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Capítulo IV. Origem filosófica dessas heresias

Identificamos duas fontes filosóficas envenenadas das ideias do professor Borella: seu nomismo metafísico e seu ontologismo.

O monismo metafísico do Sr. Borella é entitativo; ele se situa na ordem do esse (ser), como o monismo de Mestre Eckhart; não é um monismo grosseiro no nível da natureza ou da essência, mas no nível do ato de ser. Mestre Eckhart caiu nesse erro, pois para ele há apenas um único esse, o de Deus (o esse divino). Cada coisa recebe sua própria natureza e essência, mas o ser lhe vem de Deus como por emanação. A esse respeito, pode-se consultar "Participação e Causalidade" (Paris, 1961), do Padre Fabro, que explica o erro de Eckhart e de seu panteísmo. Limitaremo-nos apenas a algumas citações.

"O esse na criatura é outro em relação à essência, mas não em relação ao esse divino" (op. cit. p. 586), afirma Eckhart. "Na concepção de Eckhart (Avicena), o esse é a formalidade suprema, possuída totalmente por Deus, e que abarca as coisas como um fluxo, uma luz, o éter" (Ibid., p. 587). "Para ser exato, é preciso dizer que o esse e a essentia em Eckhart não são de forma alguma o esse e a essentia tomistas, pois Eckhart só reconhece um único ato verdadeiro, Deus, enquanto para São Tomás cada criatura possui seu próprio ato formal (a essentia) e seu próprio ato real (o esse - actus essendi)" (Ibid., p. 587). "Assim, o esse, que é Deus, está igualmente em todas as coisas" (Ibid., p. 587), diz Eckhart. "Na exata medida em que o ser humano adquire uma consciência ontológica do dom do ser, ele deixa o Ser divino fluir nele" (p. 419).

Borella se deleita em Eckhart: ele considera que realizou a síntese entre o tomismo e o agostinianismo (cf. p. 131), o que é falso. Como observa o Padre Meinvielle:

"São Tomás produziu uma síntese inédita onde culmina todo o pensamento anterior e a realização mais grandiosa do pensamento cristão." ("Da Cabala ao Progressismo", ed. Calchaqui, Salta, 1970, p. 201).

São Tomás sintetiza assim toda a filosofia de seu tempo, tanto o pensamento grego (Platão e Aristóteles) quanto o dos Padres da Igreja, e por essa razão é chamado de Doutor Comum da Igreja Católica (Doctor communis).

Mestre Eckhart, a quem Borella admira e cuja doutrina segue, foi condenado por seus erros; seu ensino contém 17 proposições heréticas e 11 proposições suspeitas de heresia (Ds. 979), que são a consequência direta de sua gnose.

O entendimento ou intelecto do qual o professor Borella tanto fala não é nada mais do que o de seu mestre Eckhart, que foi condenado como uma heresia:

"Algo existe na alma que é incriado e incriável; se toda a alma fosse tal, seria incriada e incriável, e isso é o intelecto" (Erro de Mestre Eckhart: Ds. 977).

É por isso que Borella diz que:

"O intelecto é, segundo a expressão de F. Schuon, naturalmente sobrenatural. Ele testemunha, no próprio homem, algo que ultrapassa tudo o que encontramos até agora, e particularmente os limites de nossa natureza individual" (p. 130).

Segundo a gnose, nosso ser espiritual (espírito ou pneuma) é de origem divina, é como um raio da divindade recebido individualmente em cada natureza (corpo e alma), daí a tripartição antropológica da gnose: espírito, alma e corpo. O espírito, afirma Borella, não pode ser conhecido de maneira natural:

"Na realidade, não temos, na ordem da natureza, uma verdadeira consciência de nosso ser espiritual" (p. 130).

Entra em cena curiosamente o pecado original, intelectualizado, como vimos, pelo professor Borella. O espírito só pode ser entrevisto pela atividade intelectual, mas só pode ser verdadeiramente conhecido através da gnose, devido à queda original que mergulhou o espírito na materialidade individual:

"A esfera pneumática não mais envolve as esferas anímica e corporal... o pecado original é a causa de uma segunda descida cósmica, ao nível do corporal" (p. 117); "A ingestão pecaminosa do fruto proibido opera a inversão da estrutura antropológica" (p. 145), "Desde então, a vida, ou seja, a comunicação com o espírito, está perdida. Resta apenas o conhecimento teórico" (p. 146). Segundo a gnose, antes do pecado original, o homem (o Adão primitivo) é tal que podemos figurá-lo sob a forma de uma esfera, a do espírito, que compreende em si uma outra esfera menor, a do psiquismo, encerrada em um ponto, centro das duas esferas anteriores, e correspondente ao corpo" (p. 117).

Após o pecado original, a condição do homem se inverteu:

"...a ordem das esferas antropológicas está, portanto, invertida; a esfera corporal envolve a esfera anímica, que por sua vez envolve a esfera pneumática" (p. 118).

O espírito minimizado é assim reduzido à sua mais simples expressão, mas não destruído, de tal forma que o homem não perde sua forma divina: o espírito.

"A dimensão espiritual do homem, que o envolvia como uma aura de glória, isto é, que irradiava a deiformidade de sua natureza, esta dimensão não desapareceu; ela está reduzida a uma marca pontual, portanto a um germe ou ainda ao estado virtual: o homem não possui mais a atualidade disso (será necessária a vinda de Cristo para abrir a porta do nosso céu interior)" (p. 118).

