Quando «herético»... torna-se «herético»
“A expressão ‘infallibilidade do consenso unânime dos Padres’ tornou-se uma fórmula extremamente útil para... taxar de herético quem não pensa como eles (e, especialmente, quem não lhes é simpático). Os Padres, e a verdade, merecem um respeito muito diferente.” Mas como se pode pensar assim?
Dado que o padre Ricossa pretende responder indubitavelmente à revista Si si no no, é preciso saber que esta última nunca usou a palavra “herético”, mas a expressão “herética”, que por sinal retomamos em nosso parágrafo intitulado uma opinião herética?: “segundo outros, ao contrário, a teoria de Corsini é absurda e herética”.
De qualquer forma, levantamos esta questão: como definir uma teoria como a sustentada por Corsini e pelo padre Ricossa, que vai contra o que disseram todos os Padres, os teólogos, São João ele mesmo e até mesmo o catecismo para crianças?
A respeito do fato de que o padre Ricossa busca deslocar o problema, para, em nossa opinião, não ter que resolver as objeções, falando sobre questões pessoais, como “hostilidade pessoal”, “falsos amigos”, “amigos bem-intencionados ou que são menos” ou “que não lhe são simpáticos”, a ponto de chegar a escrever que certos indivíduos são capazes de taxar alguém de herético... isso é tão deslocado que, francamente, não merece nem ser mencionado.
Além disso, é importante ressaltar que o termo herético nunca teve como objetivo qualificar uma pessoa, mas sim uma teoria.
Vale a pena notar, por acaso, e isso é o cúmulo, que o padre Ricossa afirma que: “Os Padres, e a verdade, merecem um respeito muito diferente”, enquanto é ele mesmo que se permite falsificar, não apenas o pensamento do cardinal Billot, mas também os de três exegetas que ele menciona a seguir: “O abaixo assinado, [o padre Ricossa] se alinha nessa opinião de um Billot, de um Spadafora, de um Romeo ou de um Allo… não é do futuro que fala o Apocalipse, mas sim do passado” p. 46, enquanto ao contrário Billot escreve em A Parusia: “As predições apocalípticas abrangiam (…) desde o fim do reinado de Domiciano, data da revelação feita a São João, (…) até o fim dos tempos” pp. 302-303 “O tempo abrangido pelo livro do Apocalipse vai da primeira vinda de Jesus Cristo até o fim do mundo, onde ocorrerá a segunda” p. 302.