O PADRE BARBIER FACE ÀS ARTIMANHAS DO CATOLICISMO LIBERAL
O primeiro número publicado pelo nosso centro de estudos, ao citar um artigo de Roger Duguet, pôde dar uma ideia do que foi o padre Barbier. Pouco sabemos sobre sua personalidade e sua vida.
Podemos apenas complementar a nomenclatura de suas obras; com efeito, à curta enumeração da página cinco convém acrescentar: As Origens do Cristianismo (dois volumes), Meu Crime (alocuções de colégios 1896-1901), A Disciplina nas Escolas Livres, As Narrativas do Evangelho, As Infiltrações Maçônicas na Igreja, e O Dever Político dos Católicos.
Mas é de sua "História do Catolicismo Liberal e do Catolicismo Social na França do Concílio do Vaticano à Ascensão de Bento XV (1870-1914)" que nos propomos extrair algumas ideias.
Esta obra contém cinco volumes de aproximadamente quinhentas páginas cada, tratando-se, portanto, de uma produção considerável; não se trata de resumir este trabalho, repleto de citações e abrangendo quarenta anos da história da Igreja na França. Queremos apenas destacar o que nos pareceu mais marcante sobre os métodos de penetração da subversão.
Citaremos quatro exemplos, não tanto para provar que essa subversão já estava em andamento no final do século passado, quanto para mostrar a tática empregada.
1º Exemplo. Em 1º de novembro de 1885, Leão XIII publicava a Encíclica Immortale Dei sobre a constituição cristã dos Estados; nela pode-se ler, nomeadamente: "As sociedades políticas não podem, sem crime, comportar-se como se Deus não existisse de modo algum... Ao honrar a Divindade, devem seguir estritamente as regras e o modo segundo o qual o próprio Deus declarou querer ser honrado. Os chefes de Estado devem, portanto, colocar entre seus principais deveres o de favorecer a religião, protegê-la com sua benevolência, cobri-la com a autoridade tutelar das leis."
Esta é uma tomada de posição das mais claras, que não tem nada de compatível com o liberalismo; aliás, Leão XIII citava Mirari Vos de Gregório XVI e alguns artigos do Syllabus de Pio IX. A tese liberal, ao contrário, proclama a indiferença absoluta do Estado em matéria religiosa; segundo ela, a Igreja só pode reivindicar dos poderes públicos o direito comum.
Qual foi, então, a reação dos católicos liberais diante dessa encíclica Immortale Dei, que proclamava que a Igreja, incumbida de ensinar a verdade revelada, deve gozar na sociedade de um estatuto privilegiado? Poder-se-ia esperar reclamações ou, no mínimo, uma atitude de consternação: pois bem, nada disso, o que foi posto em evidência foi o efeito apaziguador do texto do Santo Padre.
Em um congresso dos católicos da Normandia, realizado em Rouen, em 2 de dezembro de 1885, o arcebispo daquela cidade, falando da encíclica, dizia: "Nenhum católico jamais teve a audácia de insurgir-se contra os princípios que Leão XIII acaba de expor após Gregório XVI e Pio IX. Quem jamais ensinou a indiferença em matéria religiosa? Quem jamais reivindicou, como um direito, uma liberdade ilimitada e absoluta?" Em apoio a essas afirmações, Dom Thomas citava páginas de Lacordaire e de Dom Dupanloup sobre a liberdade política, sobre a igualdade cívica e sobre a liberdade de consciência, e tentava provar que o que eles haviam dito e feito estava ratificado por Leão XIII: "São todas essas declarações, todos esses sentimentos, todos esses conselhos que encontramos cobertos pela majestade do supremo pontificado na encíclica Immortale Dei."
Uma vintena de prelados felicitou Dom Thomas. Somente Dom Freppel, bispo de Angers, o repreendeu por "ter forçado a linguagem do Santo Padre a ponto de alterar-lhe o sentido". No início de janeiro de 1886, Dom Freppel recebeu de Roma, por intermédio da Nunciatura, uma monitória que o repreendia por ter criticado publicamente um de seus colegas superior a ele na hierarquia.
