O G.R.A.C. de Perpignan
Avançando a grandes passos, tivemos que negligenciar muitos episódios secundários que teriam sido, no entanto, muito instrutivos. Nossa última etapa será o G.R.A.C. de Perpignan. O "Grupo de Pesquisa de Antropologia Criacional", fundado na universidade de Perpignan em 1982, publica uma revista intitulada "Epignosis", cujo primeiro número apareceu em junho de 1983.
A antropologia de que se trata é dita "criacional", porque o homem é considerado, pelos pesquisadores do G.R.A.C., como sendo de natureza divina e, consequentemente, como detentor de certo poder criador, não apenas sobre si mesmo para fazer eclodir nele o deus que ele é na realidade, mas também para colaborar na transfiguração do universo e na produção de uma humanidade de um novo tipo.
De onde vem a palavra "Epignosis"? Y. A. Dauge, o membro mais ativo da equipe fundadora, explica que ela foi escolhida na Epístola de São Paulo aos Colossenses, onde se encontra no texto grego:
"...revesti-vos do homem novo, aquele que caminha para o verdadeiro conhecimento (eis epignosia) renovando-se à imagem de seu Criador" (Col. III, 9-11).
Epignosis é, portanto, o conhecimento que faz do homem um criador. É pelo menos o que o contexto nos faz entender.
Essa etimologia escriturística não nos surpreende. Já constatamos muitas vezes o hábito dos gnósticos de extrair sua terminologia da Escritura ou do dogma para depois desviá-la de seu sentido cristão. É o que acontece aqui. A etimologia assim exposta mostra claramente que o Cristianismo fará parte da síntese que nos será apresentada. A revista Epignosis permanece fiel à linha dos velhos gnósticos que associam o paganismo, a filosofia, o judaísmo e o cristianismo. Ela acrescenta as religiões orientais, já que tal é a "abertura" atual, elaborando assim uma espécie de Sabedoria universal, que não é outra senão o primeiro rudimento, ainda nebuloso, da religião universal. Dizemos rudimento porque falta toda a parte sacramental que deve comportar uma religião completa, mas na qual Epignosis não toca, pelas razões que evocaremos em seguida.
O G.R.A.C. e sua revista multiplicam as declarações de pertencimento à gnose imemorial. Não somos nós, portanto, que os classificamos arbitrariamente entre os gnósticos. Eles próprios se classificam assim.
Três brilhantes universitários formam a equipe fundadora do G.R.A.C.: Yves-Albert DAUGE, Jean BIES e Joël THOMAS. Os colaboradores que posteriormente atraíram também são, em sua maioria, universitários. Cada número da revista reproduz a lista de trinta e um membros e colaboradores do G.R.A.C. Mencionemos apenas aqueles que têm mais chances de serem conhecidos por nossos leitores: Raymond Abellio, filósofo e romancista, Jacques d'Arès, diretor da revista "Atlantis", Jean-Gaston Bardet, urbanista e ao mesmo tempo especialista em cabala, Bernard Besret, doutor em teologia, ex-prior da abadia de Boquen, Robert Linssen, diretor do Instituto de ciência e filosofia novas de Bruxelas. Limitemo-nos a esses poucos nomes.
A equipe universitária de Perpignan está longe de esconder suas fontes doutrinárias. Pelo contrário, ela estabeleceu um inventário extremamente bem feito, sob a forma de uma bibliografia comentada, classificada por assuntos, cuja compilação é muito interessante. Mas os escritores, antigos e modernos, que devem ser mais diretamente considerados como seus "mestres de pensamento" foram reunidos desde o primeiro número de Epignosis. Eles são vinte e quatro, eis os principais:
C.G. Jung, G. Bachelard, R. Guénon, Fr. Schuon, R. Abellio, H. Corbin, St Lupasco, G. Durand, M. Eliade, G. Scholem, R. Linssen.
A simples leitura dessa lista de mestres do pensamento nos faz pressentir que a síntese da Epignosis será muito ampla, pois vemos nela figurar escritores pertencentes a tendências até agora bastante distintas, como por exemplo a tendência guenoneana, que é de espírito muito religioso, e a tendência do círculo Eranos de Ascona, com seu "Sagrado sem Deus".
O lançamento em flecha do G.R.A.C. de Perpignan exige imperiosamente a comparação com os começos estrondosos do G.R.E.C.E.: método análogo, segurança na manobra, federações de agrupamentos pré-existentes, viés pluridisciplinar marcado, terminologia sobreposta em muitos pontos. Trata-se de uma filiação real ou de um simples mimetismo involuntário, devido a circunstâncias análogas? J. A. Dauge seria o "Alain de Benoist" da "Nova Gnose"? Colocamos essa questão sem ter, hoje, nenhum indício decisivo para respondê-la.