X. A histeria, chave do mistério
Este é um homem de boa mesa e um bebedor de vinho (Matth. xi, 19). Ora, o discípulo não é maior do que o Mestre, e a tardia descoberta dos inimigos de Mélanie, que já não está mais lá para o diagnóstico que se imporia, evoca a acusação dos inimigos de Jesus.
Em frente a esta "pseudo-histeria", coloquemos o testemunho de um capelão de La Salette, que disse sobre Mélanie, em 1902: Nunca tanta candura sobreviveu a tantos anos. Nunca a franqueza brilhou com esse esplendor soberano sob nenhuma pálpebra humana... Sinto-me profundamente comovido ao mergulhar nesses olhos que permaneceram jovens e límpidos como no dia da Aparição, deixando o corpo envelhecer sozinho, e carregando neles como um reflexo da luz miraculosa da qual foram iluminados outrora. (Veremos mais adiante, no Anexo III, o conjunto desse testemunho.)
Como encaixar essas impressões, que foram as de todos que se aproximaram da plácida Pastora e que não fecharam seus corações à evidência, com a acusação de histeria que descobrem, 40 anos após sua morte, seus detratores de hoje?
A quem se pode fazer crer que os olhos, "janelas da alma", poderiam ao mesmo tempo refletir a candura, a luz da Aparição e o demônio da histeria?
Que nos perdoem, portanto, por não levar a sério essa nova tática mergulhada em um mar de falsidades, e que vem como uma miséria a mais. E voltemos ao dilema que esta complacente histeria está carregada de nos fazer esquecer.
Rejeitar tudo, e os Pais junto, se Mélanie mentiu ou se iludiu, ou então aceitar tudo, incluindo o Segredo, se o Discurso público for retido, tal é o dilema inevitável do qual parece que não se pode escapar.
Para se livrar desse péssimo caso, os opositores apoderaram-se de uma declaração do bispo de Grenoble, Dom Ginoulhiac, que afirmou após a entrega dos Segredos ao Papa em 1851: "A missão das crianças está terminada; a da Igreja começa!" (Veremos no Anexo II o que deve ser pensado sobre essa afirmação).
Mélanie, que tinha boas razões para não acreditar em nada disso, uma vez que deveria começar sua segunda missão, a publicação do Segredo, em 1858, foi considerada, a partir de então, como em rebelião em relação ao seu bispo. E do orgulho que eles alegariam inferir desse estado, os negadores do Segredo concluem para a crescente queda de seu coração e de seu espírito, destinados, desde então, a todos os excessos e agitações, para afundar, no final das contas, na mais pura histeria.
Descoberta circunstancial que chega a tempo para substituir a acusação de apocaliptismo que lhe dirigiam tão prontamente outrora, mas que agora poderia arriscar-se a fazer figura de apologia!
Candida e fiel até 1851, ela se desvia logo após. Fídeis, padres a cercam de uma veneração que a cegam, e para completar esse mal aí está cercada de "PSEUDO-PROFETAS", de "ILUMINADOS", que lhe viram a cabeça definitivamente; o segredo sai assim de um cérebro cheio de leituras apocalípticas e influências morbidas. "O ESTIGMATE DA HISTÉRIA" faz desta "PAUPÉR EXALTADA" um "CARÁTER IMPÉRATIVO TEINTADO DE CHANTAGEM", ocupado "D'ATTITUDES SPECTACULARES" que chega "A SENTIR A GÊNE DA INFÉRIORIDADE SOCIAL DA SUA FAMÍLIA"...
O estrado, é verdade, está bem montado. A Santa Virgem não é responsável por nada. Ela tinha escolhido bem seu testemunho, mas a escolha estava a venda; 1851 marca o fim!
Mas, aos histerólogos, vai como um anel, o adágio "is fecit cui prodest"! E a figura calma que as fotografias de Mélanie nos revealam nos ajudaria, à falta dos testemunhos ilustres que confirmam, no plano moral, seu retrato físico para mostrar a inanidade dessa acusação.
Vamos ver mais tarde outros testemunhos sobre aquela que deve ser chamada de santa Pastora; vamos ver (e já vimos) a realização do célebre mensagem que lhe vale todas essas faltas e do alto de sua morada ela não pode deixar de saborear essa beatitude prometida aos que foram perseguidos, contra os quais se disseram falsamente toda sorte de mal por causa de Deus!
E vamos recitar, para a glorificação de Mélanie, a prece que foi composta a essa intenção com o Imprimatur do Mestre do Sacro-Palácio em vista de sua beatificação futura. (Encontrar-se-á no final dessa folha.)