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CRISTIANISMO E REVOLUÇÃO: PRIMEIRAS ABORDAGENS

Essas duas palavras, que resumem a razão de ser de nossa Sociedade, podem parecer precisas à primeira vista, mas, se tomarmos um pouco de distância, elas se mostram, na realidade, bastante vagas.

Convém, portanto, antes de examinar suas relações, precisar em que sentido as empregaremos ao longo deste texto e, de modo geral, no conjunto dos estudos publicados por este Boletim.

O Cristianismo será não apenas a religião cristã com seus dogmas, suas instituições, seus membros, todos os batizados, mas também a sociedade civil surgida dessa religião, tal como se formou nos primeiros tempos, a Cristandade, e tal como se tornou ao longo dos séculos à medida que era contaminada por numerosas correntes estrangeiras.

Da mesma forma, a Revolução não deve ser entendida no sentido restrito que adquiriu desde 1789, de uma revolução política circunscrita no espaço e no tempo. A própria palavra não tem esse sentido restrito, mas o uso tendeu a impor essa restrição; de modo que nasceu o hábito de uma segunda expressão, a Subversão, que, embora possuindo etimologicamente o mesmo sentido, designa melhor a Revolução em sua essência profunda; fomos tentados a usar preferencialmente esta segunda fórmula, pois tal é de fato o nosso objetivo, mas, devido ao seu emprego frequente nas últimas décadas, a palavra subversão adquiriu, também ela, uma conotação particular, a do comunismo e do filocomunismo, e, portanto, designa apenas uma parte da questão, e não a mais importante, certamente.

Conservamos, assim, a palavra Revolução, dando-lhe um sentido um pouco ampliado, embora totalmente conforme à etimologia; por conseguinte, a Revolução será também tudo o que for de natureza a alterar o Cristianismo e, por via de consequência, a desestabilizar a sociedade civil dele oriunda, e isso seja qual for a época considerada; o que é muito lógico se lembrarmos que a Revolução é, desde a origem, filha de Satanás, filha de um pai que se destaca em tirar proveito de todas as oportunidades e não apenas das revoluções políticas.

Certamente, veremos que há grandes diferenças entre determinado elemento revolucionário do século II, a Gnose, e determinado outro elemento do século XIV, o neoplatonismo medieval, ou entre as heresias dos séculos XII e XIII e o modernismo dos séculos XIX e XX, ou ainda entre os círculos hermetistas dos séculos XIV e XV e a Maçonaria do século XVIII; mas também constataremos que profunda unidade de doutrina e de frutos reúne essas diversas manifestações para transformá-las em fases, em estágios, da Revolução tomada em seu sentido mais amplo, ao mesmo tempo que o mais exato, de derrubada do Cristianismo: derrubada que atinge o espiritual e o temporal ao mesmo tempo, pois a Revolução não separa os dois domínios, sabendo bem que, controlando um, ela controla o outro e, arruinando um, ela arruína o outro.

O estudo da Revolução em ação no seio do Cristianismo tem, portanto, poucos limites quanto ao seu domínio, o temporal como o espiritual, nem quanto à sua abrangência cronológica, já que começa no "Non serviam": isto é, não esgotaremos a matéria nesta breve exposição que pretende apenas apresentar o problema em seus diversos aspectos, medir o seu escopo, deixando para numerosos trabalhos posteriores de diversos autores a tarefa de pintar a própria tela.

Bispos Maçons, quarenta na França talvez, uma multidão em Roma, até nas escadarias do trono pontifício... eis o que é capaz de estarrecer a massa de fiéis. E, no entanto, para quem acompanhou o curso da evolução nos últimos séculos, para quem conhece um pouco a Revolução em sua essência, não há aí nada mais que o fruto de uma lógica impiedosa, um fruto que, aliás, começou a amadurecer há bastante tempo, já que os primeiros prelados iniciados conhecidos datam de aproximadamente dois séculos, e que, mais próximos de nós, um relatório episcopal redigido em 1938 já fixava o número em uma boa vintena só para a França...

Evidentemente, se considerarmos a Revolução apenas sob o ângulo dos sobressaltos políticos, da violência material, compreende-se mal esse fenômeno diabólico; mas essa não é, de forma alguma, a característica intrínseca da Revolução, mesmo que a violência lhe seja frequentemente muito útil.

A Revolução é fundamentalmente a recusa de Deus, do verdadeiro Deus, mais precisamente a recusa do plano de Deus para o mundo, da ordem que Ele estabeleceu em sua criação e do destino que Ele lhe atribuiu.

Foi isso que Satanás recusou primeiro, e é para arrastar o homem em sua recusa que ele não teme colocar o mundo a ferro e fogo quando necessário; mas ele dispõe de muitos outros métodos, mais pacíficos e mais sutis, e a ação revolucionária, ação satânica, é um tecido complexo feito de um emaranhado de táticas diversas, Gog e Magog, diz a Bíblia, sedução e violência, traduziremos livremente.

