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O modus operandi do ICLS

O Instituto Cultural Lux et Sapientia pretende-se um instituto multicultural ou inter-religioso que envolva várias religiões e trabalhe aquilo que muitos chamam de cosmologia tradicional, certo?

Começo perguntando: Quem aí já viu um professor budista ministrando aulas? Quem já assistiu a aula de um judeu no ICLS? Por que vimos a aula de nenhum especialista nas religiões animistas indígenas aqui do Brasil?

Não, não é um instituto multicultural ou inter-religioso, há somente duas religiões tratadas: cristianismo e islã. Curioso, não?

Talvez pudéssemos começar a suspeitar de que há uma infiltração muçulmana no Brasil, mas não, deixemos a idéia de lado... Mas, talvez, quem sabe, fizesse algum sentido sob a luz do que já foi dito?

Continuemos.

Já se vão sete anos acompanhando o instituto e, nesse ínterim, já notei famílias que se dividiram e quase acabaram, conversões e pessoas que chegaram ao ponto de fazer uma consulta com o Luiz Gonzaga ou conversar com o Tales esperando guiamento sobre os menores aspectos da vida. Alguns alunos mais antigos viram a conversão de seus amigos, aquele que um dia estava pedindo referências de catecismo, meses ou ano depois aparece transformado. Mas aqui não é lugar de apontar o dedo, isso é conforme a consciência de cada um, tampouco, ameaço “lançar podres” por aí como o Tales faz. O assunto já deu o que tinha de dar.

Olhemos com olhos aguçados para nós mesmos, alunos do ICLS: sabemos pouco da vida, a grande maioria dentre nós foi criado em cidade grande, estudamos em péssimas escolas, tivemos poucos amigos verdadeiros, aqueles dentre nós criados dentro de uma religião teve formação parca. Não somos, acaso, um prato cheio para qualquer um que se apresente como sábio?

Procurando por um método de abordagem da vida de estudos, se olharmos para o COF, por exemplo, notamos que o professor Olavo está sempre a citar livros de referência em suas aulas, o tema às vezes permanece incompleto, mas não é por uma questão de que o curso simplesmente acabou, é por realizar uma abordagem radial dos temas propostos, cada vez mais elevando o nível da discussão; ou seja, os conteúdos ministrados em aula não têm uma relação intrínseca com o professor, mais com a realidade e com a produção intelectual que faz referência a essa realidade mesma — o famoso status quaestionis. No ICLS o procedimento é diferente: tudo está centrado na figura do professor, e quem quiser se aprofundar em algum tema, precisa de uma consulta pessoal. O professor Olavo quer que o aluno caminhe com as próprias pernas e exerça a sua Inteligência na realidade, já no ICLS, não, procuram estabelecer uma relação entre professor e aluno (mestre e discípulo?) deixando a bibliografia bastante de lado, quando não, desdiz dela. Naqueles cursos antigos, ainda havia um remanescente de bibliografia, mas hoje, o que há senão a necessidade de marcar uma consulta para se aprofundar num tema?

Faço o COF desde 2013 e muitas vezes o professor Olavo contou a história da tariqa do Schuon e detalhou que ele era muito inteligente para tratar dos temas no seu nível mais alto, porém era bem burrinho para o direcionamento pessoal que pretendia. Com o ICLS, parece-me que a situação se inverteu: eles se utilizam muito de direcionamento pessoal da vida dos alunos, e o conteúdo sempre está naquela alta esfera sutil da existência, simbolismo, significados, ritos — e sempre tudo meio incompleto, com cursos pela metade, áudios péssimos, material faltando, livros de referência não são citados — quase como uma isca para os incautos que, por uma inclinação natural, têm interesse nessas áreas do conhecimento.

E, cá entre nós, quem acompanha o professor Olavo sabe o quanto ele já advertiu do risco das tariqas e da influência muçulmana, não foi nem uma, nem duas, nem três, foram algumas dezenas de vezes. Ele fez a parte dele, nós é que não o ouvimos — sim, coloco-me entre os que erraram e a autora do segundo relato também admite.

Não só o ensino é centrado no professor, como em muitas aulas sempre são utilizadas alguns argumentos de autoridade (que nunca são citadas com nome) como “Já conversei com um monge muito santo, e ele disse isso” “Conheci bispo comunista que pegava o dinheiro do dízimo e financiava a guerrilha” “Está lá no Código do Direito Canônico que a missa é sacrílega se...” ou, quando um aluno faz uma pequena objeção sempre tem o clássico “Ah, eu conversei com um monge muito santo e aprendi isso, e você aprendeu isso de quem?”. Obviamente, o aluno se cala.

Curiosamente, quando um aluno procura ter uma referência bibliográfica, logo é taxado de legalista ou coisa do tipo, como aconteceu tempo desses no grupo do Telegram quando um aluno tentou verificar a lista do que seria sacrilégio no Código de Direito Canônico.

O próprio fato de os conteúdos ministrados pelo ICLS serem bastante sublimes, simbólicos e rarefeitos é bastante significativo:

Não me aprofundarei ainda aqui (será no próximo capítulo), mas o peguemos como exemplo a aula sobre o pão; muitas religiões têm o jejum, a esmola e a oração como práticas (até o longínquo budismo) falar sobre o simbolismo do pão ou pode encaixar-se nas mais várias religiões.

