A Intuição Contemplativa
Estes são os primeiros marcos do que foi muito justamente chamado de gnose simoniana, a manifestação inicial de uma Escola semi-soterrada que se perpetuou por mais de três séculos.
Simão, o Mago, foi auxiliado na pregação e até na elaboração de sua doutrina por sua companheira, Helena, uma cortesã que ele havia encontrado em Tiro e que também possuía dons proféticos. Ela era, sem dúvida, habitada pelo pensamento divino, Epinoia em pessoa, o que fazia dela, para o mago Simão, uma inspiradora ideal.
É comum notar que a teogonia simoniana toma seus elementos constitutivos simultaneamente das Escrituras Sagradas da Sinagoga, dos primeiros textos da Igreja nascente e das teorias filosóficas de Platão e Filon. Portanto, constitui uma síntese devida à cultura e à ciência de Simão, que era um "gnóstico", ou seja, um "sábio". É uma construção intelectual. Mas não é apenas isso; é muito importante compreender isso claramente.
Pois seus dons de magos davam a Simão e Helena acesso a outra fonte, a da intuição contemplativa. Eles tinham a pretensão de profetizar. Não apenas como um sábio, mas também como um vidente, Simão era visto pelo povo da Samaria:
"Todos o ouviam, desde o menor até o maior, e diziam: Este homem é a virtude de Deus, aquela que se chama a Grande." (Atos VIII, 10).
Assim, desde o início, o conhecimento gnóstico é não apenas especulativo e "discursivo", como se diz, mas também intuitivo. Ele se reivindica de uma certa inspiração celestial diretamente percebida. Claro, essa inspiração não é realmente de Deus, como São Pedro afirmava com veemência:
"Não tens parte nem sorte neste ministério, pois o teu coração não é reto diante de Deus" (Atos VIII, 21).
A mística da gnose nunca será outra coisa senão a falsa mística, contra a qual os mestres cristãos da vida espiritual sempre nos advertiram.
No estado em que Simão, o Mago, a deixou para seus sucessores, essa primeira gnose é incompleta, certamente; veremos sua evolução e proliferação. Mas ela já contém algumas noções essenciais que manterão uma certa constância, e aqui estão as principais: o Princípio universal - a emanação como modalidade geral de surgimento dos seres - o Demiurgo como organizador da matéria eterna - o homem dotado de uma natureza viciada da qual ele tenta se libertar - a contemplação mística como fonte de conhecimento.
Mas só poderemos definir o espírito gnóstico após termos assistido ao conjunto de sua manifestação histórica.