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Ponto 1

Após o lançamento desta aula aconteceu uma correria atrás do trigo limpo. Alguém bateu palmas no Glória ou levantou o folheto? Corre dessa Missa. Chegou e tem aquele folhetinho azulado da Diocese? Saia. Viu um instrumento de percussão? Corre que satanás está lá. Violão? Fique a postos para sair de lá, conforme o tocarem.

Sacrilégio aqui, sacrilégio acolá, sacrilégio em todo lugar.

Só pode trigo limpo, absolutamente limpo.

Muitos começaram a desdizer de suas paróquias que há anos freqüentavam. Uma onda “puritana” varreu o ICLS, começaram a se movimentar para criarem listas de trigo limpo. Os alunos chegaram aos extremos de manifestarem que mesmo em capitais estaduais não havia trigo limpo. Um exemplo que vi recentemente é um aluno que disse que a única liturgia em Curitiba possível é em uma igreja ortodoxa, sob a condição de ser a menos ruim.

Numa breve procura no Google, descobrimos que há na Arquidiocese de Curitiba 142 paróquias divididas em 11 municípios. 142 paróquias e nenhuma presta? E o que resta de “menos pior” é uma paróquia ortodoxa?

Pare por um momento e pense: Algumas paróquias têm dois ou mais sacerdotes que podem ter modos diferentes de rezar, chutemos um valor baixo de paróquias com dois sacerdotes, imaginemos que totaliza 200 opções só dentro da Igreja Católica. Se alguém for de paróquia em paróquia (em algumas duas vezes pois há dois sacerdotes) num ritmo de 4 missas por semana, (o que é difícil, pois a missa de terça-feira pode ser muito diferente da de domingo), levaria 50 semanas, um ano, só para conhecer uma única Missa por sacerdote. Uma! Nem vamos considerar uma cidade como São Paulo que tem 307 paróquias católicas (nem falo das ortodoxas).

O que foi primeiramente observável (e que algumas pessoas notaram e comentaram nas redes sociais, quando foram execradas) foi um forte movimento de soberba, pois o “fiel” colocava o pé na paróquia como se fosse o Tribunal do Santo Ofício verificando a lista de conformidade.

O segundo ponto, muito bem observado por alguns, é que é muito difícil ser católico e achar uma Missa com “trigo limpo”. Criou-se uma tensão na alma dos alunos do ICLS: É muito difícil achar trigo limpo.

Sinto-lhes informar, mas essa tensão foi propositalmente incutida na aula. Não foi esticada uma “régua” para medir pequenos problemas irrelevantes da Missa, para os médios e daí sacrilégio. Resultado: Um violão ritmado tem a mesma classificação de levar a Eucaristia para um rito satânico, afinal, “é tudo sacrilégio, corre de lá!”.

Ensinam-nos dificuldades para vender facilidades. Ou melhor, centrarem em si o cuidado das almas. Como já foi estudado neste documento, quantos aqui não tem Luiz Gonzaga como fonte de confiança para lidar com esses assuntos? Quantos talvez não foram ao mestre (guru) para receber guiamento e ouvir “olha, o islã tem menos problema com isso, porque cada homem é sacerdote”? De qualquer forma, como já expresso aqui, também, o importante é manter a autoridade perante os demais e subjugá-los.

Alguns dizem que a aula “Como não destruir a sua religião” combate a soberba acima expressa, mas não, ela trata de um outro tipo de soberba, mais exatamente, a soberba do religioso de uma religião perante as demais religiões ou de seus irmãos mais próximos e do conflito entre diferentes civilizações. Curiosamente, Luiz Gonzaga novamente põe na conta de salafistas as críticas dos muçulmanos aos ensinamentos cristãos, quando, na verdade, está literalmente expresso no alcorão uma série de críticas que, muito provavelmente, as mais diversas escolas de interpretação subscrevem (tenho de dizer muito provavelmente porque o islã é uma bagunça). Ademais, este documento não seria possível vir à existência sem a ajuda de ortodoxos.

Outro ponto que merece destaque é que nessa “peregrinação em busca da Missa perfeita”, não há tempo para conviver na paróquia e identificar aqueles que “fazem pão e vinho”. Se alguém tem de conhecer umas 10 missas de trigo limpo e constantemente estar monitorando e talvez mudando de paróquia, que convivência haverá com seus irmãos? Logo, quem resta na lista de pessoas piedosas entre os alunos do ICLS?

Oh, que coincidência! Sobra na memória de um aluno do ICLS Tales e Luiz Gonzaga na lista de pessoas piedosas, vamos ajudá-los a pagar as contas! E se eles disserem apenas um “obrigado”, é assim mesmo, pois eles são melhores do que nós (será que eles podem pisar em nós também?).

Na espiritualidade cristã, isso soa muito estranho — alguém por acaso se lembrou do lava-pés ou do trecho “quem quiser ser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve”? —, mas no conceito de mão de cima e mão de baixo islâmico, no qual sempre temos de saber quem está acima e quem está abaixo, isso soa muito correto.

Parem por um momento e vejam os documentários de São Paísios (disponível no Link e Link. Notem como o santo recebia as pessoas, mesmo estranhas, abraçava-lhes de todo o coração e, diante de um sacerdote, inclinava-se de todo o coração. Acaso ele parece-se com o piedoso descrito pelo ICLS?

Creio que até aqui o ponto 1 já esteja suficientemente demonstrado. Vamos ao ponto 2.