O padre Barbier observa com justa razão que, se Dom Dupanloup foi isento de liberalismo, dever-se-ia necessariamente dizer o mesmo de Montalembert, do duque de Broglie, do Sr. de Falloux e dos outros amigos com os quais o bispo de Orléans se encontrava em conformidade de opiniões e ações. Não haveria, portanto, católicos liberais, e Pio IX ter-se-ia voltado contra fantasmas.
2º Exemplo. A doutrina dita "americanismo" foi assim chamada por ter sido difundida por americanos: o padre Hecker, Dom O'Connell, Dom Keane, Dom Ireland. O padre Hecker dizia que era preciso preparar o mundo, pelo exemplo e pela influência moral, para o reinado universal da liberdade humana e dos direitos do homem. Três traços distinguem e caracterizam esse catolicismo americano: ele quer ser moderno, democrático e individualista; o acordo entre a cultura científica e a fé religiosa é a primeira condição para uma Igreja ser moderna e agir sobre a sociedade contemporânea, caminhando e simpatizando com ela.
Esse nome de americanismo não significa mais nada hoje; nem sequer se ouve mais pronunciá-lo. É que se trata de uma doutrina que não é mais específica da América, mas que, sob outro nome, se estende agora ao mundo inteiro e está em plena vigência: é mesmo ela que inspira toda a subversão atual, e o catolicismo oficial está totalmente impregnado dela.
O padre Barbier já dizia: "As máximas e o espírito do americanismo permaneceram erros religiosos e sociais... Religião de indiferença dogmática, o americanismo favoreceu uma anarquia doutrinal que foi se agravando durante vários anos; religião de liberdade individual, religião da evolução em todas as esferas, ele está no fundo de todas as variedades do modernismo e nutre seu veneno nas mentes; religião de vida interior à moda protestante, ele inspira o desdém pelas devoções honradas na Igreja; religião dos tempos novos e da democracia, religião de bem-estar, ele se torna a dos padres democratas e dos novos apóstolos leigos que trazem ao povo um evangelho terrestre. A continuação desta história oferece com demasiada facilidade a oportunidade de constatar quão profundas e vivazes são as raízes lançadas por esses erros no solo da França Católica."
Leão XIII condenou o americanismo por um julgamento em forma solene em sua carta ao Cardeal Gibbons, datada de 22 de janeiro de 1899; o Papa assinala primeiro o fundamento de todos os erros dessa doutrina, a adaptação da Igreja ao século: "Eles sustentam, de fato, que é oportuno, para conquistar o coração dos extraviados, silenciar certos pontos de doutrina, ou atenuá-los a ponto de não lhes deixar mais o sentido ao qual a Igreja sempre se manteve. Que se evite subtrair qualquer coisa da doutrina recebida de Deus, por qualquer motivo que seja, pois aquele que o fizesse tenderia mais a separar os católicos da Igreja do que a trazer de volta à Igreja aqueles que estão separados."
Leão XIII critica também uma consequência dessas doutrinas que ele acaba de condenar, aquela que consiste em pretender que as virtudes naturais são mais apropriadas ao tempo presente do que as virtudes sobrenaturais: "Em que a natureza, ajudada pela graça, seria mais fraca do que se fosse deixada às suas próprias forças?" Daí decorre ainda a distinção falsamente posta entre as virtudes passivas e ativas, e a importância especial dada a estas: "Não há virtudes cristãs mais apropriadas do que outras a certas épocas; Cristo não muda com os séculos, mas é o mesmo hoje que foi ontem e que será por todos os séculos."
Como esse documento pontifical seria acolhido? Dom Ireland apressou-se em endereçar ao Santo Padre uma carta de calorosa adesão, esquecendo que ele próprio havia saudado no padre Hecker, fundador do americanismo, "a joia do clero americano", "o tipo que deveríamos ver se reproduzir o máximo possível entre nós", e exclamava: "Não podemos deixar de nos indignar que tal injúria fosse feita à nossa nação ao designar com a palavra americanismo erros e extravagâncias desse tipo."
