Capítulo III. Heresia sobre a visão beatífica
Encontramos outra heresia no professor Borella quando ele equipara a visão beatífica à contemplação de si mesmo; uma vez que nosso intelecto é deificado pela gnose:
"Para o intelecto deificado, contemplar a Santíssima Trindade é contemplar a si mesmo. A ousadia desta formulação parecerá sem dúvida excessiva" (p. 404).
Não é apenas ousado até a heresia afirmar tal coisa. É o cúmulo do narcisismo e é diabolicamente rebuscado. Assim, para o bem-aventurado, contemplar a Santíssima Trindade é contemplar a si mesmo! Para afirmar tal barbaridade, é preciso ser iluminado por Lúcifer.
Na gnose, a visão beatífica é sutilmente deformada; a visão beatífica consiste em ver a essência de Deus e não em nos contemplarmos a nós mesmos em Deus, como afirma o professor Borella. Podemos nos perguntar como tal erro é possível. Obteremos a resposta na explicação do próprio Borella:
"A gnose, de fato, é o conhecimento perfeito onde o sujeito conhecedor está totalmente unido ao objeto conhecido, porque, conhecendo como é conhecido, o conhecimento que ele tem de Deus e o conhecimento que Deus tem dele são um único e mesmo conhecimento" (p. 394).
Realmente, é preciso ser obstinado na fantasia do erro, incapaz de receber a luz, para não perceber tal barbaridade, comparável apenas ao orgulho satânico querendo ser igual a Deus.
O autor atinge o cúmulo da heresia e da aberração ao identificar a visão da Santíssima Trindade com a visão da essência do homem. Isso não pode ter outra origem senão a inspiração diabólica que, disfarçando-se de anjo de luz, espalha o reino do erro e das trevas, dizendo:
"Nós o vimos, e São Evágrio o repete incansavelmente, apenas o intelecto, e o intelecto perfeitamente despojado, é capaz de ver a Trindade. Mas é ainda preferível dizer que tal intelecto é 'vidente da Santíssima Trindade', ou seja, que esta visão é sua própria essência" (p. 405).
Pobre São Evágrio! citado para creditar, por sua santidade, a gnose demoníaca; pois segundo a gnose do professor Borella, é isso a visão beatífica! Em sua obra, ele se permite recapitular esta teoria da seguinte maneira:
"Retomando os termos de nosso estudo, diremos que a obra própria da caridade é pneumatizar o intelecto, e que a pneumatização do intelecto o torna capaz de receber o dom da sabedoria ou da gnose. Ora, o dom da sabedoria, na medida em que é perfeitamente atualizado pela criatura, corresponde nela ao estado de deificação" (p. 410).
São Paulo também não escapa à reinterpretação! Coitado dele! O professor Borella o agarra para reafirmar sua heresia sobre a deificação do homem segundo a gnose:
"A palavra de São Paulo significa apenas isto: nossa deificação é uma consequência do conhecimento que Deus tem de nosso ser; ou ainda: ser deificados, tornar-se conformes à imagem do Filho - conformes fieri imaginis Filii - é identificar-se ao conhecimento que Deus tem de nós desde toda a eternidade: a gnose eterna que Deus tem de nós é nossa deificação" (p. 411).
Em sua linguagem gnóstica, Borella identifica deificação com visão da essência do homem.
E para concluir, o professor Borella não se contém no desdobramento de sua erudição gnóstica, que se alimenta, entre outras coisas, além da cabala, do hinduísmo, ao qual ele se refere para reafirmar:
"o intelecto nu é aquele que é consumido na visão de si mesmo e que mereceu comungar com a contemplação da Santíssima Trindade" (p. 405).
A explicação aberrante de um erro e heresia semelhantes se encontra na recusa, pela gnose, da analogia entre o intelecto criado (humano) e o intelecto incriado (de Deus). A gnose substitui o que é apenas uma analogia por uma univocidade, uma identidade de natureza; o intelecto humano se identifica com seu protótipo divino:
"O intelecto, dizemos, se identifica com sua natureza sobrenatural, seu protótipo 'in divinis'" (p. 405).
A consequência dessa univocidade é uma concepção errônea da visão beatífica de Deus pelos bem-aventurados do céu, que é um dos mistérios mais elevados da ciência espiritual e é pervertido pela gnose. O salmo 35, versículo 10, diz "In lumine tuo videbimus Lumen", "em tua luz veremos a Luz"; o que os Pais interpretam como uma luz criada por Deus que eleva a inteligência dos bem-aventurados e lhes permite aplicar sua inteligência à essência divina que é Luz incriada, sem serem cegados por ela.
O professor Borella, por sua vez, afirma erroneamente que "Deus só pode ser visto por Ele mesmo, vendo-se em Sua própria luz" (p. 406). Com isso, fica claro que, segundo a gnose, o intelecto do homem que vê Deus face a face é o intelecto divino; o próprio intelecto de Deus, pois, se não fosse assim, ele não poderia ver Deus.
A explicação desta concepção enraíza-se principalmente na seguinte alegação:
"Todo conhecimento é conhecimento do que é. Portanto, é ao mesmo tempo discernimento do ser e do nada, do real e do ilusório. Ora, em última instância, o ser é Deus" (p. 406).
Aqui se revela plenamente o monismo metafísico de Borella. Dizer que o ser, em última instância, é Deus, é apagar de um traço de pena a distinção metafísica entre o Ser de Deus e o ser das criaturas que constituem o universo. Uma coisa é o Ser em plenitude ou Plenitude do Ser (o ipsum esse subsistens, o ser subsistente por si mesmo) que é Deus, o "Ens per essentiam", e outra coisa são os seres criados que são seres por participação, "ens per participationem" [3]. Portanto, o conhecimento não se reduz a Deus, pois em primeiro lugar, naturalmente, conhecemos as coisas. Mais precisamente, conhecemos os seres sensíveis, todas as coisas que vemos, e a partir delas, chegamos naturalmente a um certo conhecimento de Deus. Estas são as "cinco vias" de São Tomás de Aquino para provar a existência de Deus e descobrir suas principais perfeições a partir da realidade criada: "ad invisibilia per visibilia". Deus não é evidente; é por essa razão que Ele é objeto de demonstração, como ensina a Igreja (Ds. 2812, 3538, 3892). O conhecimento de Deus não é intuitivo, nem a priori (como pretendem a gnose e o ontologismo), mas demonstrativo e a posteriori (Ds 3622).