Este é o primeiro ponto a ser distinguido. Certamente, não é uma descoberta, mas, embora conhecida, essa noção é muitas vezes negligenciada na prática; sabe-se disso em teoria, e quando se tenta compreender, não se leva mais em conta de forma alguma; é-se então tentado a ver na Revolução apenas uma força negativa, destrutiva, o que é falso no plano dos meios: é um erro grave, cheio de consequências para o equilíbrio do julgamento, pois impede quem é vítima de ver claramente na multidão de avatares revolucionários.

Sim, a Revolução é negativa em sua essência, por se opor ao verdadeiro Deus, mas não o é, ou ao menos o é de uma maneira extremamente sutil, em seus meios, e seu ateísmo é frequentemente muito bem camuflado: a título de exemplo, lembremos apenas que as "Constituições de Anderson", carta da Maçonaria moderna formalizada por dois pastores protestantes, especificam bem que o Irmão... não deve ser um ateu... estúpido!

Mesmo que, aqui e ali, ela utilize transitoriamente o ateísmo para desobstruir o terreno religioso, o pensamento revolucionário, em sua essência, não tende a suprimir Deus pura e simplesmente; ele sabe muito bem que só se suprime algo de forma eficaz substituindo-o, e sua vontade é a de substituir o verdadeiro Deus por um arremedo de Deus: para que Deus não esteja mais em lugar algum, que melhor artifício do que colocá-lo em toda parte, que melhor solução do que o panteísmo?

Esse erro frequente sobre a natureza da Revolução encontra algumas explicações, e, portanto, algumas desculpas, em certos movimentos surgidos há cerca de um século; o caso do Grande Oriente e da política maçônica da Terceira República, o caso também do Comunismo, enfatizaram demais um aspecto particular e de forma alguma essencial: o do materialismo vulgar.

A evolução recente, sobretudo nas últimas três décadas, mostra o retorno em força da verdadeira tendência revolucionária, aquela que se exerce há milênios: a tendência religiosa, ou pseudorreligiosa, se preferir.

Essa pseudorreligião, esse panteísmo, não é, aliás, novo na terra: é, ao contrário, a situação em que caíram todos os homens após a Queda e a regressão que a seguiu, e é ainda a posição de toda a parcela da humanidade que não é cristã, mesmo que por vezes certas aparências sejam diferentes.

É inevitavelmente a posição em que recai aquele que, por alguma razão, deixa de ser cristão sem, contudo, se tornar estupidamente ateu. É, portanto, logicamente, a posição de líderes religiosos que efetivamente deixaram de ser cristãos, de bispos ou de outros que o cristianismo abandonou como o casulo cai da crisálida que virou borboleta.

O escândalo, pois ele subsiste, claro, e não diminuído, mas ainda mais imenso, reside no processo que conduziu esses bispos, esses teólogos, esses intelectuais, esses pastores, a tal transformação, a tal mutação insidiosa: foi esse o trabalho dos séculos, e a nós mesmos levará muito tempo para percorrê-lo por completo.


Desde os primeiros séculos, a pessoa de Cristo e o plano da Redenção geraram problemas e se revelaram tão estranhos ao modo geral de pensamento que toda uma corrente se desenvolveu para deformar o Cristianismo nascente e reduzi-lo aos esquemas anteriores.

É a origem da proliferação das correntes gnósticas (1) que puseram a Igreja em perigo durante vários séculos; a vinda de Santo Irineu a Lugdunum (Lyon) junto a São Potino teve provavelmente como causa a intrusão dos Gnósticos no vale do Ródano, em meados do século II e, aliás, sua obra mais conhecida não é o "Contra Haereses"?

Por sua vez, Santo Agostinho, antes de sua conversão, nos mostra qual poderia ser o atrativo dessas doutrinas sobre um intelectual romano de valor.

O Arianismo e as invasões bárbaras que o levaram ao Ocidente desviaram a atenção por alguns séculos, mas as correntes gnósticas continuaram seu percurso de forma subterrânea, notadamente na Europa Central, para ressurgir com força total nos séculos XII e XIII na Itália e na França: eles chegaram então a contaminar regiões inteiras como o Languedoc e deixaram muito poucas incólumes.

Outra corrente de influências, diferente mas convergente, é a da contribuição árabe e da contribuição judaica, que foram determinantes. A contribuição árabe exerceu-se em duas etapas: as Cruzadas primeiro, o primeiro contato importante dos cristãos com uma sociedade pagã elaborada, o Islã: o caso dos Templários é um bom exemplo dos riscos corridos e testemunha uma situação infinitamente mais ampla; os Árabes da Espanha em seguida, notadamente com Averróis, no século XII, que difundiram no Ocidente um panteísmo materialista. A contribuição judaica, vinda também da Espanha e dos diversos guetos da Europa (Provença, Praga, Renânia, etc.) foi a de um panteísmo mais místico (o que não significa de modo algum melhor) oriundo da Cabala.

O conjunto dessas contribuições, por vezes contraditórias em aparência, mas cumulativas na realidade, constituiu a primeira fonte de um ocultismo que não pararia de se desenvolver durante a Idade Média, o Renascimento e a Idade Clássica, sob nomes diversos: Alquimia, Teosofia, Iluminismo, etc.

