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A Estrutura Absoluta

A elaboração de uma nova lógica ocupa um lugar muito importante nos trabalhos dos gnósticos de hoje. Todos pensam que a lógica antiga não atende mais às necessidades do raciocínio científico moderno. Todos a criticam por sua rigidez. Todos questionam o "princípio da identidade" que constitui uma de suas bases, princípio segundo o qual uma coisa não pode ser ao mesmo tempo o que ela é e seu contrário; os novos lógicos querem se livrar desse princípio. Todos fazem à lógica antiga a acusação de manter a distinção fundamental entre o sujeito e o objeto. Todos consideram que ela foi construída sobre critérios que a ciência reconhece hoje como arbitrários.

Mais genericamente, a crítica que fazem à lógica antiga é seu dualismo. Este dualismo, dizem eles, conduz a filosofia e a ciência a uma série de situações de dúvida. A palavra da moda para designar tal situação é aporia, que significa "sem saída"; certamente não é nova, mas tem um ressurgimento de uso entre os Gnósticos da moda. Em resumo, todos querem se livrar da velha lógica para estabelecer outra que não será mais dualista, mas que será mais flexível, mais polivalente e que finalmente admitirá a "coincidentia oppositorum" da qual esperam maravilhas.

R. Abellio se preocupa muito com esta questão e a tratou em profundidade naquele que ele mesmo apresentou como a mais importante de suas obras, "A Estrutura Absoluta", obra que não deve ser confundida com "A Busca do Absoluto", romance de Balzac do qual acabamos de falar. É em "A Estrutura Absoluta" que R. Abellio coloca o postulado que já conhecemos dele, o da interdependência universal. Deste postulado, ele deduz um certo número de consequências e, em particular, uma crítica à lógica dualista e sua substituição por um esquema de raciocínio de quatro termos, esquema ao qual ele naturalmente dá o nome de "quaternidade" e que justifica da seguinte maneira.

Toda observação científica é uma percepção sensorial que não coloca em jogo apenas os dois termos aos quais era reduzida antigamente, a saber, o olho do observador e o objeto observado. Pois basta tomar um pouco de distância para constatar que o olho do observador pertence a um corpo humano que também tem sua parte na elaboração global da percepção. Consequentemente, na formulação desta percepção, participam não apenas o olho no sentido estrito, mas o corpo do observador inteiro. Este é o primeiro ponto, que diz respeito ao sujeito observador.

Se agora considerarmos o objeto que foi observado, constatamos que ele também pertence a um universo do qual não se pode dissociá-lo, porque esse objeto é impressionado e como que impregnado de vibrações provenientes do universo inteiro. Este é o segundo ponto. Não é difícil encontrar, nos dois pontos assim estabelecidos, a aplicação do postulado da interdependência universal.

Em toda observação científica, portanto, R. Abellio não distingue apenas dois termos, mas quatro. Os quatro termos da "quaternidade" são: o olho, o corpo, o objeto e o mundo. Esses quatro termos obviamente reagem uns sobre os outros e formam um todo orgânico. É arbitrariamente, estima nosso filósofo, que os separaríamos.

Após definir os quatro termos da "quaternidade", é preciso evidenciar as relações que eles têm entre si. Para tornar essas relações mais visíveis, R. Abellio recorre a um gráfico. Ele coloca o olho e o corpo nas extremidades opostas do diâmetro de uma esfera. Então, da mesma forma, dispõe o objeto e o mundo nas duas extremidades de outro diâmetro perpendicular ao primeiro. Esses dois diâmetros têm seu ponto de intersecção no centro da esfera e formam entre si uma cruz que representa a "quaternidade" e que vai concretizar suas relações.

Este esquema de quatro termos é, ao que parece, de uso muito mais universal do que a estéril dualidade da lógica antiga. R. Abellio não espera dele nada menos que a unificação da ciência e da gnose. Pois é utilizável tanto nas disciplinas mais quantitativas quanto nas especulações mais espirituais. Ele abole as separações entre observadores e objeto observado; entre matéria e espírito, entre tudo o que estava separado; e finalmente coloca em comunicação os abismos de baixo com os abismos de cima, o que é provavelmente o objetivo da manobra.

R. Abellio pensa, graças à "quaternidade", não apenas ter encontrado um instrumento lógico totalmente geral, mas também poder explicar a constituição última da matéria. Daí o nome de "estrutura absoluta" que ele dá à sua obra.

Aqueles que gostariam de ter detalhes sobre a "quaternidade" universal são convidados a consultar os capítulos 1 e 2 de A Estrutura Absoluta e o capítulo 2 de O Fim do Esoterismo. A demonstração, de fato, está longe de ser simples e nós apenas a resumimos aqui para dar uma primeira ideia.

De nossa parte, não estamos convencidos pela "quaternidade" polivalente de R. Abellio. Será difícil nos afastar do preceito lógico contido no Evangelho de São Mateus, preceito que todo católico conhece de cor, tão claro ele é:

«Sit autem sermo vester : est, est ; non, non. Quod autem his abundantius est, a malo est». «Que o vosso discurso seja: o que é, é; o que não é, não é; e tudo o que for além disso vem do Maligno». (Mat. V, 37)

E achamos que há muitas "coisas a mais" nos raciocínios "lógicos" de R. Abellio.