J. Vaquié (Reflexões sobre os inimigos em manobra: extratos)
TRÊS MINISTROS DE LÚCIFER
Mélanie Calvat, a pastora de La Salette, viveu em perpétua contemplação. Ela recebia, por intuição intelectual, constantes luzes sobre o estado da sociedade contemporânea. Um dia, ela revelou a um de seus correspondentes que Lúcifer parecia assistido, no governo deste mundo, por uma espécie de ministério composto de três membros: Mamom, Asmodeu e Belzebu, que são três poderosos espíritos caídos. Esta reflexão de Mélanie Calvat merece ser meditada [1].
Não é surpreendente saber que, para conduzir sua estratégia mundial, Lúcifer utiliza poderosos auxiliares espirituais que o descarregam de certos trabalhos básicos e que amolecem a sociedade humana para facilitar sua manobra.
Mamom é o deus do dinheiro. Ele acabou submetendo a humanidade inteira a uma impregnação mercantil que a tornou totalmente venalizada. Ele legalizou a usura, tão severamente reprimida pelos cânones da Idade Média. E assim fundou o capitalismo, pois sem juros não há capital. Ele, portanto, criou enormes massas monetárias que circulam cada vez mais rápido nas artérias da economia e que imprimem aos intercâmbios um coeficiente de aceleração absolutamente patológico. Pelo ministério de Mamom, tudo está à venda. Ouçamos São João fazer o inventário das cargas dos comerciantes:
"...Cargas de ouro, prata, pedras preciosas, pérolas, linho fino, púrpura e escarlate... de trigo, gado, ovelhas e cavalos, e carros, e corpos e almas de homens" (Apocalipse 18:12-13).
Negociam-se almas de homens. Assim impregnada de mercantilismo, a sociedade torna-se um húmus fértil para as plantas venenosas do inferno.
Asmodeu é o demônio da luxúria. Ele é mencionado no livro de Tobias. É o espírito infernal que se apoderou de Sara (não a esposa de Abraão, mas outra Sara). Tinham-lhe dado sucessivamente sete maridos que, um após o outro, foram mortos pelo demônio Asmodeu. Sara foi libertada desse demônio que a infestava, a ela e ao seu entorno, pelo arcanjo Rafael, graças à fumaça do mesmo fígado que devolveu a visão a Tobias, pois a luxúria produz o cegamento do espírito. No segredo de La Salette, a Santíssima Virgem disse que alguns conventos se tornarão "pastos de Asmodeu e dos seus". A impregnação erótica de nossa sociedade atinge não apenas os moralistas cristãos, mas também os sociólogos agnósticos. É provavelmente dessa impregnação que provém o cegamento dos espíritos em relação às coisas da Religião.
Belzebu é o deus que envia moscas sobre os rebanhos. Esse nome é a contração de "Baal" e "Zebube"; significa literalmente "o Senhor das moscas". É o deus que lança maldições e que tem o poder de expulsar os demônios (ou melhor, de deslocá-los). Ele produz hoje a impregnação ocultista da sociedade, criando aí uma verdadeira contra-religião, uma superstição outrora subjacente, agora invasiva e dominante. A superstição ocultista está onipresente.
A reflexão de Mélanie Calvat não carece de interesse.
Ela explica a profundidade do domínio de Satanás sobre o mundo contemporâneo, a tripla impregnação proporcionada por Mamom, Asmodeu e Belzebu fornece ao "príncipe deste mundo" condições gerais favoráveis à sua estratégia complicada.
Mas ela nos faz entender também que uma ação simplesmente humana não será suficiente para destruir essa tripla impregnação, pois ela é obra de forças espirituais más muito mais fortes do que os homens. Será necessário que a força de Deus intervenha.
...
Os doutores da Sinagoga possuíam mais a ciência do mal. Acostumados a desconfiar das "Nações" e de seus deuses-demônios, eles desconfiaram de Cristo: "É por Belzebu que Vós expulsais os demônios", diziam-lhe.
Inversamente, a Igreja dos Gentios, saturada da ciência do bem, não desconfia do Anticristo; vemos hoje que ela se prepara para reconhecê-lo, pois já acolhe seus adeptos. Finalmente, a Sinagoga obstinada e a Igreja desviada não terão nada a invejar uma da outra. A primeira terá rejeitado Cristo e a segunda terá acolhido o Anticristo.
É por isso que é necessária uma ciência equilibrada que conduza à prudência sem obscurecer o espírito:
"Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas". (Mat. X, 16).
Por esta associação da serpente e da pomba, o texto especifica de qual prudência devemos nos armar. Pois há duas prudências: a prudência tortuosa que foi a da serpente no jardim do Éden e a prudência simples que foi a de São José em Nazaré (Nazaré significa: jardim das Flores). O Divino Mestre especifica aqui de qual prudência ele quer falar. Ele quer que pratiquemos a prudência que pode se aliar à simplicidade da pomba.
Para manter a simplicidade na prudência, é preciso cultivar simultaneamente as duas ciências. A da Igreja ilumina a inteligência e aquece o coração. A da contra-igreja nos faz reconhecer as trevas sob a falsa luz. Aqueles que cultivam apenas a ciência da Igreja tornam-se ingênuos que ignoram as armadilhas do Adversário. Aqueles que cultivam apenas a ciência da contra-igreja frequentemente se deixam fascinar pela prodigiosa astúcia dos demônios e acabam por se alistar nas fileiras da contra-igreja. De fato, o estudo dos documentos das seitas, que nos faz conhecer o inimigo, é perigoso; é preciso tomar cuidado para não se comprazer nesses textos, pois eles contêm sutilezas de aparência lógica (o demônio é lógico) mas que obscurecem o espírito e desviam a vontade. É preciso compensá-los com o alimento espiritual e com as luzes que se encontram no Patrimônio da Religião.