Na época medieval, esse panteísmo latente encontrou também uma nova face, mais nobre, mais religiosa, com o neoplatonismo cujo aperto não mais se afrouxaria, culminando finalmente na Reforma e no idealismo cartesiano.

Trata-se aí de todo um corpo de doutrinas que, sob aparências refinadas, ares de religião, por vezes até de piedade mística, tende a arruinar o equilíbrio cristão; elas deixaram, em todo caso, os espíritos muito desarmados e muito permeáveis quando a onda neopagã do Renascimento avassalou a Europa no século XV.


Por outro lado, a crise do Sacerdócio e do Império e o Grande Cisma que dela foi a consequência contribuíram fortemente para o abalo da Fé. Certamente, à primeira vista, vemos aí apenas questões de estruturas e de organização, mas, de fato, todo o Cristianismo viu-se posto em questão nessa ocasião, até em seus fundamentos doutrinários.

Para espíritos habituados, como convém, a não dissociar o corpo da cabeça, a Igreja do Cristo, a perda do respeito pelo Episcopado e pela Papado devia inevitavelmente levar a mais do que uma simples crise jurídica: é a Igreja enquanto mediadora entre o Céu e a Terra que se encontrava atingida, e os desdobramentos de uma catástrofe semelhante são muito difíceis de medir com exatidão.

Para aqueles que foram atingidos por tamanha perda de confiança, duas atitudes se ofereciam à escolha: ou bem, não mais crendo no poder das mediações humanas, eles se ligavam diretamente a Deus, e essa é a porta aberta para o individualismo com todas as suas armadilhas que se revelarão pouco a pouco – é também, notemos de passagem, certo desprezo pela piedade litúrgica e seu caráter objetivo e comunitário – ou bem, de forma ainda mais radical, desviando-se da instituição "abalada", eles cessavam ao mesmo tempo de aderir à Tradição transmitida e de crer em seu divino fundador.

Ali também, que fendas profundas pelas quais o neopaganismo da Renascença irromperá!

A partir do século XV, múltiplas influências se conjugaram; às causas previamente evocadas, e os escândalos da Roma renascentista provam suficientemente que não desapareceram, somam-se agora dois outros elementos importantes: o retorno do paganismo antigo e o desenvolvimento das ciências modernas, a astronomia em particular.

Para os espíritos cultos da época, a organização do pensamento cristão encontrava-se posta em questão, primeiro em sua periferia, em suas relações com o mundo material, depois em seu próprio centro, em sua noção de Deus.

O fato foi especialmente sensível na Itália, nessa Itália do Quattrocento onde pululavam as Academias neopagãs na corte dos príncipes, focos anticristãos de intelectualismo e mundanidade.

Passaremos aqui sobre os estragos causados ao corpo cristão, às suas instituições e à sua doutrina, pela Reforma; a questão é suficientemente conhecida para que todos a pensem espontaneamente e para que possamos não abordá-la no âmbito deste breve artigo.

Mais negligenciado é habitualmente o papel desempenhado pela exploração do mundo, a conquista das Índias, como se dizia na época. À semelhança do que havia acontecido nas Cruzadas, mas em escala mais vasta, a intrusão de civilizações estrangeiras, pagãs, panteístas, muitas vezes transmitidas à Europa com um aparato de luxo, contribuiu para desintegrar o espírito dos cristãos, já muito abalados por tudo o que vimos anteriormente.

Essa influência perniciosa exerceu-se tanto mais facilmente quanto uma multidão de autores de talento se tornaram os incansáveis difusores de relatos mais intrigantes uns que os outros e cuja conclusão idêntica é a superioridade de nações pagãs refinadas sobre Estados europeus dilacerados pelas guerras de religião.

No limiar do século XVIII, o mal está feito em profundidade: grande parte da elite francesa e europeia, elite social e intelectual, já não é cristã, mesmo que ainda conserve alguma aparência. Isso se tornará evidente em círculos cada vez mais amplos, a partir da Regência e durante todo o século XVIII.

É então que se estabelece a Maçonaria moderna, não mais destinada apenas a redes de doutrinadores e sábios, mas à massa das elites sociais. Generaliza-se também a propaganda abertamente anticristã: os livros proliferam, impulsionados por centenas de sociedades de leitura, difundidos também por miríades de mascates através das províncias e até nas zonas rurais: o povo começa a ser atingido, não mais apenas em suas práticas, mas também em sua inteligência.

O mal é agora profundo o suficiente para que a Revolução possa considerar passar ao estágio político: a Maçonaria encarrega-se de derrubar o Trono e o Altar, pois os dois são solidários, pelo menos por natureza; a Revolução sabe disso, enquanto muitas monarquias europeias o esqueceram e passaram este último meio século a minar a Igreja (2).

Nesta virada do século XVIII para o XIX, a máscara é levantada; a Revolução que, por vários séculos, se arrastava contra o Cristianismo, agora se ergue clamando sua revolta: os jogos são claros, ninguém mais pode ser enganado, a não ser voluntariamente.

