A Tradição Universal
Segundo R. Guénon e seus discípulos, as doutrinas orientais não seriam outra coisa senão a antiga tradição primordial, também chamada de "tradição universal". É no Oriente, dizem-nos, que ela foi conservada com o máximo de pureza. Eles acrescentam que a tradição cristã, não só é de elaboração muito mais recente, mas também constitui um ramo desviado. Este desvio, ou melhor, esta série de desvios, alegam eles, afasta a Igreja Católica da tradição primordial e universal.
Um católico trairia verdadeiramente sua religião se aderisse a tal doutrina. A Igreja, de fato, sempre ensinou que a tradição primordial, ou adâmica, está incluída na Tradição apostólica da qual ela é guardiã. A tradição primordial constitui, portanto, parte essencial da Tradição apostólica. Já examinamos isso em artigos anteriores, mas não é ruim repeti-lo, porque é muito importante.
O texto do Cânon da Missa contém até uma oração particularmente probatória a este respeito. É a oração "Supra quæ propitio" que o celebrante recita imediatamente após o "Unde et memores". O "Supra quæ propitio" designa solenemente "os presentes do justo Abel" como o protótipo do sacrifício que acaba de ser oferecido no altar. Não é possível ser mais claro e mais formal. Não é possível remontar mais longe. A Igreja não é absolutamente um "ramo desviado" da Revelação e da tradição primordiais. Pelo contrário, é ela a detentora mais autêntica e mais autorizada. E ela tem perfeita consciência disso.
Qual é então o verdadeiro lugar das tradições orientais? São elas que se desviaram. Qual é, de fato, sua origem? Elas provêm de Babel. São a continuação de uma religião que Deus não quis. Ele não a quis quando dispersou as nações para impedir a edificação da Torre que a teria definitivamente consagrado. E não a quis quando suscitou Abraão precisamente para transmitir as antigas tradições messiânicas esquecidas pelas nações. Consequentemente, o famoso teorema da "tradição universal" e o da "unidade transcendente das religiões" que é seu corolário, são ambos falsos. Não existe uma única tradição universal. Na realidade, há duas tradições, das quais uma é fiel e a outra é desviada. A tradição fiel é a da Igreja que ainda oferece o sacrifício do qual o de Abel era a figura. E a tradição desviada é a tradição oriental, é a gnose de antes e depois de Jesus Cristo.