A INFILTRAÇÃO MAÇÔNICA NA SOCIEDADE CRISTÃ
O problema que primeiramente se apresentou aos revolucionários para destruir a Sociedade cristã foi este:
"Como se infiltrar nesta sociedade e, pouco a pouco, destruir as suas estruturas políticas e sociais, e depois as suas convicções religiosas?"
Era preciso, portanto, primeiramente seduzir a opinião católica, fazendo-a absorver princípios destruidores apresentados como ideias nutritivas. Em seguida, era necessário afastar a desconfiança ou a hostilidade das autoridades políticas e religiosas (reis e papa), o que explica a política de sigilo e o respeito, ao menos aparente, pelas convicções cristãs. Era preciso substituir pacientemente, sem nunca o admitir, o pensamento cristão por um pensamento distorcido através de falsificações sucessivas, progressivas, mas imperceptíveis. Era preciso obter uma tolerância oficial para as lojas, organizando um recrutamento inicial falho, porque impregnado de mentalidade cristã, mas já apto a receber alguns germes novos.
Assim, a Constituição maçônica de Anderson afirma os princípios que quer destruir, mas já prepara as deformações. Ela proclama a existência de Deus e o respeito pela religião, mas declara-se filosófica e progressista. Afirma que o seu objetivo é "a busca da verdade e a liberdade de consciência"; uma contradição enorme: como buscar a verdade, se se devem respeitar todas as religiões? Como manter a liberdade de consciência, se se deve professar a existência de Deus? Começa-se a preparar as sucessivas ondas de assalto contra a Igreja Católica. A tolerância não pode ser combinada com o respeito por todas as religiões, visto que algumas são intolerantes. A busca da verdade pressupõe a supressão de todos os dogmas religiosos, pois são imutáveis e já constituem uma verdade adquirida. Os Papas condenam a Franco-Maçonaria? Com isso, manifestam a sua intolerância e a sua atitude provocadora.
A Franco-Maçonaria preparou também a cegueira dos poderes políticos. Precisava de criar uma fachada agradável e mundana para desviar toda a desconfiança e obter autorização para existir, condição absolutamente necessária para agir eficazmente sobre uma população profundamente cristã, cuja alma fora impregnada pela educação religiosa durante séculos.
A Franco-Maçonaria é uma Sociedade de Educação Revolucionária.
Não era possível para os dirigentes dar ordens diretamente e exigir obediência sem se revelarem e se tornarem vulneráveis. Era preciso, portanto, proceder de outra forma.
Dentre a massa de membros das lojas, era preciso fazer uma seleção: os homens honestos e pacíficos vão se autoeliminando aos poucos, seja por aversão aos ritos bizarros ou estúpidos, seja por indiferença: a porta de saída está escancarada. Bastava escutar um ensinamento mais inquietante para provocar a saída dos iniciados que permaneciam relativamente honestos: esta é uma primeira forma de depuração, quando a F.-M. prepara uma ação mais fortemente revolucionária. As saídas são compensadas por novos recrutas. Restam os ambiciosos, os descontentes; basta reforçar um ensinamento mais "filosófico, progressista e iluminado".
Resta-lhes a velha crença de que trabalham em prol do progresso da humanidade, que são os campeões de uma nova ordem, finalmente libertos das velhas virtudes rotineiras.
Os dirigentes maçônicos utilizam dois métodos notáveis para obter essa educação revolucionária:
a) A dupla hierarquia: uma hierarquia administrativa oficial que mantém um aparelho institucional relativamente antigo, e uma hierarquia secreta: a dos altos graus, na qual os iniciados não são eleitos pela base, mas cooptados pelos graus superiores. Os cargos administrativos eleitos são renovados anual e democraticamente: são a própria imagem dos nossos governos modernos. Os altos graus são obtidos por uma seleção rigorosa dos mais convictos e são conferidos vitaliciamente.
b) Os "círculos internos", onde se pratica a dinâmica de grupo. Em cada oficina, há um pequeno número de membros, cerca de vinte; há uma circulação livre e frequente dos altos graus durante as sessões das oficinas, que decorrem sempre segundo um rito de caráter religioso para impor, mesmo aos céticos, um certo temor respeitoso. Ora, antes da sessão de uma oficina, os altos graus reuniram-se entre si; definiram a direção dos debates, as ideias dominantes a serem introduzidas nas mentes e a serem adotadas. Encontram-se dois ou três deles no meio da massa de irmãos não iniciados; não têm ordens ou instruções para dar. Sugerem, propõem as fórmulas e as decisões. Os outros irmãos, não iniciados nos graus superiores, acreditam ter chegado espontaneamente às decisões que tomam. É a "dinâmica de grupo".
Eis as ideias essenciais que permanecerão nas mentes dos simples irmãos: a F.-M. é sagrada, a sua origem perde-se na noite dos tempos. O seu simbolismo é obscuro, equívoco, mas a lenda de Hiram permite inverter o sentido da Bíblia: Caim, odiosamente caluniado, vítima do ciúme de Abel, ancestral de todos os grandes inventores da história, pai da "Civilização, do Progresso e das Luzes".
