VOUILLE
E para que a medida das ATENÇÕES DIVINAS transborde, Deus ainda confirmou Sua predileção a Clóvis, por ocasião da Batalha de VOUILLE.
Chegamos aos anos 506-507 de nossa era. Faz 14 anos que Clóvis desposou Santa Clotilde. Faz 10 anos que foi sagrado Rei em REIMS. Clóvis vai incessantemente empreender a campanha contra os VISIGODOS arianos que detêm o Languedoc, a Aquitânia e o Norte da Espanha. A Gália inteira está convencida de que a campanha contra o poderoso exército VISIGODO constituirá um grande desafio.
Toda a catolicidade da Gália mantém-se numa espera mesclada de ansiedade. Pois do resultado do confronto dependerá a paz religiosa da Cristandade. O Ocidente será ARIANO se os Visigodos vencerem; permanecerá católico ortodoxo se for Clóvis quem ganhar. Ora, eis que Clóvis adoece, gravemente doente. Seu estado piora. Os médicos renunciam a curá-lo. O casal real apela então a São Severino. E é aí que reencontramos São MAURÍCIO, ilustre general cristão. Pois São Severino é Abadepadre do Mosteiro de Agaune (Valais) no local da famosa DECIMAÇÃO. São Severino tem a reputação de um taumaturgo a quem se podem confiar os casos desesperados. Assim que é avisado, São Severino põe-se a caminho. Mal chega, o santo Taumaturgo deposita com precaução seu manto sobre Clóvis doente e lhe restitui imediatamente a saúde. Eis um PRIMEIRO sintoma que mostra que Deus não abandonou seu LUGAR-TENENTE TEMPORAL. Clóvis restabelecido, põe em movimento o exército FRANCO que ele bem preparara material e espiritualmente. Ele vem da Ile-de-France e dirige-se para Tours com vista a atravessar o Loire e passar para a margem Sul, para ir ao encontro de Alarico II Rei dos Visigodos, que vem da Aquitânia e sobe em direção ao Norte. Tours é a cidade de São Martinho, o Apóstolo das Gálias, que morreu há pouco mais de um século. Clóvis projeta ir à catedral para recomendar sua campanha ao santo e poderoso padroeiro da diocese. Faz-se preceder por uma delegação de oficiais que levará alguns presentes ao clero e anunciará sua visita. Os delegados, não querendo perturbar o ofício que está em curso, param no fundo da nave e prestam atenção à salmodia. Ora, eles ouvem cantar o versículo 40 do Salmo 17 (Salmo 18 na numeração hebraica/moderna), cuja tradução é: "Vós me revestistes de força para a guerra e suplantastes sob mim aqueles que se elevavam contra mim. "Fizestes meus inimigos darem as costas e dispersastes aqueles que me odiavam". Clóvis, a quem se relata o fato, considera que o canto deste versículo, naquele preciso momento, é a resposta de São Martinho ao seu pedido de PROTEÇÃO.
Os Francos já deixaram Tours. Atravessaram o Loire e encontram-se na margem sul do rio. Após terem atravessado o Vienne, o exército acampa a 7 léguas a oeste de Poitiers. Ao cair da noite, eis que um globo de fogo (uma espécie de sol) se eleva do túmulo de Santo Hilário, morto há 140 anos, Santo Hilário, doutor da Igreja. E este globo de fogo, este sol como dizem alguns textos, vem pousar no topo da tenda de Clóvis. O grande doutor gaulês, que São Jerônimo chamava "o Ródano da eloquência latina", manifestava também ele seu encorajamento a Clóvis, por um SOL, que é precisamente o emblema dos DOUTORES porque a DOUTRINA ILUMINA a inteligência.
A rota de Clóvis para as planícies de VOUILLE foi assim marcada por sinais sobrenaturais aos quais, naturalmente, a história oficial não atribui nenhuma espécie de importância, mas que são, para quem crê, sinais muito autênticos de favor divino.
O ENCONTRO dos dois exércitos produziu-se no lugar chamado VOCLADES (hoje Vouillé), o que significa: "Carnificina de Godo". VO = Godo, CLADES = derrota. A História não conservou nenhuma anotação precisa sobre as diversas fases desta batalha. Parece apenas que o assunto foi resolvido bastante rapidamente. Os dois Reis inimigos estavam presentes ambos no campo de batalha e comandavam suas tropas. Clóvis identificou rapidamente o pelotão que escoltava Alarico II. Ele estimou que sua posição no momento tornava o Rei Visigodo bastante vulnerável (talvez porque se encontrasse em nível inferior). Clóvis dirigiu-se diretamente a ele com sua própria escolta e o enfrentou pessoalmente. Combate singular de dois Reis em plena batalha. Clóvis dominou Alarico II e o matou com sua própria mão, conquistando assim o DESPOJO OPIMO de seu adversário. A morte de Alarico II, que ocorreu no início do confronto, foi rapidamente conhecida por todo o exército visigodo. A notícia provocou hesitações nas fileiras, depois, pouco a pouco, uma verdadeira debandada, conforme o versículo 40 do Salmo 17 (18) que fora cantado pelos clérigos na passagem por Tours: "Fizestes meus inimigos darem as costas e dispersastes aqueles que me odiavam".
A Vitória de Vouillé abriu a porta da AQUITAINE a Clóvis. Ela se somou à vitória de Soissons sobre Siágrio, de Tolbiac sobre os Alamanos, de Dijon, um pouco mais tarde, sobre os Burgundios.
Assim, o primeiro Rei Franco, num só Reinado, em poucos anos traçou as fronteiras naturais de seu Reino.
A Gália está doravante liberta da autoridade romana que, após ter sido tão útil, tornara-se pesada. Ela não tem mais a temer nem os invasores vindos da Germânia, desde então contidos a Leste do Reno, nem a retomada das DISCÓRDIAS ARIANAS.
É tempo, para ela, de tomar o NOME de seu Rei como uma esposa toma o NOME de seu esposo e de se chamar FRANÇA.
Observemos a diferença entre a conquista da Gália por César e a conquista da Gália por Clóvis. César havia conquistado a Gália combatendo-a. Clóvis conquistou a Gália libertando-a (em nenhum momento a combateu), LIBERTANDO-A (AFFRANCHISSANT). Clóvis definia assim a VOCAÇÃO da França que é de LIBERTAR (AFFRANCHIR). A França deu o exemplo típico de sua vocação à LIBERTAÇÃO ao LIBERTAR Jerusalém do jugo dos Infiéis em 1099 (tomada de Jerusalém por Godofredo de Bulhão).