ainda maior. Fazei, pois, isto que eu vos aconselho: se vós não querer vos converterdes, ide a partir de hoje pedir ao vosso pároco para tirar vosso nome do registro dos Batizados, afim de que não reste mais nenhuma lembrança de que você era cristão; suplicai ao vosso anjo da guarda de cancelar de seu livro as graças, as inspirações e os socorros que ele vos deu por ordem de Deus, pois, infelizes de vós se ele os lembrar. Dizei a Nosso Senhor que Ele retome para si a sua Fé, o seu Batismo e os Seus sacramentos. Vós estais apreendidos de horror por esse tipo de pensamento. Jogai-vos, pois, aos pés de Jesus Cristo, e dizei-Lhe, com lágrimas nos olhos e com o coração contrito: "Senhor, eu confesso que até aqui eu não vivi como cristão, eu não sou digno de ser contado entre os vossos eleitos, reconheço que mereço a condenação, mas Vossa misericórdia é grande: e, cheio de confiança em Vossa graça, eu protesto que eu quero salvar a minha alma, deva eu sacrificar minha fortuna, minha honra, e mesmo minha vida, contanto que eu salve a minha alma (4). Até aqui eu fui infiel, eu me arrependo, eu deploro, e detesto minha

infidelidade, e vos peço, disso, humildemente perdão. Perdoai-me, meu Bom Jesus, e fortificai-me ao mesmo tempo, afim de que eu me salve. Eu não Vos peço nem riquezas, nem honras, nem prosperidade; eu peço apenas uma coisa: a salvação da minha alma__".

E Vós, ó Jesus! Que dizeis? Aqui está a ovelha errante que voltou a Vós, ó Bom Pastor! Abraçai esse pecador arrependido, abençoai suas lágrimas e seus suspiros, ou, antes, abençoai esse povo tão bem disposto e que não quer mais buscar outra coisa que sua salvação. Protestemos, meus irmãos, aos pés de Nosso Senhor, que nós queremos, custe o que custar, salvar nossa alma. Falemos-Lhe, com lágrimas nos olhos: "Bom Jesus, eu quero salvar a minha alma". Óh, benditas lágrima, óh bem-aventurados suspiros!

Eu quero, meus irmãos, mandar-vos novamente, hoje, todos consolos. Se, pois, vós me pedis meu sentimento sobre o quanto ao número dos eleitos, ei-lo aqui: quer tenham muitos ou poucos eleitos, eu digo que aquele que quer se salvar, se salva, e que ninguém se perde se não quer se perder. E, se é verdade que são poucos que se salvam, é porque existem poucos que vivem bem. De resto, comparem essas duas opiniões: a primeira, que diz que a maior parte dos católicos são condenados; a segunda, que pretende, ao contrário, que a maior parte dos católicos são salvos; representai-vos um anjo, enviado por Deus para confirmar a primeira opinião, que venha dizer-vos não somente que a maior parte dos católicos são condenados, mas que, de toda essa multidão aqui presente, um apenas será salvo. Se você obedece aos mandamentos de Deus, se você detesta a corrupção do século, e se você abraça com um espírito de penitência a Cruz de Jesus Cristo, você será, então, esse único que se salvará. Representai-vos, em seguida, que esse anjo volta entre vós, e que, para confirmar a segunda opinião, ele vos diz que não somente a maior parte dos católicos são salvos, mas que de todo esse auditório uma só pessoa será condenada, e todos os outros se salvarão. Se você continua, depois disso, com vossas deteriorações, vossas vinganças, vossas ações criminais, e com vossas impurezas, vós sereis, então, esse único que será condenado.

Pra que serve, pois, saber se são poucos ou muitos que se salvam? "Empregai-vos em garantir vossa salvação certa por vossas boas obras", nos diz São Pedro. "Se vós quiserdes, vós vos salvareis", disse Santo Tomás de Aquino à sua irmã, que perguntou-lhe o que ele deveria fazer para ir ao céu. Eu vos digo a mesma coisa: e aqui está, como provo minha asserção. Ninguém se condena se não peca mortalmente, isso é de Fé; ninguém peca mortalmente se não quer, é uma proposição teológica incontestável (5). Logo, ninguém vai ao inferno se ele não quer. A consequência é evidente. Isso não é suficiente para vos consolar? Chorai os pecados passados, confessai-vos bem, não pequem mais no futuro, e vós sereis todos salvos. Por que, pois, tanto se atormentar, desde que é certo que para ir pro inferno é preciso pecar mortalmente, e que para pecar mortalmente, é preciso querer, e, por consequência, não vamos ao inferno somente se queremos? Isso não é uma opinião, mas uma verdade incontestável e bem consoladora; que Deus vos faça compreender e vos abençoe. Amém.