Antes de ir mais longe e, tendo sobrevoado a Revolução rastejante, nos deter um pouco na Revolução erguida, precisamos aludir a uma dificuldade muito geral. Acabamos de dizer algumas linhas acima: "O povo começa a ser atingido". Ora, essa expressão levanta um problema bastante delicado.

De fato, quando ideias novas, comportamentos novos surgem em uma população, é evidente que nem todos os membros são atingidos ao mesmo tempo.

Isso era particularmente verdadeiro nos séculos passados, quando não atuava, ou pouco, diferentemente da época moderna, a rapidez de difusão devido aos meios de comunicação em massa. Nesses tempos em que não existiam jornais (ou quase), nem rádio, nem televisão, e onde a maioria dos homens permanecia ligada à terra, as próprias condições de vida os protegiam melhor contra a subversão das ideias e dos costumes.

É por isso que as transformações diziam respeito sobretudo às camadas mais cultas da população e com tempo livre significativo: o clero em primeiro lugar, depois a aristocracia e, em seguida, a burguesia, em sua forma mercantil ou judicial. É logicamente nessas categorias que se recrutaram, pouco a pouco, os partidários das ideias novas, que estabeleceram novos consensos sociais e morais, que se distanciaram da Igreja, tanto de sua doutrina quanto de suas práticas.

Essa defasagem acarreta uma grande diversidade entre as diferentes camadas da população e, por isso, os comportamentos oficiais, exteriores, podem se revelar muito diferentes das motivações profundas: é preciso, de fato, por vezes séculos para que as convicções de uma pequeníssima minoria (a vanguarda, como geralmente é designada) se estendam à maioria e, subindo então à superfície, consigam fazer explodir as normas antigas; o observador superficial fica então surpreso com uma situação que lhe parece imprevisível apenas porque levou vários séculos para amadurecer.

Se quiser ser perspicaz, o observador deve, ao contrário, concentrar sua atenção em duas direções: por um lado, o estudo das minorias de ponta que podem indicar a situação futura com vários séculos de antecedência; por outro lado, um exame minucioso da prática da maioria para distinguir o que se baseia em uma convicção profunda, e que, portanto, durará, do que, em oposição, resulta mais de um simples hábito, e, portanto, não poderá durar e desmoronará um dia, quando o trabalho de minar das minorias ativas der seus frutos.

Esse trabalho em vários níveis, em vários registros, não é dos mais cômodos: cada pesquisa é forçosamente parcial e corre o risco de parecer parcial, as diversas direções tomadas podem até parecer contraditórias. É bem aqui o momento de lembrar que o princípio de não contradição implica que se fale da mesma coisa considerada nas mesmas condições, o que raramente é o caso em matéria histórica.

Após este parêntese, voltemos à Revolução que se ergue a céu aberto e cuja ação vai, por isso, acarretar novos efeitos em várias áreas.

A característica da tormenta revolucionária foi, em primeiro lugar, acelerar consideravelmente os processos em curso e coagular em uma massa homogênea (ao menos grosseiramente) todo um povo cujos membros se situavam, na realidade, em níveis muito diferentes quanto ao espírito revolucionário. Por isso, a revolução interior foi projetada para a frente em um grande número de espíritos pouco atingidos até então: o abalo social, o vazio religioso, provocaram assim em alguns lustros uma evolução que normalmente teria exigido pelo menos mais um século.

Mas o problema mais importante reside no fato de que as relações entre o temporal e o espiritual não se apresentarão mais da mesma forma. E as crises do século XIX derivam em grande parte dessa nova situação, de modo que, além dos elementos propriamente religiosos e doutrinários, é preciso estudar as questões temporais, e isso de uma tríplice maneira: em si mesmas, claro, depois nas relações entre o espiritual e o temporal, finalmente nas consequências, os desdobramentos dessas relações no espiritual em si.

No final do século XVIII, a Revolução triunfa e impõe um novo estado do temporal: ela se opõe à Igreja, impõe-se a ela; pouco a pouco, ao longo do século XIX, ela a subjugará no plano social, depois político, e mesmo no plano doutrinário.

Essa é uma grande novidade em relação aos séculos precedentes, onde o temporal e o espiritual estavam em acordo, ao menos teórico e global.

Doravante, diante da Igreja, senhora do espiritual e guia do temporal, ergue-se uma Contrarrevolução triunfante que possui o poder temporal e o utiliza para orientar o espiritual para pensamentos e práticas diretamente contrárias ao catolicismo.

Tal é a realidade profunda, ora confessada, ora celebrada, mas muitas vezes incompreendida por muitos cristãos. E, de fato, a questão não é simples: pois entre essas duas forças que se enfrentam, não há praticamente descontinuidade, elas estão misturadas corpo a corpo, com tudo o que isso implica de dificuldades no plano da ação como no plano da lucidez; e aí, sem dúvida, reside a principal vantagem da Revolução e a fonte de muitos de seus progressos.


Mal a Igreja havia curado suas maiores feridas, com a Revolução preparando a segunda onda de seus ataques, a de meados do século, o problema da conciliação entre elas foi levantado e resolvido por católicos no sentido favorável à Revolução: esta foi a tarefa do catolicismo liberal, que estudaremos mais tarde em seus textos, mas que podemos relembrar brevemente aqui.

