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A Letra G

Bem pregados e cuidadosamente prevenidos que somos contra qualquer tentação de triunfalismo, e convencidos de que o lugar normal da religião cristã nesta terra é o enterro, temos dificuldade em representar o brilho da vitória da ortodoxia, após as dez grandes perseguições e o entusiasmo que ela provocou em todo o Mediterrâneo. A vitória dos mártires havia sido celebrada em 313, no momento do Edito de Milão, promulgado pelo Imperador Constantino para conceder solenemente a liberdade jurídica à Igreja. E a vitória dos Doutores havia seguido de perto; ela foi definitiva no Concílio de Calcedônia, quarto ecumênico, em 451.

As objeções levantadas pela gnose, pelas heresias que são suas filhas e pelo maniqueísmo e o neoplatonismo que são seus irmãos, desapareceram como a névoa ao sol. Os grandes dogmas trinitários, as duas naturezas na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a maternidade divina de Maria, a criação ex-nihilo, o pecado original, o cânon das Escrituras, a liturgia sacrificial, o ciclo sacramental... todo o edifício do cristianismo se impunha à admiração pública com tanta evidência e realidade quanto as grandes basílicas constantinianas que vieram dominar o velho fórum. A própria verdade é triunfar.

Doravante, os apócrifos gnósticos, os hermetica, os hinos de Menandro e de Valentim já não interessavam a ninguém. Não se encontrou mais ninguém para preservar esses grimórios errôneos e maliciosos que tanto perturbaram os espíritos. Eles foram queimados e, acima de tudo, esquecidos. Daí a escassez de vestígios gnósticos de que os historiadores se queixam. Os papiros da gnose sobreviveram apenas nas fronteiras orientais do Império Romano, na Pérsia, na Mesopotâmia, no Alto Egito, onde os reencontramos hoje.

É nessas regiões fronteiriças que os Maometanos os trarão à luz a partir do século VIII. Não tendo as mesmas razões que os cristãos para desprezá-los, eles se interessaram por eles e finalmente os transmitiram ao Ocidente. Mas foi sob uma nova forma, pois eles os misturaram com noções alquímicas e as produções de seu próprio misticismo.

Não estudaremos aqui o lento caminho e a germinação, no território ocidental, da gnose assim veiculada e remodelada pelos árabes. É um assunto complexo que nos atrasaria muito. Após um grande salto sobre os cátaros e os Rosa-Cruz, cheguemos imediatamente, em meados do século XVIII, sob o reinado de Luís XV, no momento em que vemos aparecer, de maneira muito sintomática, as primeiras letras G nos frontispícios das lojas maçônicas. Sabe-se que as doutrinas das lojas se alimentam principalmente das fontes da gnose, do hermetismo, da alquimia, da cabala, da rosa-cruz e, mais recentemente, das religiões orientais. Mas é a gnose que é a fonte mais importante, pois ela serve de canal coletor para todas as outras. A letra G dos brasões maçônicos simboliza essa gnose que assim acaba de reaparecer na Europa nos tempos modernos.

Sob o impulso ao mesmo tempo inventivo e persistente das diversas obediências maçônicas, a contaminação gnóstica da sociedade cristã começará. Mas é impossível, no âmbito destes poucos artigos, traçar a história completa dessa contaminação. Teremos que nos contentar em relatar algumas de suas manifestações características.