O Princípio Supremo
A teologia de R. Guénon é dominada por um "princípio supremo" chamado Brahma. É um princípio abstrato que ele define como sendo a possibilidade universal. Este princípio pertence à essência e não à existência. Não tem nada de pessoal. É uma entidade de raciocínio.
Abaixo deste Hipérteos ou supremo Brahma, coloca-se um segundo princípio, menos geral e já mais próximo da existência real. Ele recebe o nome de Ishwara. Define-se como a virtualidade particular do mundo presente.
Abaixo de Ishwara, encontra-se uma espécie de trindade, chamada Trimurti, que reúne três divindades: Brahma, Vishnu e Shiva. Este segundo Brahma é o reflexo divino e existencial do supremo Brahma e representa, na Trimurti, o fator de produção. Vishnu é o fator de conservação e Shiva é o fator de evolução. Tal é, pelo menos, a descrição de R. Guénon. Mas não garantimos que seja realmente o pensamento antigo da Índia.
Depois vem o universo concreto. Ele não é chamado de "criação", mas de Manifestação. Ele realiza, na existência diferenciada, a "virtualidade particular" contida abstratamente em Ishwara. A Manifestação não é produzida "ex nihilo". Ela resulta de um processo do tipo emanatista. Compreende-se que Guénon tenha querido evitar a palavra criação e preferido a de Manifestação, que se distingue claramente da terminologia cristã.
Desse emanatismo, mais tácito, aliás, do que claramente expresso, resulta que a alma humana não difere da divindade senão pelo grau, mas não pela natureza. Este ponto doutrinário acarretará consequências na conduta da contemplação. Ele nos reconduzirá ao tipo de contemplação já descrito no Tratado da Reintegração de Martinez-Pasqualis.
Qual será, com efeito, o objetivo do adepto que medita intensamente? Obviamente, ele vai dirigir sua alma em direção ao Princípio Supremo, do qual ela emana em última instância. Ele vai tentar fazer com que ela "reintegre" a virtualidade essencial que contém seu arquétipo e cuja manifestação existencial ela é.