A Gnose Anexa a Ciência
Já se percebe, em R. Ruyer, uma metamorfose que deve chegar a seu pleno florescimento com R. Abellio: a saber, a espiritualização gnóstica da ciência quantitativa. Uma vez que apreende o espírito cósmico, a ciência atinge a divindade e se torna religião:
"A fé possível para o futuro é mais a fé em uma ciência além da ciência positiva, em uma ciência reencontrando os grandes seres vivos por si mesmos em uma natureza animada, misteriosa, mágica e participável, natureza ou antes cosmos vivo, onde o homem, como indivíduo e como espécie, desempenha um papel obscuro, mas que ele pode pressentir e aprender a conhecer cada vez melhor, comunicando-se com os grandes seres do cosmos". (Os Cem Próximos Séculos, página 288).
Não se encontra explicitamente nos escritos de R. Ruyer o emanatismo que forma o fundamento da teologia gnóstica. Nele, ao contrário, os "grandes seres" parecem não ser produtores do universo, mas antes produzidos pelo universo, do qual eles personificam o automatismo, já que são chamados de "normas invisíveis". Mas como entender que o universo tenha produzido seus próprios legisladores? Tudo isso é de uma teologia bastante simplista.
Quanto à escatologia, ou seja, a ciência das "últimas coisas", ela não é claramente definida como cíclica, como é geralmente a escatologia gnóstica. A gnose de Princeton é uma futurologia indefinidamente prolongada, em um tempo sem limite, onde se distingue apenas uma vaga alternância de civilizações e barbáries. Obviamente, não há nesta construção toda, nem juízo final, nem inferno, nem reino eterno.
O professor Ruyer não engana seus leitores quando dá o nome de gnose ao sistema que ele expõe. Encontra-se ali, de fato, em um sincretismo muito amplo, o princípio supremo: os eões, os arcontes, e na terra, os "participantes" contemplativos dedicados à escuta dos grandes seres e aos quais o cristão pode dar de antemão e sem risco de se enganar, os nomes de falsos místicos e de falsos profetas.