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Ponto 2 – Análise dos símbolos

Então vamos na Missa buscar trigo, de preferência limpo, que é Graça Santificante, com a prática constante (a pedra de moinho) nós “moemos” o trigo com o Jejum (água) nós juntamos a farinha e o fogo da esmola a assa. E depois temos um trigo que passou pelos processos humanos e se tornou alimento verdadeiramente humano.

Dito de outro modo, já que trigo é Graça Santificante, com a prática constante (a pedra de moinho) nós “moemos” a Graça Santificante, com o Jejum (água) nós juntamos a farinha de Graça Santificante e o fogo da esmola assa a massa de Graça Santificante. E depois temos uma Graça Santificante que passou pelos processos humanos e se tornou alimento verdadeiramente humano. Mas comungar do Cristo não é comungar do pão vivo descido dos céus?

Opa, aí a caixa de marchas começa a arranhar um pouco. Você que está lendo consegue notar? A algumas páginas atrás mencionei que “o simbolismo do pão ou pode encaixar-se nas mais várias religiões”, sim, pois o símbolo do pão ainda está no nível do simbolismo natural e humano. Nós, seres humanos, vivemos e somos ponte entre o material e imaterial. No início da aula até parece fazer algum sentido identificar trigo com Graça Santificante, mas, no prosseguir da aula, símbolo e simbolizado aparentam ter uma desconexão, quando mudamos os níveis, essa mudança arranha a inteligência.

Adão fazia pão e ele tinha Graça Santificante. Ele ia à Missa todo domingo e comungava da Eucaristia? Mas ele não cometeu o Pecado Mortal por excelência? Responda.

Afinal, o que é Graça Santificante? Você leitor, que provavelmente passou anos atrás de trigo limpo, já abriu o Catecismo para pesquisar o que é Graça Santificante ou pesquisou pelo tema no site do Padre Paulo Ricardo?

Casos pressionemos CTRL+F no Catecismo que é disponibilizado pela internet e procuremos por graça simplesmente, a terceira opção que nos aparece é esta:

A terceira parte do Catecismo apresenta o fim último do homem, criado à imagem de Deus: a bem aventurança e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir reto e livre, com a ajuda da fé e da graça de Deus (Seção I), por meio de um agir que realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado nos dez Mandamentos de Deus (Seção II) (Catecismo nº 16)

Já notamos que com a ajuda da Graça de Deus e da Fé, mediante um agir reto e livre chegamos à bem aventurança. Mas o que é a Graça? Para isso temos o Catecismo nº 1996 que diz:

Nossa justificação vem da graça de Deus. A graça é favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite: tomar-nos filhos de Deus, filhos adotivos participantes da natureza divina, da Vida Eterna.

Ou seja, não é de nossa natureza nem nos pertence e nem podemos fazê-la por merecer, a Graça é um dom de Deus:

A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la; trata-se da graça santificante ou deificante, recebida no Batismo. Em nós, ela é a fonte da obra santificadora. (Catecismo nº 1999)

Neste ponto começamos, nós católicos, começamos a diferenciar Graça Atual de Graça Santificante. Pe. Paulo Ricardo diz na aula “O que é Graça Atual” no curso Catecismo para Adultos o seguinte:

A Graça atual Deus está oferecendo a todos os homens muitíssimas vezes durante a sua vida, várias vezes por ti [...] diferentemente da Graça Santificante, a Graça Atual está sendo oferecida a todos os homens sempre. Jesus — sim, Ele Nosso Senhor — está no coração de todo ser humano a todo o momento oferecendo um convite, falando conosco o tempo todo, mas a humanidade boboca não presta atenção, mas Ele atua [...] Jesus envia o Espírito Santo e Ele atua na Inteligência e na vontade. [...] A Graça Atual é uma intervenção de Deus na vida da pessoa onde Deus ilumina a inteligência e convida a vontade.

Para saber mais sobre Graça Atual, assinar o site do Pe. Paulo Ricardo é muito recomendável; no prosseguir da aula ele fala da atuação pontual, mas, também, na possibilidade de Ele permitir desgraças se for para um bem maior — qualquer semelhança com o ICLS não é mera coincidência. E também há bons livros: procurem por O Grande Desconhecido do Fr. Royo Marín ou por Las Tres Edades de la Vida Interior do Fr. Garrigou-Lagrange.

Já Graça Santificante o Catecismo nos diz:

A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças atuais, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra da santificação. (Catecismo nº 2000)

Então já sabemos algumas coisas acerca da Graça Santificante: é um dom de Deus recebido no Batismo e perdura no ser humano enquanto ele não cometer um pecado mortal, pois, conforme o Catecismo nº 1861 “O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça”.

O quanto podemos realmente manipular e alterar um dom de Deus? Na verdade, não é alguma coisa que, muito mais, age sobre nós e não nós sobre ela? Não são as coisas do alto que dão forma às coisas de baixo? Ficam as questões em aberto por enquanto.

Outra questão muito importante: Como a Graça Santificante pode vir suja? O Pe. Paulo Ricardo no curso Catecismo da Igreja Católica – Sacramentos ficamos sabendo que no Sacramento da Confissão não acontece que o pecado é simplesmente apagado, na verdade, há um influxo da Graça que, por sua vez, tira o pecado, ou seja, a Graça não pode conviver com o pecado.

O mesmo repete-se na Eucaristia, com a qual, quando comungamos, nossos pecados veniais são perdoados. Acerca dos tipos de pecado e da dinâmica de atuação o Catecismo é bastante claro:

O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior.

O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora a ofenda e fira. O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital, que é a caridade, exige uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, que se realiza normalmente no sacramento da Reconciliação. (Catecismo nº 1855 e 1856)

O pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afeição desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral; merece penas temporais. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal. Mas o pecado venial não quebra a aliança com Deus. É humanamente reparável com a graça de Deus. "Não priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade nem, por conseguinte, da bem-aventurança eterna." (Catecismo nº 1863)

Se pelo influxo da Graça Santificante em uma Confissão, o pecado é expulso, e se quando comungamos em Estado de Graça, nossos pecados veniais são perdoados, como o trigo espiritual, a Graça Santificante pode vir suja? Como é possível a existência de Graça Santificante envenenada?

E agora? Notaram uma desarmonia entre os elementos? Os tijolos não estão bem assentados, há uma corda desafinada, a caixa de marchas está arranhando. Como assim nós moldamos um dom de Deus? Mas não somos nós o barro na mão do Oleiro? Não é a Graça que age sobre o natureza?

Se ter a correta cosmovisão é tão importante no exercício da religião, por que ensinam-nos as coisas dessa forma?