Neste primeiro terço do século XIX, a Revolução se abrandou, não mais guilhotinando. Transformou o estado social e econômico no sentido prefigurado pelos últimos anos pré-revolucionários, e o conjunto dos católicos, embora não todos, acomodou-se muito bem ao liberalismo econômico.

Paralelamente, a Igreja reconstruiu em parte suas estruturas, mas concluir esse trabalho no que concerne às congregações religiosas e, sobretudo, ao ensino exigia acordo com o novo poder temporal, paz e até mesmo certa cooperação.

O que fazer? As soluções possíveis eram múltiplas, o que não significa que fossem boas, e, de fato, o conjunto dos católicos adotou uma gama de posições graduadas, cada um acrescentando a nuance que lhe convinha e que lhe permitia crer que permanecia livre em relação à manobra em curso.

A posição católica, oficial, romana, expressa nas diversas Encíclicas dos Papas, é bem conhecida: a Revolução é satânica, é condenada, não se deve colaborar com ela. Mas Roma abstém-se cuidadosamente da política e mal oferece conselhos práticos, nem para se livrar da Revolução, nem para coabitar com ela.

Em oposição, surgem as opiniões daqueles que se confrontam com os problemas da coabitação. A maioria inclina-se para uma não hostilidade de fato e, como, pelo menos no início, não era possível ir além, os espíritos e os escritos habituam-se a distinguir sutilmente entre a tese e a hipótese, entre a condenação teórica da Revolução e a colaboração prática com ela.

Atenção. Estamos aqui no ponto crucial do drama que motiva nossa abordagem, ou seja, no momento em que a luta secular da Contra-Igreja contra o catolicismo poderá ocorrer não apenas do exterior, mas também do interior da Igreja. O temporal não mais defendendo o espiritual, mas, ao contrário, tendo caído nas mãos de seus inimigos, estes puderam contornar as muralhas e agora estão infiltrados no interior, podendo manobrar à vontade.

Com razão se pôde dizer que o catolicismo liberal foi o pior inimigo que a Igreja já encontrou em seu caminho.

De fato, muito rapidamente, a conciliação de fato tornou-se para alguns uma conciliação de direito, levada por vezes até o batismo da Revolução. Lamennais, e sua condenação por Roma, encontram aqui seu lugar, mas é um lugar um tanto visível demais, pois corre o risco de mascarar aos olhos do público um certo catolicismo liberal menos extremo, mais latente, e, no entanto, tão perigoso quanto, pois infinitamente difundido, menos afirmado em teoria, mas constantemente subjacente às atitudes teóricas e práticas daqueles que exercem influência sobre os assuntos públicos. (3)

O fruto longínquo desse liberalismo católico foi preparar o Ralliement e a Democracia Cristã, e o fruto imediato foi uma desmobilização diante da Revolução, o que frustrava os esforços dos verdadeiros católicos contra ela.

Pois, além dos liberais e da massa amorfa, havia também católicos lúcidos e corajosos que, na falta de um programa global de derrubada da Revolução, esforçavam-se para lutar de forma pontual, denunciando o domínio das seitas ou estabelecendo as primeiras bases de uma doutrina de reconstrução social.

Estudaremos também a obra dos contrarrevolucionários, mas é preciso estar ciente de que, se essa ação não pôde, de fato, assumir um caráter global de contestação da Revolução, não apenas em tal ou qual de suas manifestações, mas sobretudo em sua própria existência, isso se deveu essencialmente à influência deletéria do catolicismo liberal: este anestesiava literalmente todo um povo cuja imensa maioria era, naquela época, ainda globalmente católica; era tudo o que a Revolução pedia naquele momento, e quem não percebe que isso era, de fato, o mais importante [?], pois o resto, o tempo se encarregaria...

Enquanto isso, a coberto da tolerância liberal, a Revolução continuava metodicamente seu avanço em todos os domínios: revoluções políticas de meados do século XIX, que culminaram com a perda da cidade de Roma, radicalização da Maçonaria que, tornando-se abertamente ateia e anticristã, apoderou-se do poder na França e implementou as leis escolares de 1880, principal ferramenta da descristianização que constatamos há quarenta anos.

No plano intelectual, a minagem dos fundamentos históricos e doutrinários do cristianismo deveria levar à crise modernista entre 1890 e 1910. Enquanto isso, a partir do final do século, a Seita, preparando o futuro, dava nova vida à sua tendência espiritualista.

Diante de progressos tão importantes ao longo de um século, a conclusão da maioria dos católicos foi que a Revolução não podia mais ser derrubada, e, portanto, que não devia mais sê-lo, e que, para evitar o pior, convinha aderir às suas estruturas e métodos.


