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Cartas de Mélanie sobre o clero

Muitas cartas de Mélanie atestam a gravidade da situação já no século XVIII (O que ela diria hoje?). Elas destacam bem a correlação entre os pecados dos padres e os castigos que logicamente deles decorrem...

Carta de Mélanie ao abade Le Baillif.

« Castellamare, 10 de julho de 1880.

« A guerra que o clero faz ao segredo não me surpreende, a perseguição contra Cristo e sua religião também não me surpreende. Não temo os perseguidores da religião, não temo os ímpios, os franco-maçons, nem os ateus, etc.; o que eu temo, é a fé que falta na maior parte do clero francês. É a sua infidelidade à sua vocação, à sua sublime missão. Se os primeiros apóstolos de Cristo ainda vivessem, teriam lutado, teriam combatido até derramar todo o seu sangue para sustentar a causa do seu divino Mestre e teriam cantado vitória para a glória de Cristo e a confusão do inferno. Mas o que faz o clero para lutar entre os torrentes de males que nos cercam, que papel ele assume na guerra que se faz contra Cristo?...

« Nada, ele teme com um temor servil e sua preocupação é guardar seus interesses materiais, salvaguardar sua honra, seu cargo, seus bens.

« O clero recebeu o segredo com orgulho; esse segredo revela as chagas que ele tenta cobrir com o véu de uma devoção toda estudada, toda superficial. O segredo, ao levantar a ponta do véu, então ele clama como outrora o sumo sacerdote: ele blasfemou. O segredo não propõe senão a observância da lei de Deus, e se queixa apenas da inobservância dessa mesma lei, e ameaça com castigo, com flagelos, os transgressores da lei santa. Além disso, não sabemos nós que Nosso Senhor foi condenado, foi crucificado pelos sacerdotes?... Não foram os sacerdotes que receberam os reproches mais amargos da parte do Filho de Deus? E ainda hoje, sim, sim, são os sacerdotes os causadores de todos os nossos males porque não são fiéis à sua vocação. O clero francês (com poucas exceções) é orgulhoso, interesseiro, altivo e grandemente irreligioso, está cheio de vaidade e ambição e Deus, em sua misericórdia, vai humilhá-lo, pôr sua fé à prova. Voltei da França, com o coração desolado de dor, as escolas sem Deus se propagam em todas as aldeias, e o pobre povo se pergunta o que deve pensar de nossa religião, é ela verdadeira, sim ou não. Os senhores padres deixam acontecer, eles não dizem nada!... Ah! eles não se deixarão martirizar pelo seu zelo... Eles têm medo de não receber seu pagamento do governo... Observam eles o primeiro mandamento que nos ordena amar a Deus acima de todas as coisas? acima do dinheiro. »

Carta à madre Saint-Jean.

« Le Cannet, 1º de junho de 1888.

« Não são as viagens a Roma de Monsenhor Fava e dos padres que estão em La Salette, que poderão levar à obediência às ordens do céu e do papa, já que os revoltados são eles, e são eles mesmos os responsáveis perante Deus e perante os homens.

« E, no entanto, seu pouco sucesso na direção das almas, em seus sermões, a montanha que volta a ser um deserto, etc., tudo isso deveria abrir os olhos desses padres. Somente os grandes castigos de Deus abrirão os olhos dos menos culpados; quanto aos outros, Deus sabe o que será deles… »

Carta ao Cônego de Brandt (5 de fevereiro de 1897) :

« ... Eu, sem nenhum estudo, deixando de lado certos aspectos, ... usando apenas da simples razão, digo a mim mesma: Deus é infinitamente misericordioso, mas também infinitamente justo, e ele nunca recompensa o mal. Ora, o homem, desconhecendo seu Criador, seu Salvador, seu Conservador, nega e renega-o todos os dias por seus malfeitos; ele blasfema seu nome adorável; ele amaldiçoa a divina Providência, etc. Deus recompensará os homens por suas iniquidades?... Ele castigará, e os castigos de diversas formas não nos serão dados gratuitamente, não, nós mesmos os arrancamos das mãos da justiça de Deus. »

Carta ao Cônego de Brandt (27 de dezembro de 1884) : (Mélanie está visitando sua mãe em Corps)

« Meu pobre país (Isère) está muito doente: seria melhor que não tivesse pastor: nunca há sermão; nunca se incentiva a confessar-se; no dia 8 de dezembro, nada, nada, tudo como um simples dia de semana, missa baixa às 6h30, outra missa baixa às 7h, e depois tudo acaba. Há por aqui, em nossos vilarejos, padres de vida publicamente escandalosa: o bispo não dá importância a isso; o que faz com que os homens digam que, se o bispo faz o mesmo que esses padres, ele não pode dizer nada. Depois dizem que, se o clero acreditasse em Deus, não faria o que faz; e é por isso que ele não ousa pregar contra a imoralidade, etc. Esses padres, com seus cúmplices, disseram que, se pudessem me ter em suas mãos, me fariam queimar com meus livros do segredo. Com um clero assim, o que pode fazer o pobre povo?... É apavorante. É preciso orar, orar, reparar, chorar e lamentar em nossa solidão, com Maria nossa doce Mãe chorando sobre nossas desgraças.

