Introdução
Aquele que se der ao trabalho de fazer uma leitura aprofundada do livro do professor Borella: "A Caridade Profanada" (edições du Cèdre, Paris 1979), ainda que admire sua erudição e acuidade intelectual, deve, no entanto, reprovar os erros de sua gnose, que são verdadeiras heresias, embora muito sutis, pois estão entrelaçadas no belo quadro dos Padres da Igreja e de outros santos Doutores.
A gnose leva o professor Borella a formular heresias relativas ao pecado original, à divindade do espírito do homem, às exigências do sobrenatural, à visão beatífica, à ordem sobrenatural e à graça.
Para Borella, como para todos os gnósticos, tudo o que no homem está acima da natureza psíquica, ou seja, o espírito, pertence ao divino e ao sobrenatural; esse é o erro fundamental da gnose e a origem de todas as suas heresias.
Borella afirma:
"O homem é então, por natureza, alma vivente, e é essa natureza atual que ele transmite aos seus descendentes, tudo o que ultrapassa essa natureza psíquica pertencendo à sobrenatureza" (p. 118).
Segundo a antropologia de Aristóteles, assimilada pela Igreja Católica graças a São Tomás de Aquino, o homem é composto por dois princípios substanciais: a alma e o corpo. A alma exerce uma função animal de animar o corpo e uma função espiritual pela qual ela pertence ao mundo dos espíritos, como fazem os anjos.
A antropologia tripartite do platonismo de São Paulo, dos Padres gregos, etc., considera que há três elementos no homem: o corpo, a alma (psique) e o espírito (pneuma). Ela é conciliável com a doutrina tomista se unirmos a psique e o pneuma em uma só realidade, a alma.
A Igreja, como veremos, condenou em 1312 o tripartismo quando ele rompe a unidade da alma humana em dois princípios distintos, a psique e o pneuma. A Igreja considera que é a alma toda, e não apenas a "psique", que é a "forma" do corpo; essa verdade filosófica deve ser afirmada se quisermos justificar a unidade do ser humano e a conveniência da ressurreição dos corpos, reunidos novamente ao seu espírito, e se quisermos evitar os erros gnósticos.
Ora, o professor Borella professa o tripartismo:
"o homem é composto de três substâncias: o corpo, a alma e o espírito" (p. 167).
De tal forma que o corpo corresponde ao sôma, a alma à psique e o espírito ao pneuma. Esse espírito (ou pneuma), que se encontra na essência da alma, é divino; eis o erro gnóstico.