A tolerância é a grande virtude do irmão iniciado: chegou-se a suprimir o G.A.D.U. (Grande Arquiteto do Universo) para não ferir a consciência daqueles que não acreditam na existência de Deus. Entre todas as opiniões que se confrontam, o irmão pode defender umas, mas deve aceitar a vizinhança das outras e respeitá-las.
Esta tolerância é pregada com fanatismo; irmãos moderados são denunciados pela sua brandura perante a intolerância, pela sua falta de ardor em pregar a Tolerância. Assim, os homens mais dóceis tornar-se-ão pouco a pouco fanáticos; esta ideia de Tolerância deve ser uma arma incessantemente voltada contra a Igreja intolerante. Respeita-se o cristão "sincero", o cristão "esclarecido", mas fustiga-se o cristão fechado em seu dogma, incapaz de abrir o seu espírito às "luzes" da nova sociedade, "o integrista", em suma. Portanto, o inimigo a ser abatido. E eis que o irmão está pronto para passar à ação. A sua educação revolucionária está praticamente concluída.
A Franco-Maçonaria é uma Escola de Preparação para a Ação.
Após cinquenta anos dessa educação, é preciso passar à ação. Com efeito, ao longo de uma primeira geração de iniciados, uma notável seleção pôde ser operada. Na geração seguinte, a maioria dos iniciados está finalmente preparada o suficiente para o "Ódio" à civilização cristã e à Fé católica, para que se possa esperar uma revolução com alguma chance de sucesso e sem demasiados tumultos, levantes ou oposições dentro da Sociedade maçônica.
Chega o dia D, o da Revolução. Os homens estão prontos. A F.-M. terminou a sua obra educativa. Entra "em adormecimento". Escapa assim às consequências do Fracasso, se houver. Os irmãos constituem Sociedades de ação revolucionária: os Jacobinos, os Teofilantropistas, a Carbonária, a Liga do Ensino, a Hetéria grega, os Fenianos irlandeses, os "Jovens Turcos". Restam circulares confidenciais, "influências individuais cuidadosamente veladas" para lembrar aos irmãos hesitantes o que se espera deles.
No momento da passagem para a ação revolucionária, uma multidão de irmãos abre os olhos: os princípios inculcados levam, afinal, a isto, que não se queria. Segue-se a fuga dos irmãos desiludidos. Ficarão apenas os violentos, os ambiciosos. A última depuração está concluída. A Revolução estará nas mãos dos "puros", dos espíritos completamente iluminados. Enfim, "a Infame" vai ser abatida.
A Franco-Maçonaria é uma "Contra-Igreja" camuflada.
Existe nos Altos Graus o de Rosa-Cruz, o 18º. O iniciado que finalmente passou por este grau está necessariamente prisioneiro do seu ódio contra a Igreja Católica.
Como provocar esse ódio antirreligioso? Fazendo o iniciado praticar gestos e pronunciar palavras diante de testemunhas que possam revoltar qualquer homem honesto e de boa-fé. Nesse momento, o iniciado é prisioneiro do que acabou de fazer; ele é "controlado" pelos outros iniciados, testemunhas definitivas da profanação. O ritual de iniciação ao Grau de Rosa-Cruz é uma odiosa profanação da Santa Missa. Inclui um sinal de ordem chamado do "Bom Pastor", uma senha "Emmanuel" à qual se responde "Pax Vobis". Depois, desenrola-se a "Ceia" rosacruz: pão e vinho sobre a mesa.
O Mestre de Cerimônias declara: "que este pão nos mantenha em força e em saúde", e depois "que este vinho, símbolo da Inteligência, eleve o nosso espírito". Em seguida: "Tomai e comei, dai de comer a quem tem fome". "Tomai e bebei, dai de beber a quem tem sede". Por fim: "Tudo está consumado. Retiremo-nos em paz..."
O texto maçônico diz:
"O Cavaleiro Rosa-Cruz é um apóstolo. O seu apostolado ordena-lhe que coloque o Amor pela Humanidade, levado ao extremo sacrifício, no frontispício da Obra que ele persegue... Um histórico, mesmo que breve, da Cruz, cuja origem se perde na noite dos tempos... O ponto crucial assim determinado (pela Cruz) é o eixo da Roda Universal das Coisas, gerada pela Revolução da Cruz, autora do ponto de interseção dos seus ramos, imagem da Evolução do Grande Fim... Lugar de encontro das forças extremas ou opostas; este ponto crucial é também o Mediador, e é bastante curioso notar que o nome egípcio desse Mediador é 'Kryst', que significa 'O Possuidor do Segredo... etc...".
Após uma tal iniciação e uma tal profanação da Santa Missa, pode-se imaginar o estado de espírito de um bispo maçom celebrando o ofício religioso. Poderia ser, por exemplo, o Ir∴ Talleyrand, para não citar alguns bispos ou cardeais mais recentes...
Enfim, para terminar esta apresentação sucinta da F.-M., julgamos muito útil publicar um documento antigo, que escapou à atenção dos editores da "Diffusion de la Pensée Française" quando reeditaram as "Mémoires pour servir à l'Histoire du Jacobinisme" do Abade Barruel.
E.C.