Mas onde se encontra o pior? Ou seja, evitava-se detalhar excessivamente, reservando-se assim o direito de mudar a definição a cada recuo sucessivo. De tal modo que, em poucos anos, assistia-se a um alinhamento dos católicos com as posições revolucionárias:

Primeiramente, em matéria social: a Escola Social Cristã foi integralmente contrarrevolucionária em sua origem; sua crítica do estado social liberal remontava das constatações de fato às causas revolucionárias, e sua análise mostrava pertinentemente que só se poderia curar a sociedade tomando o caminho oposto da Revolução. Apesar de belos devotamentos e grandes talentos, a acolhida dos católicos foi bastante moderada, a ponto de se ver, ao contrário, surgir ao longo do tempo uma corrente dominante que esperava a salvação social, não mais da Contrarrevolução, mas de um recurso cada vez maior às técnicas revolucionárias.

Visto neste pano de fundo da questão social, o ralliement político perde um pouco de seu caráter estarrecedor e torna-se quase compreensível: ele surge como a consequência e a conclusão.

Muito se especulou sobre o pensamento de Leão XIII; ele queria o ralliement  à Revolução, ou queria outra coisa? Suas grandes encíclicas, na medida em que são, evidentemente, um reflexo fiel de seu pensamento, mostram de forma inequívoca que ele era realmente oposto à Revolução e parece, portanto, certo que ele desejava outra coisa (4).

Mas diante de uma massa católica já suficientemente "revolucionada" por ter perdido um verdadeiro ímpeto contrarrevolucionário, o Papa julgou hábil lançar os fiéis na competição política, no terreno próprio dos revolucionários, a maior das armadilhas, se é que houve, tão frequentemente renovada desde então e até por católicos que se creem opostos à Revolução.

A pouca honestidade natural que restava aos liberais derreteu-se rapidamente em contato com as manobras politiqueiras, e, se necessário fosse, a história das diferentes alianças e partidos formados no início deste século bastaria para abrir os olhos.

Pouco a pouco, ou melhor, muito rapidamente, a força da massa católica perdeu-se nas areias eleitorais, e a Revolução pôde congratular-se por seu adversário ter perdido, graças a isso, sua última chance de recuperação e vitória: do ponto de vista humano, evidentemente, pois do ponto de vista divino e com meios divinos, é outra coisa, mas os prazos divinos são também outra coisa...

Não só o pior não foi evitado, mas agora e dessa forma ele estava assegurado; os acontecimentos da Separação deveriam rapidamente o demonstrar.

Nem mesmo o bastião da própria fé deixou de sentir o ataque, e esses anos de 1890-1910 viram desenrolar-se a crise modernista, experiência fascinante entre todas.

Ela revelou o impacto dos ataques revolucionários contra a religião entre os intelectuais católicos, tanto no que diz respeito aos temas escolhidos quanto à porcentagem das pessoas envolvidas – um terço do clero, diz-se, e notadamente o jovem clero. Ela mostrou também a resistência do corpo católico e, ao mesmo tempo em que uma certa hesitação de alguns bispos, a determinação de Roma.

Paradoxalmente, ela confirmou também que a separação entre o temporal e o espiritual era vivida, de fato, pela maioria dos católicos, visto que estes aceitavam a revolução nos planos social e econômico, enquanto ainda eram atingidos por ela no plano religioso.

Para a Revolução, a conclusão era clara: a subversão religiosa restava por fazer, e ela se faria pelo clero.

A crise neomodernista contemporânea levou os católicos lúcidos a se debruçarem sobre a crise do início do século e a reabrir um dossiê um pouco cedo demais fechado: São Pio X havia falado, os modernistas haviam desaparecido, não se fala mais nisso. Na realidade, nada disso: já dissemos acima, a maioria dos modernistas não se moveu um milímetro, contentando-se em abafar suas ações por alguns anos, sem esquecer de liquidar seus adversários assim que o Papa da Pascendi morreu.

Mas nosso verdadeiro problema não se situa aqui. Muito mais importante que as peripécias é o sentido da crise modernista em relação ao corpo católico; vista sob esse ângulo, não se trata certamente de um simples resfriado, mas sim do ponto de chegada de uma evolução de vários séculos, de uma incubação de vários séculos de idealismo e subjetivismo, e de dois séculos de ataques pesados contra os fundamentos da fé católica.

Nesse fim do século XIX, é o caráter objetivo da fé católica que é minado, ao mesmo tempo negado pelo materialismo e pelo cientificismo, relativizado pela história das religiões e pela intrusão das espiritualidades orientais, e enfraquecido na consciência dos fiéis por décadas de sentimentalismo e individualismo.

A grande massa dos fiéis, embora minada, ainda não é diretamente atingida, mas a elite intelectual, clerical e leiga, é atingida em suas certezas: ela se esforça para salvar à sua maneira o que pode ser salvo, o que explica o grande número de graus que se observa entre os modernistas, desde aqueles que praticamente varreram tudo até aqueles que pensam poder salvar o essencial sacrificando as formas.

Nessas condições, compreende-se muito bem que a decisão pontifícia, se bem que tenha tranquilizado os fiéis, na verdade não mudou nada na situação real, da qual apenas freou temporariamente a expressão.

