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Prefácio

"Se conseguirmos demonstrar que todas as 'novidades' que hoje perturbam a Igreja são apenas antigas heresias constantemente condenadas por Roma, poderemos concluir que a Igreja, neste fim do século XX, está sendo ocupada por uma seita estrangeira, exatamente como um país pode ser ocupado por um exército estrangeiro" (Jacques Ploncard d'Assac: L'Église occupée, Chiré-en-Montreuil 1975, segunda edição 1983, p. 7).

Nesta guerra das ideias, os escritores católicos têm o dever de soar o alarme.

"Soai, soai sempre, clarins do pensamento" (Victor Hugo: Les châtiments, 1853, livro VII, cap. 1).

"Ninguém imagine que seja proibido aos particulares cooperar de certa maneira neste apostolado, especialmente aqueles a quem Deus concedeu dons de inteligência com o desejo de se tornarem úteis. Sempre que a necessidade o exige, eles podem facilmente, não assumindo o papel de doutores, mas comunicando aos outros o que eles mesmos receberam, e ser, por assim dizer, o eco do ensinamento dos mestres. Além disso, a cooperação privada foi considerada tão oportuna e fecunda pelos Padres do Concílio Vaticano que eles acharam necessário exigir formalmente: 'Todos os fiéis cristãos', dizem eles, 'especialmente aqueles que presidem ou têm a responsabilidade do ensino, nós os suplicamos pelas entranhas de Jesus Cristo, e lhes ordenamos, pela autoridade deste mesmo Deus Salvador, que dediquem seu zelo e sua ação para afastar e eliminar esses erros da Santa Igreja, e para espalhar a luz da fé mais pura' (constituição Dei Filius, passagem final). Portanto, que cada um se lembre que pode e deve espalhar a fé católica pela autoridade do exemplo, e pregá-la pela firmeza da profissão que faz dela. Assim, nos deveres que nos ligam a Deus e à Igreja, uma grande importância é dada ao zelo com o qual cada um deve trabalhar, na medida do possível, para propagar a fé cristã e repelir os erros" (Leão XIII: encíclica Sapientiae christianae, 10 de janeiro de 1890).

O presente estudo pretende ser simplesmente o 'eco' do magistério, uma coleção de documentos e textos da Igreja una, santa, católica, apostólica e romana.


"O mistério da iniquidade", escreve o apóstolo São Paulo, "já está em ação, aguardando apenas que o que o detém agora desapareça" (2 Tessalonicenses II, 7). Quando a fé tiver desaparecido praticamente por toda parte e a apostasia geral tiver chegado, então o Anticristo se manifestará.

Segundo São Paulo, o Anticristo "se assentará no Templo de Deus" (2 Tessalonicenses II, 4). Comentando este texto paulino, Santo Agostinho ensina que o Anticristo será um indivíduo, mas que também podemos aplicar o termo "Anticristo", de forma figurada, a toda uma sociedade anticristã. Esse Anticristo coletivo, que deve preparar o caminho para o Anticristo individual, se assentará "in templo Dei". Em latim, observa Santo Agostinho, a preposição "in" pode ser traduzida como "dentro" ou "no lugar de". A expressão "in templo Dei" pode, portanto, ser interpretada tanto literalmente quanto de forma figurada.

  • No sentido literal, será um homem que entrará no Templo para ser honrado pessoalmente como um ser divino.

  • No sentido figurado, será uma sociedade apóstata, uma falsa Igreja que usurpará o lugar da verdadeira Igreja. Será uma sociedade de apóstatas que se erguerá como "Templo de Deus", um grupo de infiltrados que pretenderá representar a Igreja de Cristo. "Este trecho, que se refere ao Anticristo, aplica-se não apenas ao príncipe dos ímpios, mas de certa forma a todos aqueles que estão com ele, isto é, à multidão de homens que lhe pertencem". Deve-se interpretar não "dentro do Templo de Deus", mas sim "como Templo de Deus", como se o próprio Anticristo fosse o Templo de Deus, que nada mais é do que a Igreja" (Santo Agostinho: Cidade de Deus, livro XX, capítulo 19). Assim, o Anticristo será (ou já é!) uma seita herética que pretende representar a Igreja católica.

Santo Agostinho relata como se desenrolará o triunfo no grande dia do mistério da iniquidade. "Outros pensam que as palavras 'vós sabeis o que o detém' (2 Tessalonicenses II, 6) e 'já está em ação o mistério da iniquidade' (2 Tessalonicenses II, 7) se referem apenas aos maus e aos simuladores que estão dentro da Igreja. Até o momento em que, multiplicando-se, alcançarão um número suficiente para formar o grande povo do Anticristo. É o mistério da iniquidade, porque se esconde. As palavras do Apóstolo seriam então um exortação aos fiéis para permanecerem firmes na fé [...] 'até que isso se manifeste saindo do meio', ou seja, até que o mistério da iniquidade, que está momentaneamente escondido, surja do meio da Igreja" (Cidade de Deus, livro XX, cap. 19).

Outra interpretação da Segunda Epístola aos Tessalonicenses merece ser mencionada aqui, mesmo que provenha de um exegeta pouco conhecido. Este exegeta é um monge francês, que viveu de 1092 a 1156. Seu nome é Pedro, o Venerável. Ele é um santo canonizado (celebração em 25 de dezembro), antigamente famoso por sua erudição, mas hoje em dia esquecido. E é uma pena, porque este autor parece ter tido uma iluminação especial para expor as Sagradas Escrituras. Aqui está, de fato, seu comentário na epístola aos Tessalonicenses, um comentário que lança uma luz singular sobre nosso tempo:

"O Cristo permitiu que o Anticristo - cabeça de todos os cismáticos - se assentasse no Templo de Deus, que os seus [os cristãos] seriam exilados, e que aqueles que não são os seus ocupariam um dia o Trono de Pedro" (São Pedro, o Venerável: De miraculis libri duo, livro II, cap. 16).