« O casamento desse pobre padre, sobre o qual você me fala em sua carta, me aflige muito. Oh! quantos há, e até mesmo daqueles que ninguém suspeita, que vivem em concubinato! Que escândalo! E Monsenhor de Grenoble tem um grande número de seus padres que vivem assim, vários deles ao conhecimento do público; e sua Excelência recebeu várias vezes cartas anônimas denunciando os escândalos; ele não dá importância!... Uma purificação é necessária no clero, Deus a providenciará, não há dúvida disso. »

Carta ao abade Le Baillif :

« Castellamare, 20 de fevereiro de 1881.

Acho nossos senhores os bispos da França muito humildes por quererem queimar viva a infame, a vil pastora de La Salette. Se eu estivesse no lugar deles, não ousaria nem mesmo tocá-la com a ponta dos meus pés. Em troca de sua boa vontade, eu gostaria de pegar um grande punhado do fogo que arde no Coração de Jesus, para inflamar de amor a Deus os corações de todos esses bons bispos; depois disso, eu beijaria respeitosamente as marcas de seus pés, como beijo hoje as marcas de sua consagração… »

Carta ao abade Combe :

« Cusset, 20 de novembro de 1903.

« No Juízo Final, quantas coisas surpreendentes veremos, mas não haverá mais tempo. O bispo de Limoges verá à direita do divino Salvador e cercado de glória aquele padre que dizia a verdade para o bem das almas, para iluminar, e para defender os direitos da Igreja. Pobre bispo e pobres bispos! Pois há muitos que não são mais que lobos, e lobos hipócritas, que indicam ao governo os padres que ele deve punir. Vamos esperar: veremos os frutos das obras desses bispos-lobos. »

Carta ao abade Combe :

« Cusset, 26 de fevereiro de 1904.

« Então, sua Excelência não viu a Mãe de Deus chorar. Ela não acredita nisso, assim como não acredita no nascimento do Filho que não viu! Quando não se tem fé, a incredulidade (em La Salette) é lógica...

« ... Você viu, meu caríssimo Padre, a bela lição dada pelos cinquenta e oito seminaristas, todos eles, que amanhã, dia 27, deveriam receber a ordenação das mãos de Monsenhor Le Nordez (maçom) e recusaram, acabando por ir embora todos... Os bispos maçons estão prestes a fazer uma lei contra a liberdade de imprensa, pois ousam silenciar a Santa Virgem! Esse crime não ficará impune. »

Carta ao abade Combe :

« Altamura, 6 de outubro de 1904.

Eu soube algo sobre o zelo maçônico de Monsenhor Moulins em relação a você. Eu estava ainda muito doente na época, mas deplorava amargamente sua conduta escandalosa, e me lembrava dessas palavras do divino Salvador: “é necessário que haja escândalo, mas ai daquele por quem o escândalo chega! Seria melhor para ele que lhe pendurassem uma pedra de moinho no pescoço e o lançassem no mar.” Monsenhor Moulins teria feito melhor em reprimir os desordens verdadeiramente escandalosos de vários de seus padres mais queridos...»

Carta à madre Saint-Jean.

« Saint Barnabé, 31 de outubro de 1891.

Ao ver a França, ou melhor, a Europa, inteiramente nas redes de todas as seitas de quaisquer cores que sejam e até mesmo os eclesiásticos e personagens de alta posição fazendo parte delas; ao ver os blasfêmias contra Deus, a Santíssima Virgem e os santos; ao ver a corrupção geral contra a moralidade, a juventude sendo educada na negação de todo princípio religioso; ao ver o ódio entre os reinos e estados uns contra os outros, as injustiças, os roubos, as fraudes, os suicídios, a independência e a obstinação geral, e as doenças que eram desconhecidas até agora, as estações alteradas, o frio rigoroso e o calor excessivo, as inundações, os terremotos, as colheitas ruins, etc. Tudo, tudo anuncia que o anticristo está prestes a se manifestar e que a paz duradoura só virá após a passagem desse homem do mal... »

Carta ao abade Roubaud :

« Galatina, 27 de março de 1894.

« O povo é adormecido ou entretido ora de uma maneira, ora de outra. Aqueles que estão no poder cuidam de seus próprios interesses. A França, outrora católica, escolheu todas as imundícies do inferno para colocar à frente da nação... Quando era preciso falar, fizeram-se de surdos; quando era preciso se mostrar, esconderam-se; quando era preciso defender a fé, recuaram. Aqueles que foram escolhidos, eleitos pela França, expulsavam os religiosos e permitiam as associações de sectários, e as seitas hoje dão seus frutos. Mas isso ainda não é tudo; se Deus nos conceder vida, veremos muitas outras explosões. Não se quis entender que, fora do serviço de Deus, não pode haver paz e felicidade...»

Carta ao abade Combe

« Altamura, 14 de novembro de 1904.

« Penso que na minha pobre França as coisas estão andando mal, para a desgraça dos ímpios, dos apóstatas: e haverá muitos assim que a separação for um fato consumado. Não teríamos chegado a esse ponto se a semente do martírio não tivesse se perdido e se a França tivesse colocado em prática os sábios avisos de Nossa Senhora de La Salette… »