Após a guerra de 1914-18, e graças a ela, a Revolução deu um grande passo, notadamente na Europa, onde eliminou ou abalou as monarquias católicas. Politicamente, os católicos estão finalmente integrados ao sistema revolucionário que não mais contestam e do qual constituem uma engrenagem.

Isso ficará bem claro para os infelizes que não aceitam a renegação, e a condenação da Action Française em 1926 será mais um passo, que se pode qualificar de decisivo à falta de ser o último, no avanço revolucionário dentro da Igreja.

Um excelente sinal, e que não engana, dos progressos do mal, é que mesmo os surtos de vitalidade que animam o corpo cristão não tardam a ser gangrenados e a servir, finalmente, o inimigo: dois bons exemplos disso são a Ação Católica e o Renascimento Litúrgico.

É, portanto, muito compreensível que bispos, clérigos, intelectuais tenham continuado seu caminho ao encontro da Revolução, até mesmo em sua doutrina, sua "teologia", por assim dizer. Nesse tempo em que o ecumenismo começa vigorosamente, por volta de 1930, não é muito de se estranhar que esses modernizantes tenham aderido a doutrinas e até mesmo a organizações que são, por natureza, consagradas ao ecumenismo e ao esoterismo.

Compreende-se muito bem, ao contrário, que esses "católicos", ao fim de uma práxis revolucionária longa e generalizada – a deles e a de seu meio –, pudessem ter se sentido aliviados por encontrar, finalmente, um quadro intelectual e humano onde seu pensamento e sua ação se encontravam, finalmente, em harmonia.

O crime, o ilogismo, não se situa tanto aqui quanto nos primeiros passos dados rumo à Revolução, um século ou mais antes; o resto não passa de uma consequência.

Nesse entre-guerras, a guinada final foi, portanto, dada, ao nível de uma minoria, é certo, mas tratava-se de uma minoria consciente e ativa; o relatório episcopal supracitado estimava o número de Excelências iniciadas em cerca de vinte, quantos mais padres, sem dúvida, e quantos leigos militantes!

Quanto aos germes em potencial nessa minoria, só restava fazê-los desenvolver-se na massa do corpo cristão, onde encontrariam um terreno já preparado e tantas cumplicidades inconscientes. Além disso, diversas circunstâncias deveriam favorecer a manobra: primeiro, a eliminação, aproveitando a guerra de 39-45, dos quadros católicos tradicionais, fossem eles liquidados fisicamente ou aniquilados em sua influência social; em seguida, a utilização das estruturas eclesiais – Ação Católica, Escotismo, Missões de França, Centro de Pastoral Litúrgica, etc. – como vetores dos novos modos de pensamento, tudo isso resultando na reciclagem permanente e generalizada da maior parte da elite cristã, clero e militantes.

Aplicam-se novamente aqui as observações feitas acima a respeito da sociedade em geral.

Em um corpo eclesial em plena deriva, os níveis pessoais podem ser muito diversos; não obstante, os mais significativos, e portanto os mais interessantes para o estudo, são aqueles que chegaram antes dos outros ao fim da evolução comum.

Pois se a crise modernista foi um ponto de chegada, ela constituiu também um ponto de partida para uma nova etapa, a da extensão da subversão a todos os fiéis.

No limiar do século XX, é certo que a Revolução se impôs, tanto mais facilmente porque a hierarquia católica aceitou a ela se ralimar. Não só impôs a todos suas formas e estruturas políticas, mas conseguiu relegar a fé católica para o domínio das opiniões privadas, seja em matéria de concepção, de explicação do mundo, ou em matéria de normas para a ação moral e social.

É a esse nível que se situa a verdadeira vitória da Revolução, e é bem evidente que essas transformações não esperaram o início do século XX para começar, nem mesmo para atingir um nível inquietante. Surgida há cerca de três séculos entre alguns intelectuais e pessoas da sociedade – os céticos e os libertinos –, tornada oficial há dois séculos pela Revolução, a atitude revolucionária começou sua penetração na massa católica há um século, e a crise modernista é o sinal irrefutável disso.

Desde 1914-18, ela se desenvolveu em grande velocidade entre os batizados, culminando na "Guerra de Araque"... e no pós-guerra que conhecemos, e deixando o campo livre para a onda de materialismo desenfreado que "se alastra há cerca de trinta anos".

Segundo uma regra quase sistemática, enquanto esse movimento se desenvolvia, outro se preparava, colocando seus primeiros peões e entrelaçando suas realizações com as do precedente.

Enquanto sua fase materialista triunfava, e no próprio triunfo encontrava as causas de sua ruína, a Revolução preparava e implementava sua fase espiritualista.

Ali também os germes são antigos, ao nível das minorias; a extensão ao público começou há cerca de um século com um início de "exoterização" no entre-guerras. Esse movimento acelerou-se antes de 1939 com a propaganda pelo hinduísmo e as tentativas de aproximação da Maçonaria com a Igreja.

É sobretudo há cerca de vinte anos que a fase decisiva se iniciou, com essa vasta propaganda pelo retorno à natureza e a formidável expansão das artes marciais e do yoga (5), do Zen hoje e seus numerosos mosteiros na Europa e na própria França, do pensamento e dos métodos orientais em geral, tanto hindus quanto chineses e japoneses.