As heresias do professor Borella atingem aqui seu ápice, na deformação da obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este não faz nada além de revelar a divindade interior do homem, assim como diria João Paulo II:

"O Cristo... manifesta plenamente o homem ao homem" (Veritatis splendor, Nº 2).

Esta é a trajetória do Vaticano II, seguida por João Paulo II:

"O Concílio Vaticano II, em sua análise penetrante 'do mundo contemporâneo', atinge o ponto mais importante do mundo visível: o homem, ao descer, como Cristo, às profundezas das consciências humanas, chegando até o mistério interior do homem" (Redemptor hominis, Nº 8).

O ontologismo é a segunda fonte filosófica envenenada da qual o professor Borella se nutre. O ontologismo de sua gnose é evidente; seu erro consiste na ideia inata do ser infinito ou absoluto (Deus), ou seja, a ideia de que o homem tem a intuição radical e primeira da ideia de Deus. O ontologismo é um erro metafísico grave, assim como um erro teológico que destrói o caráter sobrenatural da visão beatífica ou intuição de Deus.

O ontologismo é um erro que foi explicitamente condenado pela Igreja:

"immediata Dei cognitio, habitualis saltem, intellectui humano essentialis est, ita ut sine ea nihil cognoscere possit: siquidem est ipsum lumen intellectuale" (Erros dos Ontologistas: "1. Um conhecimento imediato de Deus, pelo menos habitual, é essencial à inteligência humana, de tal forma que ela não pode conhecer nada sem ele: esse conhecimento é a própria luz do intelecto." Ds. 2841).

"Esse illus, quod in omnibus et sine quo nihil intelligimus, est esse divinum" ("2. Esse ser que conhecemos em todas as coisas e sem o qual não conhecemos nada é o ser divino." Ds. 2842).

"Universalia a parte rei considerata a Deo realiter non distinguuntur" ("3. Os universais, na sua realidade objetiva, não se distinguem realmente de Deus." Ds. 2843).

"Res creatæ sunt in Deo tamquam pars in toto, non quidem in toto formali, sed in toto infinito, simplicissimo, quod suas quasi partes absque ulla sui divisione et diminutione extra se ponit" ("4. As coisas criadas estão em Deus como a parte no todo, não certamente no todo formal, mas no todo infinito, perfeitíssimo, que coloca fora de si suas quase-partes, sem nenhuma divisão ou diminuição de si mesmo." Ds. 2846).

Que não nos digam que o senhor Borella não professa esses erros; para nos convencermos disso, basta lembrar algumas de suas afirmações:

"Dissemos que o conhecimento, ato do intelecto, era percepção direta e unitiva do ser" (p. 124). "Ora, em última instância, o ser é Deus. Sob esse aspecto, todo conhecimento é conhecimento de Deus" (p. 406).

O ontologismo de Borella é manifesto; não há como escapar disso.  Convém, portanto, lembrar que Rosmini foi condenado em 1887 pelo mesmo erro:

"In ordine rerum creatarum immediate manifestatur humano intellectui aliquid divini in se ipso, huiusmodi nempe, quod ad divinam naturam pertineat" (Erros de Rosmini: "1. Na ordem das coisas criadas, manifesta-se imediatamente à inteligência humana algo de divino em si, tal que pertence à natureza divina." Ds. 3201).

"Esse, quod homo intuetur, necesse est, ut sit aliquid entis necessarii et œterni, causœ creantis, determinantis ac finientis omnium entium contingentium: atque hoc est Deus" ("5. O ser, objeto da intuição do homem, é necessariamente algo do ser necessário e eterno, da causa criadora, determinante e final de todos os seres contingentes: e isso é Deus." Ds. 3205).

Há outros erros pelos quais Rosmini foi condenado; eles têm uma semelhança com os erros do professor Borella e do Mestre Eckhart, que faz pensar em uma mesma causa, a gnose:

"In natura igitur universi, id est in intelligentiis, quæ in ipso sunt, aliquid est, cui convenit denominatio divini non sensu figurato, sed proprio; est actualitas non distincta a reliquo actualitatis divinæ" ("Portanto, na natureza do universo, isto é, dos seres inteligentes que nele estão, há algo ao qual convém a denominação de 'divino', não no sentido figurado, mas próprio; uma atualidade não distinta do restante da atividade divina." Ds. 3203).

"Entia finita, quibus componitur mundus, resultant ex duobus elementis, id est, ex termino reali finito et ex esse initiali, quod eidem termino tribuit formam entis" ("Os seres finitos dos quais se compõe o mundo resultam de dois elementos, a saber, de um termo real e finito e do ser inicial que dá a forma de ser a esse mesmo termo." Ds. 3208).

"A distinção entre o ser absoluto e o ser relativo não é aquela que intervém entre substância e substância, mas é muito maior. Com efeito, o primeiro é absolutamente ser, o segundo é absolutamente não ser; mas este último é relativamente ser. Ora, quando se considera um ser relativo, não se multiplica o ser absolutamente; portanto, falando absolutamente, o absoluto e o relativo não são uma única substância, mas um único ser; e, nesse sentido, não há nenhuma diversidade de ser, ao contrário, há uma unidade de ser." (Ds. 3213).

"Deus faz uma única coisa ao criar, que é colocar integralmente todo o ato de ser das criaturas: portanto, esse ato não é propriamente feito, mas colocado." (Ds. 3217).

O fundamento da doutrina desses erros condenados é o mesmo que o de Borella e do Mestre Eckhart: é a gnose.