Na França, a "Vie catholique" de Dabry, a "Justice sociale" de Naudet, a "Quinzaine", publicações que professavam, contudo, doutrinas análogas, não se sentem concernidas pela sentença. Naudet escreve em 11 de março de 1900: "Leão XIII abstém-se de atribuir a nossos irmãos de além-oceano o conjunto que lhes é geralmente atribuído pela imaginação fecunda daqueles que pegam sua palavra de ordem nos escritórios da La Vérité." La Vérité era, nessa época, o jornal que combatia o Liberalismo.
Na "Vie catholique" de 21 de março de 1899, Dabry não fala de outra forma: "não há e não podia haver questão de submissão, já que neste assunto há apenas um venenoso processo de tendência."
Na "Quinzaine" de 1º de abril de 1899, podia-se ler: "Após a carta soberana endereçada por Sua Santidade Leão XIII ao Cardeal Gibbons sobre o Americanismo, os católicos simplesmente dóceis aos ensinamentos da Santa Sé simplesmente registraram a decisão de Roma. Não tinham que se submeter, pois nunca haviam contestado um iota dos pontos de doutrina recordados pelo Santo Padre, e a Quinzaine, em particular, que já há vários meses havia publicado sobre a questão considerações cujos equivalentes se encontram na carta pontifícia."
Indignado por este artigo, Dom Turinaz, bispo de Nancy, condenou-o, e foi aprovado por Dom Isoard, bispo de Annecy.
3º Exemplo. Um congresso de padres reuniu-se em Bourges, sob a direção de Dom Servonnet, arcebispo dessa cidade, em 10 de setembro de 1900.
O padre Lemire, deputado do Norte, falando dos trabalhos desse congresso, onde teve um papel importante, declarou: "Sinto uma aspiração geral do clero francês a se aproximar da sociedade moderna, a conformar sua linguagem, sua ação e seu próprio comportamento em meio aos costumes democráticos, às ideias modernas. Recebemos comunicações muito numerosas, e muitas delas notáveis, atestando uma inteligência que não se suspeita ou que foi desconhecida em nosso pequeno clero. Quase todos expõem um mesmo desejo: o de se libertar dos estudos puramente dogmáticos e dos ensinamentos tradicionais, de estudar livremente e com profundidade as doutrinas modernas, as obras essenciais que fundamentam o pensamento moderno e a ciência atual."
O padre Birot, vigário geral honorário de Albi, proferiu no congresso um discurso sobre o amor ao seu país e ao seu tempo, do qual a Semaine Religieuse de Bourges não hesitava em dizer que expressava o pensamento dominante dos participantes. L'Univers de 15 de setembro dizia, pela pena de seu correspondente: "Este admirável discurso, verdadeira obra-prima, não exageramos, de conteúdo e forma, produziu a mais profunda impressão." Dom Rumeau, bispo de Angers, deu uma apreciação muito elogiosa do Sr. Birot: "Vocês ouviram um belíssimo discurso, que aplaudiram e que não serei temerário em chamar de magistral."
O que, então, dissera o padre Birot? "A causa do mal-estar atual é que, embora amemos muito o nosso país, temos menos simpatia pelo nosso tempo. Senhores, não amamos o suficiente o nosso século, não compreendemos nem seus jovens entusiasmos, nem suas temeridades, não tivemos nem indulgência suficiente para suas faltas nem consideração suficiente para suas grandezas. Ele teve piedades infinitas, chorou sobre todos os infortúnios, revoltou-se contra todas as injustiças... Jamais o homem foi mais poderoso, ousarão nos acrescentar que jamais ele foi melhor. Ousaremos, senhores, para a glória de nosso Salvador e apesar do escândalo de alguns pusilânimes. Abrangemos com um olhar de conjunto toda a história e afirmamos que o coração da humanidade nunca parou de se engrandecer.
Enfim, senhores, é preciso amar as coisas do seu tempo, e por isso entendo as instituições e as obras. Não rememos contra a corrente, seria remar contra o próprio Deus, atrasaríamos a marcha do navio, chegaríamos atrasados, molhados e lamentáveis."
O Padre Belleville pediu explicações ao congresso sobre algumas das doutrinas emitidas; ele não teve a palavra, o presidente descartou a discussão que julgou inútil.