A massas longa e habilmente descristianizadas em sua inteligência e em sua vida prática, e que a "civilização moderna", ou seja, materialista e revolucionária, conduziu a um beco sem saída, a Revolução tem a astúcia de propor uma solução alternativa espiritualista que já conquistou uma parte das elites.

Essa manobra consegue tanto mais facilmente porque esse neoespiritualismo se oferece sob diversos aspectos capazes de satisfazer os diferentes gostos, desde o hippie barbudo e sujo, adepto da droga e do flower power, até o jovem universitário de nuca raspada, fervoroso do "Grece" e dos rituais solsticiais, passando pelos moonistas e guenonianos de todos os tipos.

Evidentemente, para o sucesso de tal empreendimento, era indispensável que a verdadeira religião desaparecesse; foi a isso que nossas hierarquias se dedicaram desde o Concílio Vaticano II: sob o pretexto de reformas, o Concílio teve como missão legalizar a Revolução e preparar o desaparecimento de tudo o que "cheirava" demais a catolicismo para facilitar o ecumenismo com os "irmãos separados".

Atingido esse estágio, viu-se em seguida atacar os dogmas que ainda eram mais ou menos respeitados por heréticos e cismáticos; é toda a doutrina cristã que se encontra minada por cima, é ela que deve desaparecer para dar lugar ao "ecumenismo planetário", à religião mundial ateia! Pois tal é o objetivo: a Revolução não tem nada contra a religião, ela tem tudo contra Deus, está, portanto, pronta para aceitar uma religião sem Deus; há séculos ela se esforça para promovê-la e está quase lá.

Cristianismo e Revolução... Ao fim dessas primeiras abordagens, quem não percebe que é antes "Cristianismo OU Revolução" que se deve escrever? A oposição é total, não acidental, mas substancial e irreformável.

Os revolucionários, aliás, o sabem muito bem, enquanto muitos cristãos – a grande maioria hoje, infelizmente! – o ignoram e se encontram até desprovidos dos meios de compreendê-lo quando lhes é explicado.

Tal é, no entanto, o dever, e portanto a primeira urgência: depurar as inteligências para permitir aos contrarrevolucionários pensar realmente, não sendo submetidos a paixões, mesmo que qualificadas de nobres.

Compreender a Revolução requer conhecimentos, claro, mas sobretudo um espírito livre: capaz de remover as aparências, de descolar os rótulos, de aprofundar o real apesar dos apegos sentimentais, capaz também de controlar suas pulsões ativistas, pois no ponto em que chegamos as ilusões não cabem mais e, na maioria das vezes, a ação não passa de uma armadilha a serviço do Adversário.

O sucesso ou a derrota da Revolução, o triunfo ou o fracasso do projeto satânico, tudo isso está nas mãos de Deus. Já, na luta entre os Anjos, Satanás perdeu uma primeira vez. Depois, entre a cruz do Gólgota e o sepulcro da Ressurreição, ele perdeu uma segunda vez.

E agora, temos a promessa divina, várias vezes renovada, de que, quando ele se levantar novamente contra Cristo, ele, o Anticristo, perderá pela terceira e última vez: será no instante derradeiro em que a Revolução, tendo coberto a Terra e esmagado a Igreja, acreditará ter sua vitória definitiva contra Deus.

Resta o mistério do triunfo provisório da Revolução, mistério do fracasso aparente da Igreja. Na noite que se estende, como na noite de Sexta-feira Santa, quando o Mestre está morto e os discípulos dispersos, o Mal é vencedor e se adorna com os despojos do Bem.

Só nos pertencem a lucidez e a Esperança.

P. R.


(1) Outro artigo deste mesmo Boletim trata do fundo do pensamento gnóstico – Ver página 23.

(2) Um autor muito bem informado definiu esse tempo como o da "Europa dos príncipes iluminados", o que é lógico, pois é também o das "Luzes".

(3) Um fenômeno semelhante se repetiu no momento da crise moderna no início do século XX. Alguns líderes foram condenados, mas milhares de clérigos modernizantes permaneceram tranquilamente em seu lugar na expectativa de dias melhores em que pudessem retomar sua ação: como não ver que esses constituíam o verdadeiro perigo, mais ainda do que publicistas muito chamativos como um Loisy?

(4) Para ser exato neste ponto, conviria examinar aqui o caso do cardeal Rampolla, secretário de Estado e Maçom. As dimensões deste estudo não o permitem, mas o fato de levantar o problema basta para indicar quais influências múltiplas devem ter atuado.

(5) Alguns exemplos, entre outros – A Federação Francesa de Judô é a entidade esportiva que possui o maior número de licenciados e, entre eles, muitos jovens – Em uma cidade como Lyon, há mais centros de Yoga do que locais de culto católico, e esses centros são frequentemente instalados em estruturas oficiais, como Casas de Juventude, Centros Sociais, onde estão ao alcance do grande público – Finalmente, o número de casas religiosas, geralmente de contemplativos, onde o Yoga e o Zen são praticados como ascese regular, é incontável.