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Os Padres da Contra-Igreja

Resta-nos perguntar por que os historiadores da Igreja não classificam a gnose entre as heresias, mas sempre a tratam como uma manifestação de um gênero especial. Depois de responder a essa pergunta, compreenderemos melhor a gnose de hoje.

Os heresiarcas, isto é, os líderes das heresias, rejeitam um número restrito de proposições dogmáticas, mas continuam a aceitar as outras. Eles se defendem de colocar em questão o conjunto da Fé e das instituições. Recusam apenas alguns artigos da Fé. Por exemplo, Ário nega a divindade de Jesus Cristo. Pelágio contesta a necessidade da graça e afirma que o homem pode se salvar por meios naturais. Nestório não quer admitir que haja em Jesus Cristo duas naturezas em uma única pessoa. Êutiques não reconhece a natureza humana de Nosso Senhor; ele considera que ela é totalmente absorvida pela natureza divina.

Mas todos eles pretendem conservar os dogmas que não atacam expressamente. Tanto quanto sua posição aventureira lhes permite, mantêm os sacramentos, a moral, a disciplina clerical, as circunscrições territoriais e o conjunto das instituições eclesiásticas.

A gnose, ao contrário, questiona toda a ortodoxia para edificar um sistema completo e diferente. Ela busca em outras fontes; admite outras revelações que se somam à Revelação de Cristo e naturalmente a transformam. Assim, ela não constitui uma heresia definida, mas as engendra todas. Pode-se chamar a gnose de "a mãe das heresias", pois ela contém todas em germe.

Em plena época patrística, e em face dos "Padres da Igreja", constituiu-se verdadeiramente um colégio antagonista de "Padres da Contra-Igreja". Pois é assim que se pode chamar personagens como Menandro, Basílides, Valentim, Marcião e outros. A gnose é comparável a um vasto micélio rastejante do qual as heresias surgiram como enormes cogumelos. Gerando as heresias, a gnose desempenhou incontestavelmente um papel de maternidade.

Mas o que é ainda mais grave, é que ela também se pretende suplantadora. Unificando o politeísmo, a filosofia, o judaísmo e o Evangelho, ela quer tirar da Igreja sua catolicidade, ou seja, sua universalidade.

Ela ambiciona suplantá-la, dominá-la. Ela lhe opõe uma universalidade mais ampla. A Igreja é assim reduzida a não ser mais que um caso particular da gnose universal.

E é precisamente essa mesma ambição que vamos encontrar na gnose moderna à qual estamos chegando. Mas, antes, é preciso examinar como a ideia sincrética também foi desenvolvida por outro movimento de pensamento, que não é positivamente gnóstico e que se chama a escola de Alexandria ou escola neoplatônica.