Façamos aqui uma pequena analogia da fé católica com o corpo humano: nosso corpo é composto de partes gradualmente grosseiras, há o ar nos nossos pulmões que nunca se esvaziam, os tecidos moles, os órgãos, os músculos e os ossos, a última coisa a se desfazer num cadáver. Para que o corpo bem funcione, são necessárias todas estas partes, mas fornecer apenas simbolismo e demonstrar certo desprezo para com o Catecismo ou o Direito Canônico, é como ter bons pulmões ou um cérebro que funcione bem, mas não ter ossos: não há como ficarmos de pé, tornamo-nos uma massa amorfa que pode ser facilmente manipulada. Por isso o ensinamento da fé dada aos pequenos começa pelo Catecismo, saber recitar um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, saber que a Missa é o sumo sacrifício de Deus que nos ama, fazer um sinal da cruz em respeito a um lugar religioso, e por aí vai, primeiro recebe o básico e depois parte-se para as áreas mais sutis do conhecimento.

A formação religiosa da maioria que entra em contato com o ICLS é, no mínimo, deficitária, e então, repentinamente, descortina-se um vasto mundo de símbolos, é o pão, é o fogo da tradição, é ser piedoso, sem nunca ter parado e lido uma sentença do Catecismo. Graças a Deus, fez parte da minha conversão o material do Pe. Paulo Ricardo, então sempre pude, mesmo embebido em tanto simbolismo, pôr os pés no chão.

Quantos não abandonaram seu fervor religioso em favor de pesquisar sobre seres sutis?

Há o desenvolvimento de uma imaginação hipertrofiada ou, nos termos do curso sobre Antropologia Escolástica (que de escolástica só tem o nome), poderíamos dizer que é um excesso de Lua. Sentar a bunda na cadeira para aprender latim ou grego é muito difícil, relações sintáticas complicam muito a nossa vida; Literatura Clássica para quê? Mais fácil ler literatura infanto-juvenil do que gastar 1h para entender alguns versinhos de Virgílio ou Horácio. Gramática? Retórica? Dialética? Não, mais fácil pegar alguns símbolos dispersos por aí e ficar viajando na maionese.

Algumas pessoas poderão perguntar: Mas isso não é coisa de que a pessoa tem de correr atrás? Se o foco escolhido por eles for uma coisa, o que eles podem fazer? A formação humana integral que eles pretendem, dando aulas inclusive sobre relacionamentos e sobre literatura, deveriam integrar — ou, ao menos, ser sugeridos — esses conteúdos mais básicos: se você não entendeu uns versinhos de Camões, que é muito mais simples, o que o faz pensar que consegue entender, manejar e compreender as demais coisas a partir de um símbolo?

Claro, atualmente temos o campo oposto se formando no Brasil, pessoas que se apegam à letra do Catecismo, ao rito extraordinário em latim que dizem ser “A Missa de sempre” — sem saber que antes da instituição do rito gregoriano, havia muitos ritos diferentes só na Europa —, aos vestidos compridos e aos ternos e esquecem-se das partes mais sublimes, mas rad-trads — ou fari-trads, hehe — não são o assunto aqui. E tal ação é como um corpo sem ar, sem espírito — a letra mata, mas o Espírito vivifica.

Pense, leitor, quem mais ensina simbólica no Brasil? Vai, pense.

Difícil pensar fora do ICLS, não é?

Adianto alguns: o Oleniski há 14 anos mantém um blog em que trata do tema. Também há o André Muniz, o popular “Arya”, que tinha um blog e agora migrou para o YouTube, budista e maçom declarado. “Ah, Léo, mas ele é maçom!”, certo, mas pelo menos é declarado. “Ah, Léo, mas ele é budista!” sim, declarado, ele assumiu uma posição clara. Tem treta no meio? Não sei. Eu não estou aqui dizendo para você leitor eleger outra espada do discernimento infalível, apreenda o conteúdo e não se apegue à figura. Enquanto o ensino depender mais da figura do professor do que da realidade e da aplicação da sua própria inteligência, você estará sujeito às tempestades.

Eu nada teria a escrever caso, desde o início, as cartas já estivessem na mesa, “somos muçulmanos e ensinamos isso aqui no nosso instituto, seguimos a tradição tal, estão aqui os livros e o valor é tanto”. Por que camuflar algo tão nobre quanto uma religião? Por que segredinhos? Por que se aproveitar da vontade das boas pessoas em ajudar? Já pensaram que coisa feia seria um cristão fazer tal ato num país muçulmano? Eu teria vergonha.

Acerca dos professores e conferencistas do ICLS, desconheço as relações, e nem faço questão de conhecer. Muitos parecem-me ser muito gente boa e talvez tenham entrado de gaiato na história. E como já disse anteriormente, há muitas coisas interessantes por lá, mas quem é capaz de separar o joio do trigo?

E com quem mais aprender cosmologia?

Pesquisem pelas aulas antigas, pesquisem pelas bibliografias antigas de Luiz Gonzaga, e o que encontrarão lá? Basicamente Aristóteles, Liber de Causis, Plotino. Será que não há mais lugares para estudar Aristóteles? Já experimentou pesquisar pelo professor Victor Sales Pinheiro? Professor Sidney Silveira? Já viram os livros da Polar Editora? Há muitas pessoas e material nesse meio.

E língua portuguesa, o quanto você realmente sabe?