O padre Lemire, em conclusão, felicitou-se por o congresso ter-se mantido tranquilo e pacífico, sem que o governo ou a administração tivessem imposto qualquer entrave, e achou por bem atribuir a honra disso às instituições de seu país.
A isso, o jornal "La Vérité" replicou que, se o governo havia tolerado o congresso de Bourges, é porque o havia achado inofensivo de seu ponto de vista.
Os membros desse congresso tinham consciência de que sua admiração pelas obras dos homens de seu século, que desejavam organizar o universo ignorando Deus, seu temor profundo de que a nova torre de Babel se edificasse sem eles, não estavam na linha do catolicismo autêntico? Este último recomenda buscar antes de tudo o reino de Deus e sua justiça.
Não podemos responder à pergunta que acaba de ser feita, pois a única base que possuímos são as palavras do arcebispo Dom Servonnet: "Os trabalhos do congresso destinam-se unicamente a buscar os meios de aplicar à vida prática as instruções de Sua Santidade. O congresso é obrigado, para permanecer útil, a não ultrapassar, por uma palavra, uma linha, um pensamento, a ordem do chefe. Somos os membros mais devotados do clero."
Em 18 de setembro de 1900, Dom Isoard, bispo de Annecy, proferiu em sua diocese uma alocução onde fez a crítica precisa das doutrinas professadas no congresso. Dom Servonnet, arcebispo de Bourges, e Dom Fulbert-Petit, arcebispo de Besançon, levaram a alocução de seu colega ao julgamento de Roma; em 15 de janeiro de 1901, a Sagrada Congregação dos Bispos e dos Regulares declarou que lhe faltavam elementos para se pronunciar sobre os fatos. No entanto, Dom Isoard foi-lhe solicitado que apresentasse suas desculpas aos seus colegas que podiam considerar-se pessoalmente ofendidos pelo ataque do bispo de Annecy.
4º Exemplo. O padre Barbier combateu o Sillon em quatro obras: As Ideias do Sillon, Os Erros do Sillon, A Decadência do Sillon, O Sillon. Qual foi a resposta a isso?
O padre Desgranges escreveu um opúsculo, "As Verdadeiras Ideias do Sillon", destinado a responder ao padre Barbier. Ele sustenta que o Sillon não era liberal, o que é capaz de surpreender qualquer pessoa minimamente informada. O padre Desgranges chega a escrever: "Cem vezes Marc Sangnier, mais corajoso que certos conservadores que jogam o Syllabus pela borda, fez aclamar em reunião pública esta doutrina que é precisamente o contrário do liberalismo."
Aliás, o próprio Marc Sangnier não escreveu que: "mesmo aos olhos dos não-crentes, o Syllabus deve parecer um documento de grande bom senso."
Em resumo.
Desses quatro exemplos, resulta que o catolicismo liberal e revolucionário, embora em contradição formal com o magistério romano, nunca reconhece a existência de sequer uma sombra de desacordo com ele.
1º) - Se Roma fala e expõe uma doutrina contrária à deles, eles alegam que as afirmações e condenações provenientes da Santa Sé não os concernem. Foi o caso do Syllabus, da Immortale Dei, do Americanismo. Cada vez dizem que não são visados.
2º) - Se eles expõem uma opinião em contradição formal com o ensinamento doutrinal da Igreja, como foi o caso do congresso de Bourges, os católicos liberais alegam nunca se terem afastado do ponto de vista do magistério romano.
3º) - Se bispos, padres ou jornais, como Dom Freppel, Dom Isoard, o padre Barbier, ou o jornal "La Vérité", acham que devem se insurgir contra doutrinas subversivas, os católicos liberais os fazem passar por mal-intencionados e sectários que buscam queixas imaginárias.
4º) - Essa manobra geralmente tem sucesso. Não se pode deixar de ficar consternado ao ver como Dom Freppel, em um caso, e Dom Isoard, em outro, foram repreendidos pelos organismos oficiais da Santa Sé... em 1900! Em ambos os casos, foi por falta de respeito para com os superiores hierárquicos. O respeito pelas pessoas de alta dignidade está acima do respeito pela doutrina católica autêntica?
G.L.