O Discurso de Compatibilidade
É uma pretensão muito antiga da gnose aquela de sua compatibilidade com o Cristianismo.Cristianismo - Êmulo de Basílides e Valentim, René Guénon reivindica a mesma compatibilidade para a gnose enriquecida de Hinduísmo e Islã que nos inunda hoje e para cuja elaboração ele contribuiu poderosamente. Ele declara possível, e até desejável, que um cristão que pratica sua religião em nível exotérico, adira ao mesmo tempo à gnose em nível esotérico.
Olhando mais de perto, não se trata de uma simbiose, mas de uma subordinação da Religião à gnose e até mesmo de uma suplantação da Religião pela gnose. O que acontece, de fato, na mente daqueles que são capazes dessa duplicidade? Sua religião se torna para eles um caso particular da gnose. A teologia cristã se torna um caso particular da teosofia universal. A mística cristã se torna um caso particular da mística universal (ou via metafísica na terminologia propriamente guenoniana). A tradição apostólica se torna um caso particular da tradição universal. Esta é a situação que o guenonismo pretende atribuir à Igreja. Mas esta não é a posição que N.S.J.C. lhe deu. Na realidade, não há compatibilidade alguma, nenhuma simbiose possível entre a gnose e a Religião de Jesus Cristo.
A gnose de Guénon veicula ainda muitas outras noções. Seria preciso citar sobretudo aquela do "mundo intermediário" que acarreta tantas e tão graves consequências em matéria de demonologia. Mas devemos parar aqui nossa enumeração e nosso estudo para concluir rapidamente.
R. Guénon, escritor ao mesmo tempo encantador e arrogante, soube dar à sua gnose hinduísta e islâmica uma extraordinária força de expansão. Seus discípulos, próximos ou distantes, são inumeráveis. Nenhum deles segue o mestre de maneira incondicional, pois todos lhe fazem algumas críticas. Mas todos o apresentam de comum acordo como chefe de Escola. Ele já tem seus biógrafos e comentadores. Ele criou uma das famílias mais ativas da gnose moderna.
Formou-se uma verdadeira rede guenoniana que possui suas publicações, seus livros, sua estratégia, seus encontros, como por exemplo o "Colóquio de Cérisy-la-Salle de julho de 1973" que reuniu cerca de trinta escritores de valor. Esta rede, para cuja constituição Guénon trabalhou toda sua vida, mesmo quando residia no Cairo, é hoje perfeitamente operacional.